Empresas familiares: entre o sucesso e o caos

OPINIÃO - Walter Roque Gonçalves

Data 20/10/2024
Horário 04:30

No Brasil, cerca de 90% das empresas são familiares, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse tipo de organização, que pode ir de pequenos negócios a grandes corporações, apresenta vantagens e desafios únicos. Como consultor empresarial, tenho observado diversos modelos de gestão, desde casais até arranjos que envolvem filhos e netos em funções estratégicas. Os laços afetivos trazem tanto oportunidades quanto dificuldades que afetam diretamente a gestão e o futuro do negócio.
Uma questão comum é a dificuldade em separar pró-labore e dividendos. O pró-labore, remuneração pelo trabalho, deve refletir o nível de responsabilidade, enquanto os dividendos, vindos dos lucros, podem ser divididos igualmente (caso a participação societária seja também igualitária). Não distinguir essas remunerações gera conflitos e desmotiva os que assumem papéis mais exigentes.
Outro problema frequente é a "multigerência", que enfraquece a estrutura organizacional. Acontece quando membros da família interferem diretamente no trabalho dos líderes e seus subordinados, sem respeitar a cadeia de comando. Isso cria insegurança e confusão, os funcionários não sabem mais a quem se reportar e passam a ter medo de agir dentro da empresa. 
Conflitos familiares expostos no ambiente de trabalho também são prejudiciais. Discutir questões pessoais na frente dos funcionários gera instabilidade e transmite um péssimo exemplo. Esse comportamento compromete o clima organizacional e afeta a produtividade.
Apesar dos desafios, as empresas familiares têm características que podem levá-las ao sucesso. O compromisso com o legado é um motivador importante, pois os membros costumam ter um vínculo emocional com o negócio. A flexibilidade nas decisões também é um diferencial, permitindo que se adaptem rapidamente às mudanças do mercado.
A presença de novas gerações traz inovação aliada à tradição, combinando valores históricos com novas ideias. Essa mistura pode ser uma vantagem competitiva em mercados onde confiança e história são fatores decisivos para os consumidores.
Para superar os desafios, é crucial adotar práticas de gestão que garantam a separação de papéis, uma hierarquia clara e o respeito mútuo. A profissionalização da administração, com processos bem definidos, ajuda a evitar problemas de multigerência e conflitos. Com essas ações, as empresas familiares podem construir uma base sólida para enfrentar o mercado, aproveitando ao máximo seus pontos fortes sem que os laços familiares se tornem uma fraqueza.
 

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