O faixa preta 4 Dan Rodolfo Weber Zanin, que acompanha a parte nutricional e há quase oito anos, toda a evolução da “Menina de Ouro” do octógono prudentino, Ariane “Sorriso” Carnelossi, está ansioso com a estreia da lutadora, no dia 21 deste mês, no México. No entanto, para a nossa alegria mais que ansiedade, o sensei está convicto de que a nova atleta do UFC (Ultimate Fighting Championship) vai surpreender e trazer essa vitória para Presidente Prudente e para o Brasil. Na segunda-feira, ele embarca para finalizar a preparação da atleta, mas antes disso, juntamente com o também faixa preta 4 Dan e delegado regional, André Costa Gonçalves, acompanha os judocas da Associação de Judô Fênix, Lucas Porto Rodrigues, faixa marrom e Isabella Kuroce Manzini, faixa roxa, no Campeonato Paulista Estudantil de Judô em São Bernardo do Campo (SP), na categoria sub-18.
O Imparcial - Rodolfo, a pergunta que não quer calar: como está o coração para a estreia da Sorriso? Há quanto tempo você acompanha a nossa “Menina de Ouro”?
Olha, estou muito confiante mesmo! Podemos dizer que somos amigos e parceiros da equipe Inside Hugo Gonçalves - Centro de Treinamento de Artes Marciais e Lutas, faz tempo! Praticamente, desde que ela começou a treinar com o Hugo. Na época, em suas duas primeiras lutas de MMA, que inclusive, vencemos, fiz a preparação física dela e a parte de nutrição. Então, por isso, afirmo que acompanhei toda evolução da Sorriso. Ela é uma menina de ouro que tem muita garra, gana de vencer. Quando foi para estrear, no Uruguai [e infelizmente não aconteceu porque sua oponente lesionou], ela já estava totalmente preparada, extremamente focada.
Deram atenção mais especial em algo específico para esta (re)estreia?
Para esta (re)estreia, focamos bastante no treinamento de força porque é uma característica marcante dela. A Sorriso é muito forte! Então trabalhamos para aumentar ainda mais essa força. Depois passamos para a parte de treinamento de potência e resistência, que é o que ela vai usar na luta. Com esse preparo, garanto que em caso de o combate ir para os três rounds, fisicamente e psicologicamente ela está totalmente preparada, porque conseguimos trabalhar as três valências que são: força, potência e resistência. Ou seja, o condicionamento físico dela está perfeito!
Você vai conseguir acompanhar a luta da nossa “Menina de Ouro” de longe?
Não [risos]. Eles estão lá há quase duas semanas para se acostumarem com a altitude, e desde então tenho falado com ela praticamente todos os dias. Segundo ela, no começo sentiram um pouco sim, mas agora já está ‘suave’. E na segunda-feira, estou embarcando pra lá para finalizarmos os treinamentos da última semana que antecede a luta, momento este que pra mim é o mais difícil para o atleta.
Por que a última semana é mais difícil, Rodolfo, se ela está “tinindo”?
Porque, teoricamente, é a mais crítica. É quando ela tem que perder peso, em média ela baixa em torno de dez quilos para competir [ela bate na categoria 52]. Então, deixamos para fazer sua desidratação nessa última semana. Por isso digo que é o momento mais chato, quando ela mais sofre, porque mexe tanto com sua parte física quanto com seu psicológico. Mas, ela é extremamente disciplinada e já está acostumada, pois em todas as lutas utilizamos essa mesma estratégia. Chegando lá, na terça, finalizamos todo o treinamento e depois é só alegria, porque tenho certeza absoluta que ela vence essa luta. Tanto por estar focadíssima, quanto bem preparada tecnicamente, porque o Hugo e o Marcio Mendes, toda a equipe Inside, fizeram um excelente trabalho. Então, no dia 21 é só correr para o abraço quando ela conquistar essa vitória para Presidente Prudente. Para o Brasil!
A Sorriso certamente é um espelho para o Lucas Porto e a Isabella Kuroce Manzini, que competem neste sábado, no Campeonato Paulista Estudantil de Judô em São Bernardo do Campo, na categoria sub-18. Quais suas expectativas e do André Costa Gonçalves, enquanto técnicos desses dois jovens atletas?
Ah sim, com certeza ela é exemplo se não para todos, para a maioria. As expectativas são muito boas, principalmente em cima do Lucas que vem de alguns resultados muito bons, tanto no judô quanto no jiu-jitsu, se destacando muito em estaduais e nacionais, com alguns títulos bastante importantes. Ambos vão disputar a final do estudantil em Prudente [seria em Bauru, mas a cidade desistiu de sediar]. Tanto o Lucas [faixa marrom], quanto a Isabella [faixa roxa], vêm focando bastante nessa competição, intensificando mais os treinamentos. Ela em média de uma hora, e ele por ser uma categoria mais competitiva, mais disputada, treina cerca de duas horas por dia, de segunda, quarta e sexta-feira no jiu-jitsu e terça e quinta, e às vezes sábado, judô, no período da noite. E à tarde faz preparação física com musculação específica para o esporte.
