“Casamento Australiano”

O filme “Casamento Australiano” (2019) é aparentemente uma comédia, mas ao mesmo tempo, uma reflexão sobre aspectos importantes sobre diversidades e toda sua implicância social. Wayne Blair é o diretor e tem como elenco o divertido Gwilym Lee, a aborígine australiana; Miranda Tapsell, Kerry Fox e Shari Sebbens. 
Lauren e Ned estão noivos e tem apenas dez dias de férias, para realizar o casamento dos sonhos. O único problema é que a mãe da noiva, simplesmente, desapareceu sem maiores explicações e o casal precisa embarcar em uma aventura pela Austrália para encontrá-la. O surpreendente é que a mãe de Lauren resolve “passar a limpo” todo o seu passado. Decide fazer uma viagem “aos seus aspectos mais primitivos e inconscientes”, ou seja, filogenéticos e ontogenéticos, etc.. E de que forma podemos fazer isso? 
A psicanálise tem em sua essência, dar luz aos aspectos mais primitivos, do desconhecido universo inconsciente. Em sua técnica, teoria e metodologia, a psicanálise provoca, evoca e invoca regressões - em aliança com o analista - a tudo que foi submetido a repressões, censuras, fuga da realidade, colapsos, traumas, ou seja, ao desconhecido ou ao não-visitado mundo psíquico. Sua mãe deseja, inconscientemente, re-virar tudo aquilo que permanece “entalado” em sua garganta, retornando às suas origens. O mais engraçado é a forma como ela faz essas viagens. Ela abandona sua casa, esposo, cãozinho, etc., e parte, sem destino, “sem eira nem beira” e sem lenço e sem documento, literalmente. Regride para a adolescência, aonde chega até a experimentar maconha, e faz tudo que bem entende. Liberdade. Chega a ser presa. 
E o casal de noivos, principalmente a filha, busca, passa a desvendar os mistérios de sua origem. E o surpreendente é que chegam, de forma inesperada, numa ilha de aborígenes no continente australiano. É fascinante observar, a partir do encontro da filha com a mãe, os costumes, tradições e hábitos dos aborígenes. E vale a pena prestar muita atenção ao início do filme. Ao final tudo acaba explicando-se de forma genial. 
Minhas impressões foram as melhores a respeito da lição do filme. Racismo, preconceito, diferenças, diversidades, repressão, discriminação e exclusão são aspectos que dançam ao som de cada um dos personagens do interessante filme de Waine Blair. Há muito que dizer sobre o filme, mas o espaço é limitado. Há detalhes riquíssimos e intenções emocionais de detalhes como: música que o esposo ouve pela dor da separação; celular que toca insistentemente com ligação da mãe para a filha, e ela posterga em atender; os aborígenes e sua cultura, etc. 
Humbero Eco, em seu livro “Migração e Intolerância”, sustenta com maestria que “a compreensão mútua entre culturas diversas não significa avaliar a que o outro deve renunciar para se tornar igual, mas compreender mutuamente o que nos separa e aceitar essa diversidade”, e também que, “eliminar o racismo não significa demonstrar e se convencer de que os outros não são diferentes de nós, mas compreendê-los e aceitá-los em sua diversidade”. Finalizando, divido com uma citação de Zhao Tingyang: “Toda coisa perecerá caso se torne exatamente igual às outras [...] A harmonia faz as coisas prosperarem, ao passo que a uniformidade as faz perecer”.
 

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