Para encerrar com chave de ouro a semana voltada aos namorados, este diário apresenta, permita-me utilizar adjetivos, a linda, inspiradora e encantadora história de um casal prudentino, que neste ano completa 50 anos de matrimônio e pode e deve inspirar casais das mais diversas idades. Para apresentar a trajetória da dupla, O Imparcial entrevistou Iracema Caobianco Silva, 70 anos, que conheceu o esposo, Nivaldo Bento Silva, 74, quando ainda estava no colégio, aos 16 anos, e mostra como foi a vida ao lado do primeiro, único e eterno namorado.
Com três graduações no currículo, sendo os cursos de Letras, Educação Artística e Pedagogia, a educadora, que também ama participar de serviços voluntários, relata um período de sua vida que tem início com um namoro regrado, com o “papai que era uma fera”, seguido do pedido de casamento, e a edificação da família, no ano de 1968, que resultou em três filhos, muito companheirismo e um casal em constante atividade, que, inclusive, é apaixonado por viagens. Confirma abaixo como tudo começou e se desenrolou ao longo dos anos.
O Imparcial: Quem foi Iracema na infância e como foi este período?
Iracema: Sou nascida e criada em Presidente Prudente e nunca cogite mudar de cidade, por amar muito minha família e este lugar. Vim de uma geração muito grande, com sete irmãs e dois irmãos, e penso que, mesmo com todas as oportunidades que tive de ir embora, decidi ficar por causa dos meus alunos e vínculos que criei aqui, pois trabalhei a vida toda como educadora. Mas, até chegar lá, eu morava na Vila Marcondes, tive uma infância linda e comum, quando precisávamos estudar, cozinhar e aprender as diversas coisas que mamãe pedia. Inclusive, ganhei uma bolsa de estudos no Colégio Cristo Rei e fiquei muito tempo por lá, pois saí apenas quando recebi o pedido de casamento do meu marido, que também é de Prudente.
Então sua história de amor começou ainda na escola?
Exatamente, quando eu tinha 16 anos, estávamos numa quermesse na escola e eu tinha um grupo de oito meninas comigo, junto com as freiras, e outros dois meninos, sendo que um deles estava interessando em mim, mas eu não queria. O Nivaldo [marido] esperou então que a gente saísse dali, quando estávamos indo para casa, e me pediu em namoro no dia 13 de junho de 1964, Dia de Santo Antônio de Pádua. Com isso, conversei com as freiras e tive que sair do colégio que estudava, pois eu iria me casar, e então mudei para a Escola Estadual (IE) Fernando Costa. Ele foi meu primeiro namorado e somos assim até hoje.
E como foi o namoro e este período após o pedido?
Foi algo que vejo ter dado muito certo, mesmo sendo muito regulado, pois papai era bravo como uma fera, e a gente não podia, por exemplo, sair sozinhos, não tínhamos carro para passear e as irmãs precisavam ir todas juntas, para que eu nunca ficasse sozinha com ele. Mesmo sendo regrado, havia muito apoio da minha família.
O que te marca quando o assunto é o namoro?
Me lembro muito bem de quando ele fazia serenatas para mim, na minha janela, e isso ocorria todos os finais de semana, quando ele se juntava com um grupo de amigos. Era um coro perfeito e tinha violão, flauta e era muito lindo. Contudo, papai não me deixava abrir a janela para ver e para que ele soubesse que eu estava ouvindo, corria para o banheiro, acendia a luz, subia na banheira e olhava pela janela, pois não poderia haver nenhum tipo de aproximação, mesmo sendo já um namoro oficializado.
Essa dedicação dele foi um dos motivos que te fizeram ficar com ele?
Sem dúvidas, tudo me segurou, como esse carinho dele que vem desde o início, o romantismo, os olhares, as seguradas de mãos, era um namoro muito sério. Com isso, ele logo quis se casar, ficamos um ano em namoro e outros três anos noivados, para então ocorrer o casamento.
Por ser algo regrado, demorou para que ele fosse inserido de vez na sua família?
Não, ele foi desde o início, mesmo com tudo isso, muito bem recebido na minha casa, bem como eu fui bem recebida na família dele, por serem muito honrados, e porque família é tudo nas nossas vidas, e todos nós tínhamos ciência disso. Não houve dificuldades no entrosamento em nenhuma das partes. O Nivaldo amava o papai como se fosse o próprio pai dele, eles inclusive pescavam juntos.
