Uma recente e inédita pesquisa feita pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) a respeito da percepção da população sobre oferta, qualidade e uso dos serviços de cultura aponta que 31% da população da região de Presidente Prudente não leu nenhum livro em 2023. O índice encontra-se acima da média estadual, que foi de 29%. Ainda relacionada à leitura de livros, o dado da pesquisa aponta o mesmo índice, de 31%, para as pessoas que leram apenas uma obra ao longo do ano passado. Já os considerados leitores assíduos, com mais de cinco títulos lidos ao longo do ano, são 8%.
Em relação ao cinema, 21% da população do oeste paulista foi em sessões em 2023, número menor do que os 56% da população que foi a show ou espetáculo de música, dança, teatro, circo ou outras artes nos últimos 12 meses.
Em relação à proporção da população que visitou museu na região de Presidente Prudente nos últimos 12 meses, o índice foi de 23%. Já quem frequentou a biblioteca em 2023, a taxa é de 25%, conforme os dados da Fundação Seade.
Para ter um olhar mais aprofundado a respeito dos dados regionais apresentados pela pesquisa da Fundação Seade, a reportagem de O Imparcial conversou com Marcos Lupércio Ramos, que possui graduação em Direito, na Instituição Toledo de Ensino (1990) e em Geografia, pela FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista) - 1994 e mestrado em Educação pela Unesp (1999).
Marcos define que, de maneira geral, o acesso à diferentes formas de culturas é um “caos” a nível nacional e que grande parte do acesso cultural que as pessoas possuem, em sua maioria, são shows musicais. “Os quais, ampla maioria, são aqueles patrocinados por prefeituras em datas específicas, como o aniversário dos municípios. Mesmo esse acesso à música, portanto, a um tipo de cultura, se torna ‘pobre’, pois restringe-se a áreas específicas da música, como o sertanejo, que regionalmente é o mais comum”, inicia o especialista.
Para Marcos, a leitura de livros também tem suas peculiaridades. “Apesar de haver bibliotecas públicas que podem garantir esse acesso, o acervo pode não ser tão atrativo, pela falta de atualização constante deste, como também da localização e divulgação desses espaços. Nesse caso, tanto da divulgação e disponibilização de espaços, falta criatividade ao ente público”, inicia o especialista.
“Há espaços em todas as cidades e com grande circulação de pessoas que poderiam ser utilizados para esse fim, como por exemplo, os postos de saúde. Só necessitaria do diálogo, por exemplo, com as áreas de cultura e saúde”, exemplifica.
Ainda em termos de leitura de livros, Marcos relata que fora dos espaços de bibliotecas municipais ou salas de leituras em escolas públicas, o principal elemento que restringe o aumento de leitores é o custo. “Livros ainda são caros e restritos, portanto, aos extratos sociais da sociedade com maior poder aquisitivo, tais como a classe média e média-alta”, argumenta.
Ele avalia que as escolas poderiam estar sendo utilizadas em dias e horários que não estejam sendo usados para a educação e, assim, promover atividades culturais. “Fora do ambiente escolar, pouco se incentiva a leitura. Os livros, além do custo e falta de disponibilidade de mais locais, tem o baixo incentivo pela família e sofre a concorrência da atratividade, rapidez, textos curtos e pelas imagens disponibilizadas pelas redes sociais. As redes sociais parecem mais ‘divertidas’ do que a leitura de livros. Assim sendo, a leitura dos livros fica restrita a estudantes em diferentes níveis da educação e a uns poucos privilegiados sociais e leitores que o fazem por prazer”, avalia Marcos.
Da mesma maneira que avalia o acesso aos livros, Marcos relata que ir ao teatro e ao cinema tem um custo acessível para poucos. “Nesse caso, espaços como o [Centro Cultural] Matarazzo de Presidente Prudente são interessantes, cabendo ao poder público, ampliar e diversificar as atividades desse local e ter uma comunicação mais efetiva com a população em termos de divulgação”, dá como exemplo o especialista.
Na questão do cinema, para Marcos há ainda um complicador: os streamings. “O cinema está chegando nas casas da classe média e alta, por meio de streamings, e com televisores de última geração, cujas telas impressionam pelo tamanho e nitidez. Talvez seja mais barato e cômodo, ter o ‘cinema em casa’”, pontua.
No caso dos museus, o especialista avalia que o fator preponderante dos baixos índices de visitas por parte da população é cultural. “Isto é, não temos a cultura de valorização desses espaços. Os museus representam a nossa memória: memória histórica, arqueológica, biológica, científica e por aí vai. Mas não é hábito da maioria dos brasileiros de se ‘cultuar a memória’”, pontua Marcos.
Mesmo muitos museus tendo sua entrada gratuita, parcela significativa da população só vai à museu em tempos de escola. As escolas costumam patrocinar excursões para esses ambientes, mas também, nesse aspecto, há forte dependência do auxílio público, no caso, de transporte, para que isso ocorra”, finaliza o especialista.
Rovena Rosa/Agência Brasil
Em relação ao cinema, 21% da população da região foi em sessões em 2023
Fonte: Fundação Seade