Como os treinadores focam nos atletas para uma competição desse porte?
Em média cada treino dura em torno de duas horas, com 30 a 40 minutos na parte física específica do judô e mais uma a uma hora e meia na parte técnica, onde entra o treinamento de randori [luta], naguiai [quedas], uchikomi [repetição e entrada de golpes]. E sempre eu ou o André estamos em cima dos dois para corrigir a movimentação, toda a parte técnica deles para evoluírem o máximo, nesse curto período de tempo, para que cheguem com mais chance de vitórias nessa competição que é muito importante.
É preciso atenção especial com a alimentação?
A parte alimentar é de extrema importância para qualquer atleta que pensa em ter um melhor desempenho. Então, no caso, eu que sou nutricionista esportivo, trabalho com essa parte do Lucas que estava um pouquinho acima do peso para a categoria dele, além de também estar com um percentual de gordura um pouquinho acima. Montamos uma dieta específica para ele, ou seja, demos toda atenção a sua alimentação para que se encaixasse em sua categoria, e, principalmente, que chegue o mais forte possível e com percentual baixo de gordura para conseguir um melhor desempenho competitivo.
Qual a principal característica de um judoca em ação? Quais os nomes dos principais golpes?
O judô tem uma sequência de golpes, são 45, mais os contragolpes e as combinações deles. No caso do Lucas, procuramos fazer uma variação de golpes de quadril, perna e de golpes em pé. O forte dele é o soto gari e o ashi barai. Ele tem um golpe muito forte de perna que é o uchi mata que ele joga muito bem, e também o seo i nague, este que estamos aperfeiçoando mais. Os mais fortes da Isa são os golpes em pé, como o ashi barai, o soto gari... Mas, cada atleta desenvolve um golpe com maior destreza, ou seja, tuki waza [golpe preferido de cada atleta como falamos]
Qual a diferença entre o judô e o jiu-jitsu?
Na verdade o judô nasceu do jiu-jitsu. Mas, não esse que conhecemos e sim o ju-jutso japonês, qual Jigoro Kano, um estudante de Educação Física, adaptou alguns golpes, tirou uns que seriam mais lesivos, incluiu outros e criou o judô. Por isso dizemos que o judô é um esporte irmão do jiu-jitsu. São bastante similares. Ambos começam em pé e podem terminar no chão. O judô tem o golpe perfeito que é o ippon e assim como o jiu-jitsu finalizações como chaves de braço, estrangulamentos e imobilizações. Mas, o jiu-jitsu já não tem um golpe perfeito, só termina com finalização. Quem treina uma modalidade tem muita facilidade para se adaptar à outra. A maior diferença mesmo está na questão das regras e pontuação.
Quem você citaria como referência no judô nacional e mundial?
Hoje temos vários atletas brasileiros que podemos destacar como excelentes, como o Rafael Carlos da Silva, o Baby, o Charles Koshiro ‘Chibana’, Luciano Corrêa, entre outros. E internacionalmente não tem como não mencionar o maior judoca, o francês Teddy Riner, que é um fenômeno dentro do esporte, quatro vezes campeão.
Você e o André trabalham um projeto de judô com crianças? Quem pode participar, a partir de que idade, onde é...
Sim, temos um projeto na Apea [Associação Prudentina de Esportes Atléticos] para várias crianças e adultos também. O André é responsável pela equipe infantil, ou seja, de iniciação. A parte de escolinha, a partir dos 6 anos [hoje estamos com mais ou menos 45 alunos], com aulas de terça e quinta, às 19h. E eu fico com os adultos, com a parte técnica competitiva, de alto rendimento com treinamentos de terça e quinta, às 20h30, atualmente com uns 20 atletas. Destes, 15 são competidores.
Há muito as artes marciais ganharam terreno feminino, o que é muito bacana. Sexo frágil que nada, né? Além da modalidade esportiva, porque é interessante uma mulher dominar algumas modalidades esportivas defensivas?
É de extrema importância a prática feminina nesse tipo de esporte. Antigamente tinha-se muito preconceito por ser um esporte de luta agarrada, de muito contato físico. Era difícil ver as mulheres treinando. Hoje, graças a Deus isso acabou. Temos grandes equipes femininas. Temos uma das melhores atletas do mundo, que é a Rafaela Silva, campeã Olímpica e Mundial de judô. Ou seja, as mulheres vêm se destacando muito, o que é importante tanto pela parte de uma atividade física saudável, quanto de ela poder aprender a se defender de uma tentativa de ataque, de violência, por exemplo. Ter conhecimento no esporte e em defesa pessoal, acredito eu que contribua, inclusive, em tudo, especialmente na autoconfiança da mulher.