A vida é tão rara

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 26/11/2023
Horário 05:00

Em 15 dias percorri 5 mil quilômetros pelo território paulista, entre idas e vindas de Presidente Prudente até São Paulo. Atividades de final de ano: seminários, mesas-redondas, posses de novas diretorias nas unidades da Unesp (Universidade Estadual Paulista), gravações de programas na TV Unesp, muitas reuniões com parceiros da universidade. Ufa! Conversei com muita gente... “A vida não para.” Rosana, Ourinhos, Botucatu, Bauru, São Pedro, Águas de São Pedro, Tupã. “E o mundo vai girando cada vez mais veloz”. 
Me reencontro em Dracena. Mesa de posse da nova diretora da unidade da Unesp, a querida professora Sirlei Maestá. A casa cheia. Uma certa leveza no ar. E o riso reina. Não me refiro aqui ao riso grotesco no qual tudo precisa ter “graça” (as milhares de mortes da pandemia, as catástrofes etc.), esse riso inscrito na lógica simbólica do ódio que anda circulando por aí e que é de natureza segregadora e excludente. Mas eu me refiro às cenas cômicas que distendem, desarmam e unem. Histórias anedóticas daqueles que foram chegando. O vigor quase juvenil do canto do hino da cidade. Pequenas gafes do mestre de cerimônias. E muitas músicas...
Na minha posição privilegiada, de frente para a plateia, eu podia acompanhar as reações das pessoas. Observei os mais conservadores, visivelmente incomodados com a quebra de protocolos, como a mescla do discurso dos oradores com a música. “Será que temos esse tempo pra perder”? Como se o acadêmico fosse o império da razão, não havendo espaço para a insurgência das emoções, do pensamento também apoiado na corporeidade, no afeto. 
Mas viver é como música. “Todo corpo torna-se dançarino, todo espírito torna-se ave”. E Mário Sérgio (o professor-cancioneiro) bem na minha frente, com um sorriso de menino. Devia pensar naquele ciclo harmônico da nota teimosa D (ré) como fio condutor do percurso reflexivo-musical das tensões entre a pressa da vida e o seu desejo de trilhar um percurso com mais calma. “Um pouco mais de alma”.  Era o ciclo de acordes arpejados - tocados nota por nota - que se sucediam no violão acompanhado pelas vozes das professoras.     
Pois é. O riso finamente irônico e burlesco nos faz lembrar que o sutil sorriso é uma forma crítica de olhar para o mundo. O feminino como corpo coletivo. Agora era a fala de encerramento da professora Maysa Furlan e o sonho com um mundo cada vez mais sob o comando das mulheres... Potência ativa que impulsiona o pensamento capaz de revigorar-se. “Que lhe falta para perceber?”, diz a música sendo seguida por uma pausa. Pausa esta que, provocando o silêncio, traz a resposta: “A vida é tão rara”. 

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