O filme “Encurralado”, dirigido por Steven Spielberg, lançado em 13 de novembro de 1971 (EUA), é muito instigante. Assisti duas vezes, é muito interessante. Impossível deixar de pensar na genialidade de Spielberg. Ele tinha 24 anos quando o lançou e transformou, quebrando paradigmas. Rodado em 13 dias, de cara a produção quebrou as regras de um filme feito para a TV. Em vez de filmar no conforto de um estúdio, com os atores simulando dirigir com o cenário em movimento projetado em uma tela aos fundos, Spielberg insistiu em rodar nas estradas da Califórnia, com carros e pilotos de verdade.
“Encurralado” fez barulho. Foi a estreia desse “gênio indomável”. Trata-se de um educado vendedor de eletrônicos, dirigindo em uma estrada de duas pistas, quando encontra um caminhão-tanque que está sendo guiado por um motorista invisível, o qual parece gostar de irritá-lo com brincadeiras perigosas e sinistras. Incapaz de escapar do enorme caminhão demoníaco, David Mann encontra-se em um perigoso jogo e, quando a perseguição aumenta a níveis mortais, David precisa encontrar forças para derrotar o gigantesco torturador.
O diretor abraçou o terror nunca visto, mas sugerido. A ameaça invisível e aleatória é perturbadora. Em “Encurralado”, a tragédia poderia acontecer com qualquer um, comigo ou com você. Algo interessante é que assisti ao filme há muitos anos e, naquela época, o considerei um suspense muito atípico, irrequieta ansiava pelo fim. Hoje, observo que naquela época, ceguei-me às riquezas de detalhes com cenas muito interessantes como a do bar, quando o protagonista encena um estado mental paranoico. A cena é muito real, detalhes evidenciando desespero em busca pelo rosto do motorista invisível. Suspense, pensamento ilógico, o lanche que chega e a ânsia que o invade é o exemplo de sintomas de extrema ansiedade.
Paranoico tem um surto de loucura, agredindo o suposto motorista do caminhão-tanque de guerra, e tudo torna-se pior, pois reconhece que não era. Ele encena com muita propriedade um estado de medo excessivo e terror. Hoje, assistindo, tive outra impressão e, assim, surgiram novos desdobramentos. Como psicanalista, penso que o filme é um excelente modelo para demonstrar alguns estados psíquicos vistos com muita frequência na clínica, como o de pânico, ansiedade, medo do colapso, terror sem nome, etc.
Há uma outra cena num posto de gasolina, em que aparece a frentista dizendo para ele que, enquanto abastecia, era para ele apreciar a sua coleção de cobras e aranhas. Mal sabia a velha que ele já estava sendo perseguido por “gigantescos monstros”. Nesse momento, o caminhão invade o posto de gasolina para matá-lo. Em seguida, voam cobras e aranhas para todo lado. A psicose, neurose e psicopatia ou sociopatia, aparecem demarcando territórios mentais da estrutura da personalidade.
Para quem estiver pensando que o transtorno de pânico, psicose, ansiedade, paranoia e depressão são sintomas simples e que uma boa conversa poderá mitigá-los e curá-los, assistaM o filme, sob o viés psicopatológico. Respeitem, pois, é um grande sofrimento e sem dimensão. Busquem ajuda especializada. O protagonista estaria psicotizando? Estaria em paranoia, pânico ou em colapso nervoso? O que fazer para livrar-se desses estados ou transtornos chamados de pânico, que assolam a humanidade? O que fazer com o medo que nos paralisa? De onde vem o terror?