Lá dentro da mata, vejo o solo escuro e úmido nutrindo as plantas que se debruçam sobre o fio d’água. Vejo também musgos macios cobrindo as rochas, liquens pintando o tronco das árvores e borboletas passeando sem pressa, como se soubessem que aquele é o ponto onde tudo começa. Posso ver uma trilha aberta no meio da vegetação, um caminho onde o chão já não é tão úmido, onde raízes foram expostas e folhas já não se acumulam como antes. Posso ver algo esquecido: um plástico, um pedaço de papel, tocos onde havia árvores, cursos d’água desviados ou assoreados, pegadas de quem veio apenas para admirar e partir.
Na foz do grande rio, vejo um encontro de forças: a água doce que viajou por terras distantes se mistura à vastidão salgada do oceano. Vejo o rio se desfazendo em braços e canais, formando deltas que desenham novas paisagens, ou desembocando direto, com ímpeto, na imensidão azul. Vejo a dança dos sedimentos, que a corrente carrega como memórias da terra, depositando histórias no fundo do mar. Vejo manguezais enraizados na lama fértil, berçários de vida, onde caranguejos se escondem e aves pescam com paciência. Vejo golfinhos que sobem o rio e peixes que descem para o mar, num ciclo que não conhece fronteiras. Vejo também cidades crescendo às margens, portos movimentados, barcos indo e vindo. Vejo construções que moldam o curso das águas, assoreando canais e transformando deltas. Vejo redes lançadas, pescadores que conhecem os segredos da maré, mas também vejo lixo trazido pela correnteza — garrafas, plásticos, objetos sem dono, memórias de um consumo que não se desfaz tão facilmente quanto as ondas na areia.
Se estou na praia, vejo ondas quebrando, espuma branca desenhando padrões efêmeros na areia, gaivotas planando no vento, barcos ao longe, um horizonte que parece infinito. Se estou no mar aberto, posso ver reflexos do céu, o sol riscando a superfície, peixes nadando sob as ondas, o azul profundo que muda de cor conforme a luz.
Vejo também trilhas invisíveis traçadas por navios gigantes, carregando mercadorias, cruzando oceanos. Vejo plataformas fincadas no azul profundo, extraindo riquezas do fundo do mar. Vejo ilhas de plástico flutuando, testemunhas de um mundo que descarta mais do que pode recuperar. Mas também vejo sinais de esperança: barcos de pesquisa navegando, áreas protegidas, corais sendo monitorados, mutirões recolhendo resíduos da praia. Vejo marcas de quem tenta entender e reparar, mesmo que o mar leve tempo para esquecer. Parece que tudo que existe alimenta a terra ao redor, antes de seguir seu caminho!