Quem foi que disse que existe idade limite para se praticar esportes? Hoje trazemos para vocês um exemplo de que essa desculpa não faz sentido: o nadador master, Euro de Oliveira, assinante, leitor assíduo de O Imparcial, que tem 92 anos e, no dia 24, conquistou de braçada quatro primeiros lugares em Bauru (SP): 200 m costas, 50 m costas, 50 m livre e revezamento 4x50. Ele é um apaixonado nato por esportes e, durante a entrevista, destacou como “espetacular” a atuação da velocista Jerusa Géber dos Santos, nos Jogos Parapan-Americanos, assim como todos os atletas da natação. Entre mais ou menos 500 medalhas de várias competições, ele ressalta cinco Top 10, uma delas de 2014!
O Imparcial - Como o esporte começou a fazer parte da sua vida, senhor Euro?
Minha vida esportiva é dividida em duas fases. A primeira até os 27 anos, quando eu morava em São Paulo, e enquanto ainda era universitário e praticava atletismo [100 e 200 m - metros rasos]. Cheguei a pertencer ao São Paulo Futebol Clube, que era o melhor da modalidade. Tive até certo renome no atletismo, sabia? Inclusive, fiz parte da Seleção Brasileira de Atletismo e fui convidado para a Olímpiada de 1952, mas não alcancei o índice, no Rio de Janeiro, que naquele tempo era 10’4, e fiz 10’8. Me formei e larguei o atletismo para trabalhar. Mas sempre praticando esportes, principalmente a natação. E a segunda parte começou a partir do ano 2000, quando me aposentei, e segue até hoje.
O que aconteceu no ano de 2000?
Nesse ano, eu estava nadando na Apea [Associação Prudentina de Esportes Atléticos] e o Fran [Francisco Alencar] que também é nadador do master [ele está com quase 70 anos], me viu nadar e me convidou para participar das competições do master. Eu aceitei, comecei a treinar e logo na primeira competição já ganhei, lá em Botucatu [SP]. Coincidência, ou não, a última competição que participei, no mês passado, foi nessa mesma cidade e ganhei quatro medalhas. Tinha eu e mais um competidor de 92 anos. As classes competitivas no master são divididas de cinco em cinco anos e eu estou na de 95 anos. Nadei três provas, 200 m costas, 50 m costas, 50 livre nado crawl, e o revezamento 4x50 que competi por Araraquara [SP], onde mora meu filho Fernando. Ele só não nadou também porque foi promovido, precisava cuidar da papelada. Mas meu outro filho, o Raul, competiu e pegou três medalhas, duas em segundo e uma em terceiro lugar, na classe dele que é de 55 a 60 anos, e tem muitos concorrentes.
Antes de se aposentar o senhor atuava em que área?
Eu sou advogado, atuava pela Câmara Municipal e era professor de Direito Comercial na Toledo [Prudente Centro Universitário], por 40 anos. Me formei na PUC [Pontifícia Universidade Católica de São Paulo], porque no meu tempo só existia faculdade na capital. Sou da terceira turma da Católica, do ano de 1952.
Como é a rotina do senhor? Tem algum treinador?
Todas as manhãs eu vou ao clube, na Apea, para nadar. Levanto cedo e vou pra lá, onde nado em torno de uma hora, uma hora e meia. Tenho que reservar um pouquinho das minhas forças para ter uma vida um pouquinho mais longa [risos]. Eu não tenho treinador, mas tenho o Frank que me orienta. E ele compete muito, inclusive, vai para Recife (PE). Eu não vou nesta competição. A próxima que quero competir, com meus filhos, o Fernando e o Raul, será em Jundiaí [SP] e depois em Uberlândia [MG].
Existe alguma competição que tenha sido mais importante e que marcou a vida do senhor?
Para mim, todas as competições são importantes! Cada uma delas, e eu procuro ganhar todas também. Mas de renome participei de dois mundiais, um na Argentina e outro na Itália.
Quantas medalhas e troféus o senhor tem?
Não sei ao certo, mas calculo que tenho umas 500 medalhas, desde o atletismo. Além de algumas dezenas de troféus.
O senhor segue alguma dieta? Sua alimentação é regrada? Como é essa parte?
Eu durmo bem, como bem. Minha base de alimentação é muito leite e carne vermelha e branca. Minha empregada me ajuda no preparo, está sempre comigo.
O que o senhor sente quando está ali dentro da piscina, sentindo aquela pureza, o contato com a água?
É a melhor coisa! Eu amo a água. Eu gosto demais de nadar.
O que o senhor gosta de fazer, além de nadar?
Gosto muito de televisão, tanto que tenho três. Quando uma não está ligada, a outra com certeza estará, e geralmente, em algum canal de esportes. Hoje [dia 29], estou assistindo o US Open [Aberto de Tênis] dos Estados Unidos, Roger Federer contra Damir Dzumhur. Gosto de novelas mais antigas também, como uma que está reprisando agora em que a mãe troca de bebê com a filha, ‘Por amor’, que tem uma história bem interessante. Gosto muito de ler. Principalmente, literatura histórica, porque uma parte da história eu vivi e outra aprendi assistindo, lendo. Tenho uma filha, Ianara, a mais velha, que gosta muito de ler também.
Como o senhor vê o esporte, atualmente, no Brasil?
Infelizmente o esporte na classe ‘mocidade’ está um pouco atrasado. Hoje os jovens procuram mais pela internet. Tanto é que, atualmente, as competições não têm a frequência de realização como antigamente. A Apea, por exemplo, tinha de 40 a 50 nadadores que competiam em torneios, hoje se tiver 15 é muito.
Senhor Euro, para finalizarmos, que tal servir como inspiração e dar um puxão de orelha em quem vive dando desculpas para não praticar esportes. Existe idade para fazer alguma modalidade esportiva?
Não, não. Isso é questão de cabeça. Eu por exemplo sempre vivi dentro do esporte. Tive uma vida bem regrada sem vícios, nunca bebi, nuca fumei, talvez por isso eu tenha uma vida mais longa. Ninguém é velho demais para realizar qualquer coisa que queira verdadeiramente.