Enquanto os números apontam para o avanço da Covid-19 no Brasil, com aumento de casos e mortes nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta quinta-feira que o país vive um "finalzinho de pandemia".
Ontem, o país registrou 848 mortes pela Covid-19 e 54.203 casos da doença. Trata-se do maior número de mortes diárias desde o início de outubro, sem levar em conta os registros elevados ocorridos logo em seguida ao apagão de dados que houve em novembro. A média móvel de mortes também é a maior desde o fim de setembro. No total, o país registrou 179.032 mortes por Covid-19 e a 6.730.118 infecções desde o início da pandemia.
A situação da pandemia no país se agrava em um momento de temor por causa das festividades de fim de ano, que podem elevar ainda mais os números de pessoas infectadas e mortes.
Em evento para inaugurar trecho da ponte sobre o rio Guaíba, em Porto Alegre, Bolsonaro disse ainda que o suposto fim da pandemia se deve ao tratamento precoce com uso de cloroquina. O uso do medicamento para a Covid-19 não possui respaldo científico, após diversos estudos não apontarem benefícios da droga na prevenção e no tratamento da doença.
O presidente também comparou o Brasil com parte do continente africano, dizendo que lá há menos óbitos do que o esperado para "pessoas com deficiência alimentar, mais pobres". Bolsonaro disse que o suposto sucesso dos países africanos é consequência do uso prévio da cloroquina para tratar malária, mais uma vez sem evidências científicas. "Precisa ser muito inteligente para saber? Não precisa", afirmou.
O Brasil é o único país do mundo onde continuam a circular com frequência notícias falsas sobre cloroquina, ivermectina e azitromicina como curas para a Covid-19, que já foram desmentidas por diversos estudos científicos, segundo o levantamento "Political (self) isolation" (Auto-isolamento político), realizado pelo LAUT, INCT.DD e o laboratório de pesquisa forense digital do Atlantic Council. E, ao contrário da maioria dos países, apenas no Brasil, na Índia e nos EUA as disputas políticas internas são o principal motor para a desinformação sobre a pandemia.
Bolsonaro, por fim, disse que o governo federal não pode "atuar diretamente na questão da Covid por uma decisão judicial".
Em abril, o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou que Estados e municípios regulamentassem suas próprias regras de isolamento. O governo federal, porém, tentou impor regras federais e sinalizou, desde o início da pandemia, que desejava manter as atividades econômicas abertas.