Hélio Schwartsman escreveu há dias “É o clima, estúpido”. Comentava o livro “The Earth Transformed” (A Terra transformada), de Peter Frankopan, da Universidade de Oxford.
O personagem principal e central da história humana é o clima. Dá realce a “El Niño”, um fenômeno relativamente regular, mas que varia ao impactar a temperatura e a hidrologia do planeta.
É uma leitura obrigatória para aqueles que pensam nada ter a ver com as mudanças climáticas. Quantas vezes ouvi ignorantes dizerem: - “Já pago os meus impostos, o governo que se vire!...”. Como se os maus tratos infligidos a Terra fossem obra exclusiva dos governantes.
Não há inocentes quando se cuida de mutação climática. Na sua tola pretensão, o bicho homem acha que ele nasceu para “dominar a natureza”. Que ela é algo diferente e separado dele. Como se não houvesse indissolúvel vinculação entre todas as espécies de vida. Essa corrente milagrosa da qual, rompido um elo, os demais também se desligarão.
Schwartsman lembra que “variações climáticas e ecológicas às vezes influíram em nossos destinos como agentes principais e sempre ao menos como coadjuvantes. O aquecimento registrado entre 200 a.C. e 100 A.D., por exemplo, ajudou Roma a obter melhores colheitas e tornar-se um império. O resfriamento entre 1100 e 1800 explica a maior prevalência de ataques a judeus devido a preços altos de comida”.
Acrescente-se o fenômeno de levas contemporâneas de migrantes climáticos, populações inteiras que procuram deixar a terra inóspita onde não há alimento, não existe água e, portanto, não pode haver vida. Logo mais, as guerras convencionais se tornarão lutas pela água. Cada vez mais escassa, cada vez mais poluída.
Agora estamos numa fase nevrálgica. A violência da resposta que o planeta dá, depois de haver emitido inúmeros avisos de que as coisas iriam piorar para nós, faz lembrar que “dinâmicas ecológicas já extinguiram vários grupos e civilizações”. O que nos estará reservado nos próximos anos?