Desde que se cogitou a transferência dos líderes de uma facção criminosa paulista, que atua dentro e fora de presídios, bilhetes e cartas têm sido apreendidos nas penitenciárias da região de Presidente Prudente, com ordens para matar as principais autoridades públicas que atuam na linha de frente no combate ao crime organizado. Dentre os nomes está o de Lincoln Gakiya, promotor de Justiça do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), responsável pelo pedido de remoção da liderança para presídios federais.
No dia 16 de julho, conforme noticiado por este diário, um novo bilhete foi encontrado na Penitenciária de Mirandópolis, que também incluía o nome de Roberto Medina, coordenador das unidades prisionais da região oeste do Estado. “Eu não considero essas cartas como ameaças, porque não foram encaminhadas a mim, por exemplo”, afirma Gakiya. “São planejamentos de atentados contra a minha vida e a do Roberto Medina”.
De acordo com o promotor, o serviço de inteligência “tem funcionado”, e conseguido apreender as cartas, impedindo a concretização dos planos. No caso recente, Gakiya conta que o portador, identificado como G. H. G. O., é faccionado e já estava nas investigações preliminares do Gaeco, assim como dois colegas de cela que assinaram o manuscrito. “Essa carta deveria ser entregue pelo advogado particular do G. para uma advogada ainda não identificada”, explica. A mulher trabalha para a facção e levaria o recado para o encarregado da missão.
Os três investigados foram conduzidos à Penitenciária Zwinglio Ferreira, de Presidente Venceslau, onde estão isolados. Conforme o promotor, a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) pediu a internação cautelar em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Após possível aval da Justiça, devem ir para o CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes. Caso sejam denunciados, serão conduzidos ao sistema penitenciário federal, assim como ocorrido com presos envolvidos no planejamento de atentados contra agentes públicos.
A ordem para matar agentes públicos foi deixada em dezembro de 2018, em uma carta apreendida na saída da Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, a P2 de Venceslau. Na época, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que as anotações estavam com visitantes, onde havia ordens de assassinato das autoridades, caso houvesse a transferência de membros do grupo.
“O que fica bem nítido na carta [apreendida na semana passada] é que eles estão cobrando a execução”, afirma Gakiya. A cobrança também parte de dentro do sistema penitenciário federal, uma vez que, segundo informações que chegaram ao conhecimento do promotor, presos dizem que já faz um ano e meio das remoções, e não houve retaliação no Estado de São Paulo.
“O foco do Gaeco na região é o combate à criminalidade organizada dentro e fora dos presídios”, afirma. “O maior problema [do oeste paulista] é a questão das penitenciárias e de faccionados que estão dando ordem de dentro pra fora”.
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