Do jornalismo à medicina: “Jornalista é inquieto por natureza”

Wilson Constante, jornalista e médico

Personagem - OSLAINE SILVA

Data 30/08/2020
Horário 09:15
Cedida - Wilson com sua mãe, no dia de sua formatura em Medicina
Cedida - Wilson com sua mãe, no dia de sua formatura em Medicina

“Vejo essa minha inquietação como algo muito saudável. Quero fazer muita coisa ainda!”, exclama o médico que na linha de frente do enfrentamento à Covid-19 atua em uma ESF (Estratégia de Saúde da Família) na zona rural de Teodoro Sampaio. Com passagem de estagiário ao primeiro registro em carteira efetivado pelo jornal O Imparcial, Wilson Constante, 35 anos, hoje se dedica à medicina. Ele costuma dizer que não abandonou o jornalismo, mas abraçou a medicina. E continua atento a ouvir histórias! 

Em que momento da vida decidiu seguir uma nova carreira e por que a Medicina?
Acredito que comecei a me interessar pela profissão em 2005, quando meu pai, Wilson José Constante, ficou muito doente, e acabou falecendo com apenas 58 anos de idade. Vitimado por um câncer e eu, minha irmã Ana Lúcia, que é psicóloga, e nossa mãe, Mariza Lucena Constante, que hoje está com 70 anos, passamos longas horas com ele dentro do hospital nas muitas sessões de quimioterapia. Fase esta que naturalmente tive um contato grande com o pessoal da saúde. Acho que foi aí mesmo que meu interesse pela medicina foi aguçado. 

Como foi trocar as redações pelas unidades de saúde?
Olha, com todo esse período de transição, de estudo pesado que exige muita dedicação, somos preparados muito bem para atuar na vida profissional. Ou seja, tivemos bastante tempo para nos prepararmos. Não é algo de uma hora para outra, são muitas cargas horárias de estágios, exclusivamente atendendo dentro de um hospital, então, não diria que foi uma mudança brusca. Mas, com certeza a atuação é diferente.

Como tem sido a sua rotina num período tão crítico da saúde pública como o atual?
Trabalho na zona rural que a gente já tem conhecimento das dificuldades naturais enfrentadas nestas áreas, e que foram agravadas pela Covid-19. Andamos muito por dia. Às terças e quintas-feiras, temos um ponto fixo que fica num assentamento chamado Água Sumida. Mas, nos demais dias, a equipe vai para pontos de apoio onde muitos trabalhos são desenvolvidos, visitas em domicílio a pacientes. É bastante puxado, cansativo, mas muito, muito prazeroso.

Do que sente mais falta no jornalismo?
Nossa, acho que de ouvir as tantas histórias diferentes, a rotina de muito trabalho na redação, com os colegas todos ali. A rotina das muitas matérias factuais nas ruas. O ir até a notícia. Acho que é isso.

Existe alguma semelhança que você possa destacar entre o jornalismo e a medicina?
Pelo menos a meu ver, a semelhança está no fato de ouvir histórias. Jornalismo é isso, ouvir e tentar contar, narrar, passar aquilo para o ouvinte, o leitor. E num consultório é igual. Primeiro de tudo, ouço ali a história do paciente. Ele conta o que está sentindo. Em ambas, entendo que é importante a empatia de se colocar no lugar do outro para entender melhor o que está acontecendo. No jornalismo, para que eu possa contar para o outro. E na medicina, para eu saber realmente o que está acontecendo, qual será o melhor tratamento a seguir. E agora nesta pandemia os relatos, depoimentos, são tantos...É preciso entender que o paciente quando vai a um hospital, a uma unidade de saúde, está indo pedir socorro. Porque se ele soubesse a solução a tomar, certamente resolveria sozinho. A minha relação com meus pacientes é a melhor possível.

