Êeeee, boi!

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 16/06/2024
Horário 04:30

Cena 1 - Na encenação do Boi de Mamão em Santa Catarina, o palco se enche de cores e ritmos enquanto a história se desenrola. Pai Francisco guia o Boi, seguido por Maricota, em uma dança cheia de simbolismo. A Lata Velha tenta atrapalhar, mas a Benzedeira protege o Boi com suas rezas. Os tambores ecoam, marcando o ritmo da dança e envolvendo a plateia. O Boi é perseguido, enfrentando desafios e adversidades, até ser capturado pelas forças sombrias. No entanto, com a ajuda dos demais personagens, ele renasce triunfante, celebrando a vitória do bem sobre o mal.
Cena 2 - A apresentação do Bumba Meu Boi na Praça Antônio Lobo – centro da cidade de São Luis (MA), inicia-se com a entrada dos personagens principais, como o Boi representado por um boneco colorido e imponente, e o mestre da brincadeira, que conduz a narrativa. Ao longo da encenação, outros personagens típicos, como Catirina, Mateus, Pai Francisco, entre outros, ganham vida em meio a danças e cantigas. Os tambores e instrumentos de percussão marcam o ritmo acelerado da história, enquanto a trama envolve elementos de amor, morte, ressurreição e festa, onde a comunidade se une em celebração à vida.
Nunca poderia imaginar que eu viveria cenas tão parecidas nas visitas que fiz nas últimas duas semanas na Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade Estadual do Maranhão. Que encanto é esse pelo boi? Personificação da força e da virilidade? Ícone de sacrifício e oferenda divina?
Eu sei que o boi é uma figura simbólica rica e multidimensional em diversas religiões e culturas ao redor do mundo. Lembrei do Mito do Minotauro, na história do rapto de Europa por Zeus, que se transformou em um touro branco para levá-la para Creta. Ou de Nandi, o touro sagrado do hinduísmo, que serve como montaria (vahana) do deus Shiva. E o famoso episódio do Bezerro de Ouro (Êxodo 32) lá do Antigo Testamento, onde os israelitas, esperando por Moisés que estava no monte Sinai, criam um bezerro de ouro e o adoram?
Na literatura e na arte brasileira, o boi frequentemente aparece como um símbolo de força, sacrifício e transformação. Obras literárias como "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, retratam o boi como uma figura de luta e sobrevivência, espelhando a própria luta dos sertanejos contra a adversidade imposta pela natureza e pela desigualdade social. Na Umbanda, o boiadeiro é uma entidade espiritual que representa coragem, força, determinação e proteção. Dualidade da natureza humana até a conexão com a fertilidade e o divino. Xetruá, boiadeiro!
 

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