E quando acabou esse período de “regras”?
O namoro regrado só acabou com o casamento, mas vejo que toda essa situação só edificou ainda mais o amor, que foi puro e gradativamente crescendo para uma vida construída em que as pessoas admiram muito. Meus três filhos mesmo admiram e se espelham no comportamento do pai, que foi sempre gentil e nunca levantou a voz para nós. Vejo que essa é uma relação de alma gêmea, um quer construir o outro cada vez mais, as diferenças individuais são grandes, mas nos ajudamos mutuamente e cada vez descobrimos mais valores no outro, pois assim como recebo o carinho dele, também dou e é uma cumplicidade de amor. Edificamos este amor no dia 6 de julho de 1968, quando nos casamos.
O que mudou e como foi após o casamento?
Nos dedicamos à nossa família, mas também ao estudo. Mesmo quando chegaram os filhos, buscamos sempre manter o foco, mas é claro que tínhamos alguns momentos de lazer também, quando saíamos de férias com as crianças, já que no início não tivemos tempo de viajar. Por falar em viajar, é assim que temos aproveitado a vida nos últimos anos, pois quando nos aposentamos, nós fizemos uma promessa de viajar sempre e nunca deixar de aproveitar. Com isso, já fomos, por exemplo, para a França e a Holanda, que é um passatempo para nós, por gostarmos sempre de estar em atividade. Inclusive, estamos programando uma viagem em setembro para a Europa, para comemorar os nossos 50 anos de casados. Além disso, ele gosta de percorrer os diversos caminhos do Brasil e Europa, e eu de pintar, escrever e trabalhar como voluntária.
Chegaram a dormir sem conversar alguma vez?
Nunca, e também nunca ficamos de cara virada um para o outro, pois esse é o nosso ideal, fazer com que haja compreensão. Sempre que há alguma situação, a gente conversa, se entende e ninguém fica chateado, nos resolvemos assim.
Qual dos dois é o mais bravo ou ciumento?
Penso que ele é mais ciumento, mas já melhorou muito. Meu perfil foi sempre muito falante e o dele mais quieto. Me lembro de uma vez que estávamos na rua, encontramos um ex-aluno meu, que era médico na época, e veio me cumprimentar com um beijo no rosto. O Nivaldo, na época, não gostou muito e me explicou que não se sentia confortável. Assim, mostrei para ele que aquele era o meu jeito e que preciso ser feliz do meu jeito, ele entendeu o meu espírito aberto e nunca mais achou ruim, por causa da confiança que gerou e isso evita desentendimentos.
E o mais romântico, quem é?
Penso que sempre é a mulher, mas ele não deixa de ter o lado romântico, pois sempre dá flores, é gentil, e tudo isso nunca acaba na vida, pelo contrário, aumenta cada vez mais, você vai aprendendo as limitações, as vontades e os gostos de cada um e trabalha a partir disso.
Como é a relação dentro de casa?
Tive três homens, desde quando eles tinham dois ou três anos já sabiam que deveriam cuidar das suas coisas, tirar a mesa e sabiam, da mesma forma que os pais faziam, que deveriam se ajudar. Eles foram morar fora do país e já sabiam se virar, pois educação vem de família. Costumo dizer que ninguém aqui é hóspede em casa, pois trabalhamos em conjunto. Trabalhamos na base do diálogo para que meus filhos se sintam amados e realizados
No Dia dos Namorados, costuma ter alguma comemoração?
Sempre saímos nas datas, mesmo gostando mais de ficar em casa e tomar um vinho. Quando há datas comemorativas, saímos para jantar, mas também gostamos de viajar. Celebrar a união nunca deve acabar e deve ser sempre motivo de comemoração.
Acredita que são namorados até hoje?
Sem dúvidas, só andamos por aí de mãos dadas, na rua, cinema, somos carinhosos e nos amamos. Penso que isso faz com que sejamos eternos namorados, além do fato de que não consigo deixar ele sozinho, sempre viajamos juntos e não penso em viver nunca longe dele. Temos uma jura de amor e ele foi e sempre será meu primeiro e único amor.
Com tudo o que viveram, qual é o segredo para a felicidade do casal?
Em primeiro lugar o amor. Se a pessoa ama o outro, saberá aceitá-la mesmo com os defeitos, que todos nós possuímos. Ao fazer isso, somos generosos e aceitamos o próximo como ser humano, na base do diálogo, que é fundamental para a compreensão.