“Foi um momento mágico saber que, oficialmente, sou um atleta olímpico”

Bruno Lins, atleta olímpico

Esportes - MARCO VINICIUS ROPELLI

Data 05/11/2019
Horário 05:06
Marco Vinicius Ropelli - O atleta olímpico se orgulha ao mostrar a tão esperada medalha das Olimpíadas de 2008
Marco Vinicius Ropelli - O atleta olímpico se orgulha ao mostrar a tão esperada medalha das Olimpíadas de 2008

A bagagem de Bruno Lins voltou da Suíça mais pesada no sábado. Mesmo tendo deixado o peso da espera e da angústia em terras europeias, o atleta olímpico - morador de Presidente Prudente - trouxe consigo a medalha de bronze, entregue após 11 anos da conquista, nas Olimpíadas de Pequim-2008. Na ocasião, ele, o maranhense José Carlos Moreira (Codó), que também treina em Prudente; o amazonense Sandro Viana; e o potiguar Vicente Lenílson, ficaram em quarto lugar no revezamento 4x100, entretanto, após um atleta da equipe jamaicana ter sido pego em exame antidoping, a eles foi, de forma justa, concedida a honra do bronze, até então a única medalha de Bruno Lins, àquela que o leva ao seleto grupo de atletas reconhecidos pelos deuses gregos do Olimpo. Agora, ele inicia os treinos visando os Jogos Olímpicos de 2020 no Japão.

Como foi para você receber essa medalha olímpica?

Esse quarto lugar, eu acho que eu ia morrer me questionando com ele, porque na ocasião foram apenas sete centésimos, era a minha primeira Olimpíada e antes da prova eu tinha a convicção de que subiria ao pódio, eu não sei se foi a confiança de uma primeira Olimpíada, de um primeiro momento, mas eu tive essa convicção, e acabou que ficamos em quarto lugar. Passados anos eu olhava o diploma e me questionava novamente, poxa, quarto lugar. Eu até fazia uma brincadeira, dizendo que quando as minhas filhas se casassem, tivessem filhos, e viessem passear em casa, minhas filhas diriam: O vovô vai contar a história do quarto lugar, ouçam ele pacientemente, aí eu iria começar: meus netinhos, seu vô foi quarto lugar... [risos] Mas graças a Deus, a gente teve o privilégio de poder subir ao pódio, justamente. O Nesta Carter foi flagrado no exame e o Comitê Olímpico Internacional tomou todas as providências para poder fazer a desclassificação.

E sexta, na Suíça, como foi?

Contando a história da Suíça, do momento, foi fantástico, porque antes da gente subir ao pódio, passamos pelo Museu Olímpico. Eu como atleta pude conhecer mais do que é uma Olimpíada e de fato valorizar ainda mais a minha medalha. Não houve lugar melhor, ocasião melhor para a gente herdar uma medalha a não ser ali.

O que te passou na cabeça no momento do recebimento da medalha, o que te fez chorar?

No início, a primeira parte do museu a gente vê a história olímpica 700 anos a.C, então as Olimpíadas eram feitas para os atletas saudarem os deuses, no caso Zeus, o deus maior, e ali você vê o que é o espírito dos Jogos, o atleta mais perfeito, mais forte, mais rápido.  Tinham poemas gravados em seu nome, tinha moedas com o seu rosto estampado, cargos políticos importantes, então vimos que pouco mudou a valorização de uma Olimpíada a 700 a.C até uma Olimpíada moderna. De fato o atleta é um ser acima da média, então juntou essa parte que eu tinha visto da valorização, a questão da medalha, do momento tão esperado de estar com ela em mãos, na hora que eu cheguei e olhei para ela, a minha boca começou a tremer, já estava suando, eu falei, ‘não vou chorar, não vou chorar’, aí eu pensei, ‘quer saber? Deixa rolar!’. Aí caíram as lágrimas e foi um momento fantástico.

