O feriado de 21 de abril, data de morte de Tiradentes, nos convida a uma série de reflexões. Uma delas - talvez a menos óbvia -, é sobre os avanços da odontologia no país.
Joaquim José da Silva Xavier era conhecido como Tiradentes por exercer o ofício de cirurgião-dentista. Após sua morte, tornou-se mártir da Inconfidência Mineira e patrono da odontologia no Brasil.
Tiradentes viveu em uma época em que ainda eram arcaicos os tratamentos dentários e, para livrar os pacientes de dores agudas e pontos de infecção na cavidade bucal, a extração dos dentes era uma prática comum. Em razão disso, eram igualmente comuns os sorrisos sem dentes na população em geral.
Esse cenário mudou. Hoje, os cirurgiões-dentistas atuam sob a premissa de que se deve priorizar a preservação dos dentes dos pacientes, lançando mão dos mais diversos procedimentos antes de optar-se pela extração. Para isso, os profissionais contam com as melhores e mais modernas técnicas, possibilitadas pelo avanço das pesquisas científicas e do conhecimento especializado.
Podemos usufruir de uma odontologia supermoderna, com uso de recursos altamente inovadores dentro dos consultórios. Isso inclui, por exemplo, o escaneamento intraoral, cirurgias teleguiadas, membranas de fibrina para regeneração tecidural, anestesia eletrônica, aparelhos ortodônticos invisíveis e porcelanas dentárias de última geração, entre outros. Infelizmente, porém, esses serviços ainda estão ao alcance de poucos.
Passados 231 anos da morte de Tiradentes, apesar dos avanços da odontologia, ainda é extremamente alto o número de brasileiros que acabam sendo submetidos à completa extração de dentes. Esse quadro foi revelado em 2010, quando foi realizada a última Pesquisa Nacional de Saúde pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os dados da época mostraram que pelo menos 16 milhões de brasileiros não possuem um único dente na boca, sendo que 40% das pessoas com 60 anos ou mais são completamente banguelas. São cidadãos que não podem sorrir com segurança, não podem mastigar de forma correta, não podem falar adequadamente e certamente vivem sob profunda baixa autoestima.
Agora, o governo federal prepara nova edição da Pesquisa Nacional de Saúde. Embora a tendência mais provável seja que a pandemia do coronavírus possa ter impactado negativamente o acesso dos brasileiros ao atendimento odontológico, espera-se que o novo levantamento nos aponte um cenário mais animador do que o registrado na década passada.
Queremos crer que os brasileiros tenham tido mais oportunidades de atendimento odontológico ao longo dos últimos dez anos. Do contrário, é urgente que o poder público lance um olhar mais atento sob a saúde bucal no Brasil. Isso depende de investimento em todas as esferas de governo, com ampliação da oferta de serviços de atendimento primário e especializado, incluindo os procedimentos cirúrgicos.
Apenas com acesso sistemático a consultas odontológicas, é que os brasileiros poderão ter resguardados seus direitos a uma saúde bucal íntegra e com dignidade.