O espectro das mudanças climáticas

OPINIÃO - Thiago Granja Belieiro

Data 25/05/2024
Horário 05:00

O espectro das mudanças climáticas, tese defendida pela comunidade científica desde, ao menos, os anos 1970, finalmente parece ter encontrado consenso na sociedade. Os eventos do Rio Grande do Sul fazem com que hoje, negacionistas climáticos sejam uma minoria e a percepção geral é de que tais mudanças são frutos da ação humana.
Contudo, a comunidade científica diverge a respeito das efetivas causas por trás das mudanças climáticas. O consenso científico hegemônico indica que o problema reside nos impactos causados pelas ações humanas, principalmente, reflexos da industrialização e da queima de combustíveis fósseis que tiveram início no final do século XVIII. A elevação dos níveis de concentração de CO2 na atmosfera causa aumento da temperatura global e eleva a ocorrência de eventos extremos como os observados no Sul do país. 
Os historiadores do clima, porém, indicam outras possíveis causas a esse problema. Sem negar os impactos das ações humanas no aquecimento global, esses historiadores defendem que o planeta possui uma história climática marcada por ciclos de 14 mil anos e 100 mil anos, que se alternam, respectivamente, entre períodos interglaciais e glaciais. Na prática, a história profunda do planeta mostra que esses períodos interglaciais e glaciais vêm se alternando de forma regular desde milhões de anos. 
Nessa perspectiva, estamos, nesse momento, no fim da era interglacial, isto é, estamos vivendo desde os últimos 14 anos mil anos uma fase de clima quente e favorável. No entanto, e aí reside o problema, estaríamos no limite desses 14 mil anos, o que nos colocaria diante de uma eminente nova era glacial. Contudo, diante desse prognóstico, como fica a tese do aquecimento global? Se a história climática indica resfriamento, por quais razões o planeta bate recordes de calor nos últimos 12 meses desde que as medições passaram a ser feitas? 
Evidências históricas e registros climáticos indicam que esses extremos climáticos que estamos experimentando ocorrem na transição entre as eras interglaciais e glaciais, isto é, fazem parte das profundas mudanças que uma transição dessa magnitude implica para a regularidade climática do planeta. Conciliar a ideia de uma nova glaciação com o sensível aumento da temperatura global é o grande desafio científico.
As evidências mais recentes, coletadas em 2023, mostram que as transições entre as eras interglacial e glacial foram abruptas, ou seja, ocorreram em apenas alguns anos, e foram marcadas por extremos climáticos como o que agora observamos. As chuvas que destruíram o Rio Grande do Sul, por exemplo, eram esperadas para as décadas de 2040 e 2050 e já se tornaram uma dramática realidade. 
Por isso, é preciso concordar que talvez nossa crescente capacidade científica ainda seja insuficiente para determinar com exatidão o que de fato está acontecendo com o clima do planeta e isso é tão assustador que talvez Shakespeare tenha razão: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia”. 
 

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