“Concederemos férias coletivas por 20 dias a partir de 1º de abril para todos os nossos colaboradores do setor de produção. Evidentemente que temos interesse em manter os empregos, mas dependerá da extensão do impacto que o coronavírus causará na economia do país”, informou o gerente da Asteca Hinomoto, empresa prudentina do ramo de bebidas e alimentos, Gildo Ozaki. A fala demonstra a dificuldade e preocupação do setor industrial com a crise de saúde pública que o mundo enfrenta, visto que a paralisação de cerca de 100 funcionários nunca antes, em 73 anos de história, ocorreu.
Outra empresa do distrito industrial de Presidente Prudente, a Eros, indústria de alto-falantes, já suspendeu as atividades da produção, mantendo apenas um funcionário relacionado à comercialização, e outros para assistência e suporte técnico, como explica o gerente de vendas Luís Oliveira. “Fomos obrigados a entrar em recesso, nos impactou 100%, já que trabalhamos com lojistas e todos estão parados”, enfatiza. A Eros concedeu folga de 15 dias para os funcionários, visto que estavam acumuladas desde dezembro. Para quando os dias terminarem, Luís afirma que ainda não foi informado de planejamentos.
O diretor regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo)/Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) em Prudente, Wadir Olivetti Junior, 50 anos, afirma que a queda na produção das indústrias regionais chega a 40% e tende a piorar. “O que ocorre com a indústria é que ela depende do consumo e do comércio para fabricar os produtos”, pontua.
“Olhando um panorama geral, tenho certeza que não estamos nem próximos ao ápice e os reflexos ainda vão acontecer. A continuidade da quarentena, da maneira que vem sendo feita, vai contribuir para a piora exponencial da situação”, revela Wadir. “Muitas empresas serão obrigadas a demitir e, por vezes, não terão condições, sequer, de pagar os direitos”, supõe.
O diretor regional afirma que tem recebido orientações da Fiesp e repassado às indústrias, como refazer contatos, buscar linhas de créditos, renegociar prazos de pagamentos de dívidas, tudo com o objetivo de manter as portas das fábricas abertas. Wadir ressalta que os incentivos municipais, estaduais e federais para a manutenção da produção e empregos são bem-vindos, mas até o momento não são efetivos. “As indústrias precisam de juros subsidiados, de condições para pagar funcionários e insumos, isso ainda não veio. Precisamos de aporte e que o governo mostre o que está sendo feito e de que forma os industriais podem buscar os auxílios”, destaca.
O EXEMPLO
ASTECA
Gildo, como porta-voz da diretoria da empresa, afirma que a pandemia “já impactou e deverá continuar impactando, pois a economia do país como um todo está sendo afetada. O período de quarentena e isolamento social causa preocupação, principalmente, quanto ao futuro da economia, mas entendemos as recomendações das autoridades da área da saúde”, ressalta.
O motivo da inédita paralisação é, principalmente, o fato de que grande parte dos clientes da indústria, bem como seus fornecedores, não estão funcionando, situação que gera “transtornos logísticos e operacionais”. Enquanto pôde manter o setor de produção em funcionamento, a Asteca Hinomoto, conforme Gildo, seguiu as orientações dos órgãos de saúde, disponibilizando álcool em gel em todos os setores, informando quanto à necessidade de lavarem sempre as mãos com água e sabão, evitarem reuniões presenciais, entre outras atitudes.