É mesmo o fim da pandemia? 

OPINIÃO - Sabrina Alves Lenquiste

Data 05/05/2022
Horário 04:30

Recentemente o Ministério da Saúde anunciou o fim da emergência sanitária para a Covid-19, medida que de certa forma encerra o ciclo pandêmico que vivemos durante dois anos. Contudo, esse período foi marcado por mudanças expressivas nos hábitos de vida da população, principalmente pelo isolamento social, o qual impactou diretamente nos hábitos alimentares e prática de exercício físico dos indivíduos. Como resultado, as perspectivas de saúde são bastante preocupantes e indicam aumento da prevalência de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como o diabetes. 
Obesidade e DCNT já eram tidas como uma epidemia global antes da Covid. O estudo Vigitel Brasil 2020 mostrou que mais da metade da população brasileira apresentava excesso de peso e cerca de 21% obesidade. Neste mesmo estudo, foi descrito o padrão alimentar dos brasileiros, evidenciando que menos de 40% tinham consumo regular de frutas e hortaliças, 15% consumiam refrigerante mais de cinco dias na semana e 20% consumiam frequentemente alimentos ultraprocessados, como salgadinhos, doces e fastfood. Além disso, cerca de 15% da população era inativa fisicamente, ou seja, não realizava qualquer prática física, e aproximadamente 55% realizavam prática insuficiente para a proteção da saúde.  
O isolamento social mudou os hábitos de vida das crianças e adultos, mantendo-os por longos períodos em frente às telas de computadores e celulares, no ensino e trabalho remotos. A aparente comodidade de estudar e trabalhar de casa desorganizou as rotinas. Dessa forma, passamos a realizar as refeições em horários pouco regulares e a priorizar alimentos ultraprocessados que pudessem ser consumidos em frente às telas e de rápido (ou nenhum) preparo. 
E não podemos esquecer das questões psicológicas relacionadas ao estresse e à ansiedade. O risco eminente à saúde, a falta de perspectiva de vida impulsionada pela perda de emprego e renda, o medo das mudanças e as dificuldades de adaptação ao novo cenário fizeram com que as pessoas desenvolvessem ou agravassem os transtornos psicológicos. Situações que impactam diretamente no comportamento alimentar e na qualidade da alimentação. Episódios de compulsão ou mesmo o consumo frequente de alimentos que são associados à sensação de bem-estar, como chocolates, doces e fastfoods, dispararam durante a pandemia e resultaram no maior ganho de peso. 
Além disso, o impacto econômico da pandemia levou ao empobrecimento da população e soma-se à crise econômica enfrentada pelo Brasil. Com a elevação do preço dos alimentos, principalmente os básicos (arroz, feijão, óleo, carnes) e as frutas e hortaliças, as famílias tiveram que reduzir a qualidade da alimentação e passaram a utilizar com mais frequência os ultraprocessados de baixo custo, como macarrão instantâneo, salsichas e linguiças. 
E hoje vivemos a tão esperada saída da pandemia de Covid-19. Contudo, no contexto da obesidade e das DCNT, o cenário imposto por esse período pandêmico reforça a importância de uma abordagem integral à saúde, com ações voltadas às mudanças de estilo de vida, com estímulo e promoção de uma alimentação saudável e acessível e da prática de exercício físico regular, a fim de minimizar os impactos desses anos caóticos na saúde da população. 

 

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