É impossível trilhar o caminho de perfeição cristã sem antes realizar um bom exame de consciência acerca das próprias falhas, da conjuntura espiritual em que se encontra e, sobretudo, acerca do defeito dominante pessoal. O autoconhecimento é uma dádiva e representa um dos pilares de uma vida espiritual sadia e proveitosa. Já dizia Sócrates, “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”.
Ao longo da história, diversos pensadores e teólogos afirmavam categoricamente que o autoconhecimento é um símbolo de humildade. O conhecimento de nós mesmos é um excelente bloqueio contra o orgulho. Se tivermos um bom conhecimento próprio, certamente seremos capazes de enfrentar as tentações advindas da soberba.
O conhecimento de si mesmo, além de um ato de humildade, é a base da prudência, pois permite ao homem compreender quais são as ocasiões de pecado com o intuito de que, conhecendo-as, consiga fugir das tentações e perseverar no Sumo Bem. Ademais, o autoconhecimento é a base axiológica da sinceridade e honestidade entre os homens. Já dizia Shakespeare, “Isto acima de tudo: a ti mesmo sê sincero; e disto deve seguir-se, tão certo quanto a noite segue o dia, que não poderás ser falso a homem nenhum”.
Com o autoconhecimento, adquirimos uma compreensão da dimensão de nossos próprios pecados e falhas. Após compreendê-los, em um ato de humildade, devemos confessá-los. Em última instância, pode-se dizer que a honestidade consigo mesmo é a base de nossa purificação. “O princípio de nossa purificação é a humilde confissão de nossos pecados”. (Santo Agostinho)
Entretanto, o conhecimento da própria miséria não pode representar a causa de um profundo desânimo ou fatalismo. Daí decorre a importância do conhecimento de Deus. Disse Pascal, “É igualmente perigoso ao homem conhecer Deus sem conhecer sua miséria e conhecer sua miséria sem conhecer Deus”. Destarte, a sinceridade consigo mesmo e a plena compreensão de Deus guardam uma proximidade indissociável. Nesse sentido, afirmava Santa Teresa de Jesus, “E a mim parece que jamais chegaremos a conhecer a nós mesmo se não procurarmos conhecer a Deus; contemplando Sua pureza, veremos nossa sujeira; considerando Sua humildade, veremos o quanto estamos longe de ser humildes”.
Portanto, busquemos sempre o autoconhecimento oriundo de uma boa meditação e de um bom exame de consciência. A honestidade consigo mesmo é libertadora, pois é um remédio contra a escravidão do pecado, do defeito dominante e, até mesmo, das limitações impostas por ideologias políticas alienadoras. Sobre a importância do exame de consciência, o teólogo Josemaría Escrivá dizia, “Há um inimigo da vida interior, pequeno, bobo, mas muito eficaz, infelizmente: o pouco empenho no exame de consciência”.