"American Crime Story" (1ª temporada): O povo contra O. J. Simpson

Cinemateca

COLUNA - Cinemateca

Data 11/09/2024
Horário 09:00

A maior audácia da primeira temporada de “American Crime Story” foi salvar a imagem da advogada Marcia Clark, após décadas de escrutínio pela mídia.

A série de Ryan Murphy é uma das mais audaciosas dos últimos tempos, pois trata de uma discussão complexa: o choque entre as duas maiores obsessões americanas: o racismo e as celebridades, no pior timing possível e usado a favor de um desserviço.

A maior surpresa da obra é abordar toda a misoginia por parte da sociedade americana, que acreditava ter “carta branca” para fazer o que bem entendesse. A vítima, Nicole Brown, teve sua morte banalizada e a advogada de acusação, Marcia, foi humilhada pela imprensa e teve sua vida destruída.

Para explicar brevemente: Marcia foi advogada de acusação no maior julgamento do século 20, onde o acusado era O.J. Simpson, um famoso esportista que era o maior suspeito do homicídio da esposa, Nicole. Ela era constantemente agredida por ele. O.J. foi absolvido mesmo tendo seu DNA na cena do crime e inúmeras provas apontando para ele.

No episódio 6, “Marcia, Marcia, Marcia”, a discussão sobre o machismo é aprofundada, listando as várias humilhações que a advogada passou na época. De acordo com a crítica, o episódio tem a melhor atuação de Sarah Paulson, mesmo a concorrência sendo grande, já que a atriz é uma das mais prestigiadas de Hollywood.

Durante todo o episódio, há uma queda livre de uma mulher, que teve sua vida destruída entre piadas sobre sua aparência, fotos de nudez vendidas para a imprensa, chacota na TV e etc..

Atualmente, a opinião pública é que O.J. matou Nicole, mas e a opinião sobre Marcia?

Uma das protagonistas do maior julgamento de todos, Marcia era odiada por ambos os lados: ou ela “acusava um inocente” ou era a “incompetente que falhou em provar a culpa dele”.

Um ano antes do lançamento de ”American Crime Story”, a atriz, Tina Fey, foi indicada ao Emmy por parodiar Marcia em “Unbreakable Kimmy Schmidt” onde interpretava uma advogada burra e incompetente. O estereótipo persistiu até o lançamento da série.

Quando a atriz Sarah Paulson venceu o Emmy, Marcia estava ao seu lado, de cabeça erguida. Ela era a mulher humilhada a quem os EUA deviam se desculpar. Ela foi apenas uma, na enorme lista de mulheres publicamente humilhada nos anos 90, por se posicionarem contra o machismo e os agressores. Juntam-se a ela nomes como Tonya Harding (filme “Eu, Tonya”) e Lorena Bobit (filme “Loreta”).

Trecho do discurso de Sarah no Emmy: “Quanto mais aprendi sobre você, mais tive que reconhecer que eu, e o resto do mundo, fomos superficiais e irresponsáveis em nosso juízo de valor, e eu estou aqui hoje, para te pedir desculpas”. Disponível no Disney+.
 

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