“Policial tem que ter preparo psicológico, porque quando um cai, o outro se levanta”

Valdomiro Ferreira Lima - 1º-SARGENTO DA RESERVA DA PM

PRUDENTE - ROBERTO KAWASAKI

Data 29/01/2020
Horário 09:12
Paulo Miguel - Valdomiro: "O homem tem sempre conserto, nunca está totalmente perdido"
Paulo Miguel - Valdomiro: "O homem tem sempre conserto, nunca está totalmente perdido"

“Sargento Lima”. É assim que Valdomiro Ferreira Lima, 69 anos, é reconhecido pela sociedade. Combatente na Polícia Militar do Estado de São Paulo por 30 anos, está há 20 anos na reserva da corporação e afirma que a instituição foi a responsável pelo seu desenvolvimento como profissional e, acima de tudo, como pessoa. Desde que deixou de lado os dias e noites de sono em claro, trocou a correria do dia a dia para lecionar e atuar em projetos sociais. Aliás, trabalhar com pessoas faz parte do caráter de Lima, que acredita na mudança que o ser humano adquire quando entra em contato com atividades que proporcionem novos aprendizados.

O Imparcial: O que o motivou a ingressar na Polícia Militar do Estado de São Paulo?

Sargento Lima: Entrar na PM nunca foi um sonho na minha vida. Antigamente, o pobre não podia ter muitos sonhos. Eu morava num sítio, na região de Pirapozinho, e surgiu a oportunidade. Na época, não existia a Polícia Militar, mas a Guarda Civil do Estado de São Paulo, que foi onde ingressei, no dia 1º de maio de 1969. Estava com 18 anos, e sentia a necessidade de trabalhar. Então, prestei o concurso e passei. Conforme o dia a dia na polícia, descobri que não precisa ter tantos sonhos para realizar a profissão com dignidade e respeito.

Como o foi o dia da posse? Ainda se recorda da sensação?

A sensação foi de realização e segurança. Eu não tinha nenhum ordenado para viver, mas a certeza de que tinha como viver daquele dia em diante fazendo as coisas certas. Comecei atuando em São Paulo e, após um ano, me transferi para Presidente Prudente. Naquela época existiam duas polícias: a Força Pública e a Guarda Civil [onde ingressou]. No dia 10 de abril de 1970 houve a unificação e passou a se chamar Polícia Militar. Foi um período em que trabalhei, respeitei a corporação e meus superiores, parceiros e subordinados.  

Qual foi o momento mais marcante em sua carreira?

Quando fui promovido a cabo, me transferiram para São Paulo. Minha família morava aqui, eu tinha três filhos pequenos. Fiquei lá por quase cinco anos, e a maior dificuldade foi sobreviver sem a família por perto. Certa vez, enquanto encarregado da guarnição, o motorista capotou a viatura comigo dentro. Quase morri! O momento foi muito complicado, principalmente quando avisaram minha esposa, que viajou para a capital. Foi o fato que deu mais choque na família.

Como lidou com essa situação?

Fiquei internado e tirei 60 dias de licença, mas lidei com a situação normalmente. Não demorou para que eu voltasse a trabalhar, porque polícia é polícia, o risco existe. Durante o tempo em que fiquei na companhia, morreram muitos companheiros por acidente, tiro, era uma coisa muito preocupante para nós. E é por isso que o policial tem que ter o preparo psicológico, porque quando um cai, o outro se levanta.

Após entrar para a reserva, de que forma tem ocupado o seu tempo?

Depois de me aposentar, dei aula por 16 anos em uma escola de formação para profissionais de segurança. Dizia a eles que, se pudessem, que tentassem ingressar na Polícia Militar, porque foi lá onde vivi, criei meus filhos, estudei e fiz faculdade. Muitos seguiram os meus conselhos e estão atuando na área. Nos anos seguintes, aproveitei o que podia de melhor para ajudar a sociedade. [Inclusive], dirigi um projeto de reeducação de jovens com problemas na Justiça, e fui um dos fundadores do Grupo Escoteiro Guayporé, com sede no 18º BPM/I [Batalhão de Polícia Militar do Interior], em Prudente. Lá, trabalhei por 30 anos como voluntário, educando jovens. Acredito que o homem tem sempre conserto, nunca está totalmente perdido.

Hoje, na reserva, a sensação é de dever cumprido?

A Polícia Militar do Estado de São Paulo é o lugar onde vivi, fui respeitado e aprendi a respeitar. Fui valorizado, e aprendi a valorizar. Então, eu tiro o meu chapéu para a Polícia Militar, porque é uma instituição muito forte. Só critica a PM quem faz coisa errada, porque o cidadão de bem não faz isso, ele elogia.

PERFIL

Nome: Valdomiro Ferreira Lima

Esposa: Erenita dos Santos Ferreira Lima

Filhos: Renato Ferreira Lima, Jackeline Ferreira Lima e Eduardo Ferreira Lima

Onde nasceu: Iepê (SP)

Idade: 69 anos

Formação: Graduação em Pedagogia

Atividade profissional: Aposentado, 1º-sargento da reserva da PM

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