Jan Antonín Bata: o tecelão de sonhos e cidades

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 11/04/2025
Horário 07:00

Jan Antonín Bata, um nome que ecoa com a ressonância de um tempo de audácia e visão, de um homem que não apenas herdou um império de calçados, mas o expandiu para horizontes antes inimagináveis. Sua história não é apenas a ascensão de um empresário, mas a saga de um sonhador prático, um arquiteto de comunidades, um homem que acreditava no poder do trabalho e na materialização de seus ideais. 
Sua visão do capitalismo tinha uma filosofia humanitária, onde adotou distribuição dos lucros para seus funcionários que teve um impacto significativo, embora complexo, no capitalismo da época. A abordagem de Bata desafiou diretamente o modelo capitalista tradicional, onde os lucros eram destinados principalmente aos proprietários e acionistas, enquanto os trabalhadores recebiam salários fixos. Um empresário além do seu tempo. 
Nascido em uma Morávia ainda sob o jugo austro-húngaro, Jan Antonín Bata desde cedo demonstrou uma inquietação que ia além dos cadarços e solados. Ao assumir a liderança da Bata Shoes após a trágica morte de seu meio-irmão Tomás, ele não se contentou em manter a engrenagem funcionando. Ele a reinventou. Introduziu a produção em massa, democratizou o acesso ao calçado de qualidade, transformou a cidade de Zlín na Tchecoslováquia, em um centro industrial moderno com moradias para seus trabalhadores, escolas, hospitais – um microcosmo de sua filosofia social e empresarial.
Mas os sonhos de Jan Antonín Bata não cabiam nas fronteiras da Tchecoslováquia. Ele vislumbrava um mundo onde o progresso e o bem-estar se entrelaçavam, e o Brasil, com sua vastidão e potencial, acendeu sua imaginação. Em terras brasileiras, ele não apenas plantou fábricas, mas semeou cidades inteiras. Batayporã, Bataguassu, Batatuba – nomes que carregam a marca indelével de sua visão. Eram mais do que aglomerados de casas; eram núcleos planejados, pensados para o desenvolvimento, com escolas para as crianças, infraestrutura para o trabalho, a materialização de um sonho de progresso social atrelado ao crescimento econômico.
Há quem o veja apenas como um industrial astuto, um homem de negócios implacável. Mas por trás da eficiência e da organização, pulsava um idealismo fervoroso. Jan Antonín Bata acreditava na força do trabalho coletivo, na importância da educação e na responsabilidade social da empresa. Seus trabalhadores não eram meros números em uma planilha; eram parte de um organismo vivo, essencial para o sucesso do todo.
Sua partida do Brasil, forçada pelas reviravoltas da Segunda Guerra Mundial, não apagou o legado que ele construiu. Fundou mais de 80 cidades pelo mundo, que continuam a prosperar, testemunhas silenciosas de um sonho que transcendeu as turbulências da história. Mesmo exilado, ele manteve viva a chama de seus ideais, buscando sempre formas de contribuir para um mundo melhor.
A história de Jan Antonín Bata é um lembrete de que os sonhos, quando acoplados à ação e à perseverança, podem moldar a realidade. Ele foi mais do que um empresário de sucesso; foi um visionário que ousou sonhar grande e trabalhar incansavelmente para transformar esses sonhos em concreto, em cidades vibrantes, em um legado que continua a inspirar gerações. Sua vida nos ensina que o verdadeiro progresso reside na capacidade de unir o desenvolvimento econômico ao bem-estar social, de tecer, com a mesma dedicação com que se produz um bom par de sapatos, um futuro mais promissor para todos. Sua resposta a essa pergunta demonstra sua filosofia sobre o capitalismo:
"Como, então Dr. Bata, o Sr. constrói impérios?
- Não. – respondeu Jan Bata... Eu construo homens".


Estátua dos dois irmãos, Tomás Bata e Jan Antonin Bata

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