Fóssil de dinossauro será descarregado nesta terça na Etec

Debaixo de um sol escaldante, docentes da escola extraíram a peça na tarde de hoje de uma fazenda que fica entre Alfredo Marcondes e Floresta do Sul

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 14/02/2022
Horário 20:13
Foto: O Imparcial
Muito cuidado em mais de duas horas para a retirada e transporte da peça 
Muito cuidado em mais de duas horas para a retirada e transporte da peça 

Pode parecer algo sem significado para muitos. Mas não é. Após 9 anos exposto, na tarde desta segunda-feira, o fóssil, uma cintura pélvica de um enorme dinossauro saurópode, foi extraído do sítio em que foi descoberto em 2013, em uma expedição coordenada pela professora do campus Fundão da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Lilian Paglarelli Bergqvist, com seus alunos. E será descarregado às 8h30 desta terça, na Etec (Escola Técnica Estadual Prof. Dr. Antonio Eufrásio de Toledo), antigo Colégio Agrícola, em Presidente Prudente
Debaixo de um sol escaldante, por mais de duas horas, o diretor da escola, Thadeu Henrique Novais Spósito, 36 anos, e outros docentes da instituição, o gestor rural Pierro Eduardo Perego, Marcelo Antonio Rodrigues (auxiliar docente) e Roberto Schiratto Júnior (agente de apoio) observavam e guiavam atentamente a impecável habilidade de Rodrigo Honório Gimenez da Silva, funcionário da Armazém Materiais para Construção, na condução da minirretroescavadeira, desde a retirada da terra que cedeu para debaixo do fóssil, em seu entorno, até içá-lo, colocá-lo em cima do caminhão e transportá-lo até a Etec.
Com o fóssil disposto em meio a uma paisagem incrível da natureza, com muito verde, olhando ao redor, dava até para imaginar o período em que esses animais viveram por estas terras! E foi o que o funcionário do sítio, que fica entre o distrito prudentino de Floresta do Sul e Alfredo Marcondes, disse enquanto acompanhava montado em seu cavalo Majestoso, os trabalhos da equipe. “Isso é muito interessante! Imaginar que onde estamos hoje viveram esses animais gigantes é muito legal, mesmo”, expôs o trabalhador agrícola José Carlos Ezídio dos Santos, 66 anos. 
“Mesmo em cima de um palhete, içamos uns 30 centímetros, colocamos um novo para reforçar, base de cano fundido. É delicada a extração porque é gesso, uma peça quebradiça que ficou muito tempo exposta, sofreu com intempéries. Um funcionário nosso veio de quarta a sexta descobri-la pela manhã e à tarde retornava para cobri-la para ela secar, mas, ainda assim, a umidade atrapalhou um pouco. Mas deu tudo certo. Rodrigo é um profissional extremamente habilidoso e cuidadoso na operação da minirretroescavadeira”, expôs Thadeu.

Falta incentivo, ajuda financeira

Como publicado na edição de domingo, durante a última semana de janeiro e a primeira de fevereiro, o professor da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), campus São Gonçalo-RJ, André Eduardo Piacentini Pinheiro, voltou ao local, coordenando o projeto aprovado por um edital universal do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que envolve também esta ação de extração dessa peça e, juntamente com sua equipe, com Kamila Luisa Nogueira Bandeira, do Museu Nacional, Rodrigo Vargas Pégas da UFABC (Universidade Federal do ABC), e Kauê Fontes da Silva e Lucas Sant’Annade Carvalho, ambos também do campus São Gonçalo, engessaram, prepararam a peça para sua retirada, ontem.
“Isso é de um valor histórico importantíssimo para o país, pois tudo aquilo que encontramos em forma arqueológica representa primeiramente nosso país, o Estado e a cidade em que foi encontrado. São apresentados artigos que têm valor internacional. Imagina se fosse feita a devida divulgação deste achado. As pessoas poderiam associar à fazenda, à batata-doce que será cultivada na área”, destaca Roberto Schiratto. 
Ele acrescenta que é uma pena que o Brasil ainda não ofereça uma ajuda, um financiamento para esse tipo de trabalho. “Nem para divulgar essa parte da ciência. A impressão que dá é que o assunto não é importante. Que é indiferente”, lamenta Roberto.

Questão histórica

A peça, com mais ou menos 1 metro no eixo anteroposterior e mais ou menos 2m de largura, ficará no antigo Colégio Agrícola, terras onde também foram encontrados ossos, uma vértebra, dentes de crocodilianos e permanecem ainda intocados. Lembrando, terras estas que o governador do Estado, João Doria (PSDB), pretendia leiloar em 20 de junho de 2021. 
De acordo com Thadeu, durante todo esse tempo em que a peça ficou exposta, o sedimento de rocha acabou se desfazendo e virou arenito, então, ela acabou se esfarelando, deixando ainda mais frágil. Perguntado a Thadeu como esse fóssil se encontrava ali naquela área quando foi descoberto, ele explica que quando os pesquisadores veem erosão, rochas, eles procuram por indícios de fósseis. E foi quando a professora Lilian e seus alunos encontraram a ponta da vértebra caudal. Daí eles foram cavando e encontraram a peça num todo.
Thadeu, que é agrônomo, diz que, para eles, “é uma questão histórica, porque estudam toda a composição, estruturação do solo e, embora não tenham um curso voltado para a geologia, arqueologia e até mesmo da paleontologia, tem no eixo de recursos naturais e trabalham com essa questão do solo, das ´partes das rochas”, acentua, completando que a Etec participa nessa ação com a hospedagem dos paleontólogos e a questão de logística.
“Essa peça ficaria aqui, porque a UFRJ não teria condições de retirá-la agora. Porém, essa área se transformará numa plantação de batata-doce. Então, essa era a preocupação, e então a Etec, com sua função social, entra com essa contrapartida apoiando financeira e logisticamente na retirada e depósito da peça”, menciona.

Foto: O Imparcial

Fóssil, que foi descoberto há 9 anos, enfim vai para um local onde receberá todos os cuidados

SAIBA MAIS

Fóssil da pelve de dinossauro encontrado em fazenda de Marcondes será extraído nesta segunda

Prudente tem o Vale dos Dinossauros

Paleontólogo descobre ovos fossilizados de dinossauro em Prudente

Publicidade

Veja também