“A vida secreta de Walter Mitty”

O filme de Ben Stiller, chamado “A vida secreta de Walter Mitty”, é muito interessante. Retrata de forma curiosa, como as pessoas tímidas fazem para sobreviver. Assistindo o filme, fiquei encantada com a criatividade do diretor em encontrar uma forma para expressar o pensamento de pessoas inibidas, seu sofrimento, e os infinitos manejos para realizar ou não seus desejos e sonhos. 
O diretor investe totalmente, em uma linguagem estritamente simbólica. Walter Mitty (Ben Stiller) é um homem tímido, que trabalha como gerente de fotografias da revista Life. Deprimido, usa a imaginação para dar sentido a sua vida sem graça. Quando um negativo da foto que vai estampar a última capa da irônica revista desaparece, ele se vê obrigado a embarcar em uma verdadeira aventura que o fará pensar toda a sua existência. O nome da revista “Life”, significando vida, já nos remete à reflexão sobre a vida e o viver. 
A pessoa tímida expressa realmente seus impulsos, vontades e anseios? O medo de se expressar faz o tímido viver um mundo de aventuras somente no imaginário. Cria fantasias e vive ensimesmado grande parte do dia. Quando se vê em situação de estresse no mundo real, ele foge para o virtual. Vai encolhendo-se para a vida. As dificuldades em enfrentar situações inusitadas inerentes a vida aumentam dia a dia. A fuga, negação e racionalização são meios encontrados para sobreviver à dor da inibição. 
No filme, quando Walter encontra seu chefe por acaso no elevador, seu comportamento é de muito medo. Desconhecem como comportar-se. O chefe o ataca e ele não reage. Permanece mudo, evitando assim, mostrar seus recursos. Exibe então só incapacidade, medo, inferioridade, e uma impotência. Certas atitudes do tímido podem ser confundidas com vários transtornos. Então ele se retrai, fugindo da presença de seu chefe, para o mundo do imaginário. Nesse universo do imaginário, luta de todas as formas, bate, agride, exibindo seus dotes, conseguindo expressar sua força física e mental, mas só na fantasia. Então seu chefe o cutuca na testa para ele “acordar”, pois tinha se ausentado mentalmente por alguns segundos dentro do elevador. Interessado romanticamente por uma colega de trabalho dentro da redação da revista, não conseguia enviar sequer uma piscadinha pelo computador para ela, tampouco, aproximar-se dela. Passava horas imaginando como seriam os dois juntos, ou como faria para aproximar-se dela. Sua timidez era tanto que perdia todas as oportunidades. 
O tímido sente-se fracassado, inferiorizado e incapacitado. Para o tímido, o outro sempre é o melhor. O mais interessante no filme é que o fotógrafo responsável pela capa envia para Walter uns negativos que ele terá que usar para fazer a última capa da revista, pois a revista foi vendida para outra empresa. Envia também um presente para ele o parabenizando pela sua competência de muitos anos trabalhando na revista. Daí por diante ele parte para uma grande aventura em busca desse fotógrafo (Sean Penn) que se esqueceu de enviar na fileira desses negativos um único negativo. E ele precisa encontrá-lo para revelá-lo para providenciar a confecção da capa da revista. Nessa aventura, ele realiza realmente tudo que sempre teve medo, vergonha, vontade e desejos. Ele entra em contato com tudo aquilo que estava adormecido dentro dele. 
O tímido é um negativo não revelado. Muitas vezes somos um negativo não revelado. Não conseguimos mesmo expressar em cores algo de nossa vida. Somos um simples negativo esquecido em uma gaveta, nunca revelado. Vale à pena assistir.
 

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