Foi realizada na tarde de hoje, no Anfiteatro I da FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista) de Presidente Prudente, a mesa-redonda “Bastidores de grandes coberturas jornalísticas da imprensa prudentina”.
O evento fechou a programação da 3ª Semana Literária da universidade, com histórias de casos marcantes na cobertura de fatos vivenciados por quatro jornalistas de diferentes áreas: Altino Correia, Luis Augusto Pires Batista, Bete Gásperi e Homéro Ferreira. A mesa-redonda foi mediada pelos, também, jornalistas Thaisa Sallum Bacco e Roberto Mancuzo.
Responsável pela direção de Comunicação Corporativa da FCT/Unesp de Prudente, Roberto Mancuzo destacou a importância de trazer um evento norteado pelas memórias dos jornalistas em grandes coberturas como uma forma de entendimento do cenário vivenciado no jornalismo atualmente, pautado pelo mundo digital.
“É entender também como o jornalismo chegou até aqui. E, pra isso, não existem formas melhores do que a gente ouvir estas pessoas. Ouvir jornalistas que construíram a nossa história local”, pontuou Mancuzo, que também é fotógrafo e professor.
Cada convidado falou por cerca de 20 minutos, destacando uma cobertura vivenciada ao longo da carreira.
Nascido na Bahia em 1938, Altino Correia completa, em 2023, 70 anos de carreira no jornalismo. Ele, inclusive, foi homenageado ao final do evento. Em seu causo, o decano trouxe a vivência na apuração do “crime da mala”, episódio de repercussão nacional ocorrido em Presidente Prudente em 1970. Na ocasião, uma mulher que praticava abortos clandestinos na cidade foi presa por assassinar uma jovem após a realização de um aborto. A mulher tinha o plano de jogar o corpo da vítima em uma mala no Rio Paraná, em Presidente Epitácio, porém, antes, foi detida pela polícia.
Sobre a participação no evento, Altino Correia destacou a sua longa trajetória na profissão, passando por impresso, TV, rádio e não fugindo do digital. O jornalista, que mantém o blog “Memórias de um Repórter do Interior”, disse que se sentiu muito honrado pela homenagem ao final da mesa-redonda. “Já são 70 anos e a luta continua. Estamos aqui para acompanhar o que se passa de bom neste país e, principalmente, transmitir palavras de incentivo e de amor para aqueles que nos acompanham”.
A jornalista Bete Gásperi trouxe em seu relato a vivência na cobertura da morte do juiz Antônio José Machado Dias, o Machadinho, assassinado em Prudente por membros de uma facção criminosa em 2003, fato que completou 20 anos no último dia 14 de março. Na época, Bete apurou o caso e suas repercussões como repórter freelancer da Folha de São Paulo.
A respeito da mesa-redonda, Bete Gásperi destacou a valorização da memória da comunidade por meio do relato dos jornalistas e as vivências trazidas nas coberturas citadas por cada um deles durante a mesa-redonda. “Numa era do imediatismo, do aqui e agora, encontros como este são muitos importantes para valorizar a construção da história por meio destes registros. É importante que a gente tenha eventos que valorizem de fato a nossa memória e ter o entendimento de acontecimentos que marcam e delimitam períodos da história, que daqui 50 ou 100 anos com certeza serão estudados sob a perspectiva do quanto isso influenciou a sociedade”.
Durante sua exposição, o jornalista Homéro Ferreira falou das ocasiões em que precisou, de certa maneira, se virar para entrevistar, em diferentes ocasiões, dois presidentes da República.
No primeiro causo, contou sobre uma situação em que Fernando Henrique Cardoso (PSDB), na ocasião buscando a reeleição em 1998, decidiu acabar com uma coletiva de imprensa no Aeroporto de Presidente Prudente após uma repórter repetir três vezes a mesma pergunta. Na época, cobrindo a vinda de FHC a Prudente pelo jornal Estado de S. Paulo, Homéro pediu gentilmente, certo tempo depois do encerramento da coletiva, para o ex-presidente responder às perguntas enquanto FHC cumprimentava apoiadores. O tucano não recusou.
No segundo causo, Homéro falou sobre a vez que precisou “namorar” Lula (PT) com os olhos para que o petista lhe concedesse algumas falas. O atual presidente da República, que naquela ocasião disputava o pleito de 2002 para o Executivo nacional, não recusou responder Homéro tal como FHC.
Sobre a mesa-redonda, o jornalista destacou os relatos dos companheiros e enalteceu a realização da 3ª Semana Literária da FCT Unesp. “Tanto o escritor de obra propriamente literária quanto o jornalista da mesma matéria-prima, que é a palavra”.
Atual diretor de jornalismo da TV Fronteira, Luis Augusto Pires Batista contou sobre sua vivência na cobertura do segundo turno da eleição para governador de São Paulo em 1990. Pleito acirrado entre Paulo Maluf (PSD) e Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB) que acabou tendo a região de Prudente como diferencial na vitória apertada de Fleury sobre Maluf. Na época, Luis Augusto trabalhava na sucursal da Rede Globo Oeste Paulista, sediada em Bauru.
O jornalista destacou a mudança de tempos no fazer jornalístico no passar a história, com a evolução tecnológica, porém ressaltou que o trabalho ainda mantém a sua essência. “O mais importante é você ter um trabalho de apuração responsável e ético. Hoje mudou o aporte que a gente tem e a maneira de fazer jornalismo, mas o trabalho do jornalista continua praticamente o mesmo”. Sobre o evento desta sexta, Luiz Augusto destacou a trajetória dos companheiros de mesa e pontuou que a troca de experiências foi muito bacana.