Antes mesmo de se formar médico, quando ainda estava na Unichapecó (Universidade Comunitária da Região de Chapecó), fez parte da cobertura do acidente do avião da Chapecoense. Como foi isso?
Então, eu me coloquei como voluntário à disposição da filial da Rede Globo para ajudar na cobertura daquele trágico acidente, que morreu um professor meu muito querido, que era médico do time, além de amigos jornalistas. Enfim, foi algo muito, mas muito triste. O que a gente via era uma dor muito grande. A palavra que melhor define aquele momento é consternação. E quando uma tragédia dessas acontece, a gente fica chocado, mas com uma vontade enorme de querer ajudar de alguma forma. E ali, a maneira como eu poderia fazer isso era como jornalista. Assim que o avião caiu, os olhos do mundo inteiro se voltaram para a cidade, mas a imprensa toda demorou um tempo para chegar e quando chegaram fiquei ali auxiliando todos os jornalistas que precisavam. Lembram aquela cena das lágrimas correrem pelo rosto do repórter Guido Nunes sendo abraçado pela mãe do goleiro Danilo? Presenciei muitas cenas como aquela. Famílias despedaçadas, filhos que perderam os pais... 

Qual foi a importância de O Imparcial na sua vida? E como a sua passagem pela casa colaborou com a sua formação pessoal e profissional?
Isso é uma história bastante interessante. Minha família é muito incentivadora à leitura. Então, minha relação com O Imparcial é de longa data, desde que eu era criança meu pai levava o jornal todos os dias para casa para que toda a família lesse. Veja bem, desde pequeno eu já me interessava pelo jornalismo, antes mesmo de saber ler. Eu tenho em pastas, recortes de matérias dos anos 90 que achava interessante, por exemplo. E veja só que curioso, meu pai era policial, então, as páginas que continham matérias sobre esse assunto, imagina, ele lia todas. E eu comecei meu estágio no jornal exatamente no setor policial. E quando me formei, fui efetivado, o meu primeiro registro em carteira, e fazendo polícia. Manchetei muita coisa no Imparcial. Guardo praticamente tudo! De vez em quando, eu pego estas pastas e vou folheando. Nossa, são muitos fatos que marcaram e foram registrados por O Imparcial. Tenho muito orgulho de ter passado por esta casa. Foi um período muito feliz da minha vida. Fiz muitas amizades. Fiquei feliz em saber que o Sinomar está à frente do jornal. Ele sempre foi uma referência pra nós como colunista social. Quero agora esta entrevista nas minhas memórias, guardada com todas as outras em minhas pastas.

Além de O Imparcial, por onde mais passou com o jornalismo?
Fiz estágios na Rádio CBN, na Record Rio Preto, sucursal de Prudente; no SBT Araçatuba; já formado, fiz freelance na Folha de São Paulo e Estadão, trabalhei como repórter e produtor na TV Fronteira, tanto em Prudente quanto em Dracena, e saindo daqui fui para a TV Morena em Campo Grande (MS).

Tem outras ambições profissionalmente, na vida, ainda? 
Jornalista é inquieto por natureza e essa minha inquietação vejo como muito saudável. Quero fazer muita coisa ainda. Neste momento, depois de anos, estou de volta à Unoeste, faculdade que adoro, fazendo a minha pós-graduação (especialização em Medicina do Trabalho). Mas tenho muitos projetos de vida ainda. Não é porque fiz Jornalismo e Medicina que meus sonhos estão encerrados [risos]. De jeito nenhum. Estou sempre preparado para novos desafios.

Fotos: Cedidas

Wilson Constante, jornalista e médico, atuou em O Imparcial e hoje se dedica a cuidar de pacientes em unidade de saúde de Teodoro Sampaio

Wilson guarda em uma pasta as matérias que escreveu em O Imparcial: "Guardo praticamente tudo!"

Wilson Constante, jornalista e médico, teve atuação em O Imparcial, TV Fronteira, e hoje se dedica a cuidar de pacientes em unidade de Teodoro Sampaio

Wilson teve atuação em diversos meios de comunicação

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