Para a cidade de Presidente Prudente, essa conquista engrandece ainda mais o histórico do atletismo que a cidade já possui?

É claro, só de revezamentos, a base em si sempre teve atletas de Prudente. Em 1996, o André [Domingos] foi medalhista [em Atlanta], o Jayme [Netto] era treinador. Em 2000, o time era basicamente todo prudentino, Vicente Lenílson, André Domingos, Claudinei Quirino, Edson Luciano, todos treinavam com o Jayme, então é uma medalha basicamente aqui da região, atletas construídos aqui. Em 2008, mais uma medalha junto com o Jayme Netto, então eu, o José Carlos, o Vicente treinávamos aqui, mas somos naturais do Nordeste, e o Sandro Viana do Norte. É bacana, é fantástico, e só de Olimpíadas são três, fora as medalhas de Panamericanos, de mundiais, de Troféu Brasil, então essa pista aqui, se pudesse fazer um histórico dela de medalhas e de conquistas, ela estaria, se não a primeira do Brasil, no topo da velocidade, estaria brigando ali entre as pistas mais vitoriosas do Brasil em termos de resultados. A gente espera que os olhos se voltem mais a Prudente porque aqui o lugar é especial.

“O ATLETA DEPOIS QUE VAI PARA UMA OLIMPÍADA NÃO TEM OUTRA META A NÃO SER ESSA. EU ACREDITO TER MUITAS CHANCES DE SER CONVOCADO E FAZER UM BOM CAMPEONATO LÁ, ESSE É O MEU OBJETIVO”

Quais são as suas pretensões para o próximo ano?

O sonho de mais uma Olimpíada, 2020. O atleta depois que vai para uma Olimpíada não tem outra meta a não ser essa. Em 2008 foi a primeira, 2012 a segunda e 2016 a terceira, agora não há outro foco para mim a não ser esse. Essa reta final é tentar as Olimpíadas, eu acredito ter muitas chances de ser convocado e fazer um bom campeonato lá, esse é o meu objetivo.

Depois de ter recebido uma medalha olímpica, essa vontade de fazer mais uma Olimpíada ganhou mais força?

Essa medalha traz paz. Antes da gente receber, havia certo estresse, certa discussão entre os membros do revezamento, porque vai passando o tempo vai ficando aquela angústia, aquela ansiedade... A medalha devia ter saído entre março e abril, mas aí teve um problema do COI e não recebemos, então gera sim uma paz muito grande, gera uma tranquilidade saber que a minha medalha está comigo, está em casa, agora é colocar todo o foco, todo o gás nas Olimpíadas de 2020 e saber que agora está tudo em paz, e os problemas que vierem serão bem menores do que tudo o que a gente passou para receber essa medalha.

Qual a sua visão em relação ao esporte na região e em todo Brasil? Você acha que precisa de mais apoio ou o apoio caminha melhor do que no passado?

No Brasil, a questão da medalha, a questão de atleta, a questão de resultado, a questão de Olimpíada, a questão de você ser atleta no Brasil é muito delicada. Muitas vezes, qualquer atleta desses que está aqui precisa fazer um grande resultado para conseguir um ‘nossa, parabéns!’. A gente tem que ter um olhar para a base, para a escola, tem que ter uma fusão de escola, faculdade e governo. Tem que ter um ciclo independente, às vezes surge um grande treinador, às vezes surge um grande atleta e depois levam-se muitos anos para renovar esse ciclo. Nos Estados Unidos, esse ciclo é constante, é muito rápido, tem muito investimento, eu acho que tem que valorizar mais o atleta para que ele possa ter mais reconhecimento e mais valor. Muitas vezes o atleta não consegue obter um resultado, acredite, não é porque ele não quer, não é por falta de empenho e de vontade, às vezes ele deu o máximo dele, só que naquele momento não saiu. O Brasil tem uma capacidade muito grande, tem uma força genética muito grande, só falta a gente se organizar para a gente se tornar uma potência.

 

 

 

 

 

 

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