Na velha PRI-5, pioneira do nosso rádio, a programação da tarde era toda dedicada ao programa “Peça o que quiser”. O ouvinte escolhia a música e fazia a dedicatória a quem desejava enviá-la. Predominavam os parabéns por aniversário. Preenchia a tarde toda, das 14h até às 17h. Claro que o pedido musical custava alguma coisa. Algo aí em torno de 5 mil réis da época. Só o “pecinha” , como o chamávamos, pagava o nosso parco salário. Mas, havia ocasiões em que a renda não chegava a tanto e então no dia 10 o pagamento atrasava. No dia seguinte fazíamos uma vaquinha, inventávamos uma dedicatória e o programador Balbino Laurindo abria o “Peça o que quiser” de forma infalível com o samba “O pagamento ainda não saiu” e que começava assim: “Não comprei a baiana, que você me pediu, porque meu pagamento ainda não saiu. Aí, tenha calma meu bem, que o pagamento sai na semana que vem”. Carlos Alberto, o gerente, bastante cioso dos interesses do patrão, numa dessas ocasiões retirou o disco que estava tocando e o transformou em múltiplos pedaços acrescentando que nunca mais teria que ouvi-lo. Não faltou também uma advertência ao Balbino. O saudoso Carlos Alberto não está aqui sendo criticado, foi meu amigo e excelente locutor e estou apenas narrando um fato verídico. Quem fala a verdade não merece castigo e tanto é vero o que escrevo que Carlos Alberto era tão eficiente como gerente que acabou se transformando ele mesmo no patrão, só que na atual Rádio Presidente Prudente e não na pioneira PRI-5 onde começamos praticamente na mesma época. Prova de que sabia lidar bem com a parte econômica da empresa e de suas finanças. A PRI-5 hoje é apenas uma saudade do grande rádio que Prudente já teve. Tinha orquestra, pianista e piano, regionais (2) e um time de locutores e rádio-teatro de primeira linha: Osmar Ribeiro, que depois foi apresentar Chico Alves na Nacional do Rio: “Quando os ponteiros se encontram na metade do dia os ouvintes se encontram com Francisco Alves, o Rei da Voz”... Nelson de Oliveira, que ficou famoso em São Paulo com o programa de auditório “A Galera do Nelson”, na Bandeirantes onde militei depois por 25 anos consecutivos. Nenê Rodrigues, José Nogueira, Alcides de Oliveira, Alceu Árias, Mário Moraes, não o comentarista de quem fui colega, mas sim o marido da Virgínia de Moraes, a mais bela voz feminina que o rádio já teve, depois voz padrão do FM da USP em São Paulo, Yvetinha Pinheiro, Nhô Nico e Celestino e tantos outros. O que a televisão tenta fazer hoje a PRI-5 fazia só com o som nos velhos tempos. Quando o centenário se aproxima é impossível comemorá-lo sem se homenagear algo tão grandioso como foi no passado o rádio da cidade.
Flávio Araújo, jornalista e radialista prudentino escreve aos domingos neste espaço.