Quem vive ou acompanha o mundo dos rodeios sabe que o ápice para um cowboy é estar num evento no Texas ou em Vegas. E após dez dias de competições, o filho do lendário Testa, o prudentino Junior Nogueira, mais conhecido como Testinha, ganhou o título de campeão mundial de team roping “pezeiro” (laço pé) da Wrangler National Finals Rodeona NFR (National Finals Rodeo), em Las Vegas, Nevada, Estados Unidos, na semana passada. Além desse feito espetacular para sua carreira, ser o primeiro brasileiro campeão mundial na modalidade pela PRCA (Professional Rodeo Cowboys Association), o prudentino ganhou outro presente maravilhoso, o qual não tem preço: o seu segundo filho. Testinha aceitou nosso convite e em um bate-papo bacana falou sobre a carreira, seus pais, amigos e a família que formou em solo americano.
Quem foi seu parceiro nas provas?
Kaleb Driggers foi meu parceiro. Lacei com ele há quatro anos, em 2020 não laçamos juntos e estivemos mais uma vez unidos neste ano sendo campeões de pé e cabeça.
Pode me explicar em que consistem os desafios no team roping?
Aí no Brasil se fala laço em dupla, o desafio é que diferente de uma prova individual, cada cowboy depende muito do seu parceiro, do cavalo, do boi dele. Se envolvem muitas coisas pra gente tentar executar com perfeição. Eu costumo falar que envolve muitas cabeças, né? Porque são cinco cabeças toda vez, então pra fazer todas elas trabalharem e funcionarem juntas, na velocidade, correndo contra o tempo, tem que ter muito treinamento, preparo e entrosamento com o seu parceiro.
Qual foi o tempo executado pela dupla para garantir o mundial?
No penúltimo dia, a gente já tinha praticamente ganhado, mas tínhamos que laçar e parar o cronômetro no boi para o meu parceiro ser campeão também. Aí nós saímos e laçamos um boi de 7.1 [segundos], o que comparando com a arena e com o que a gente faz todos os dias, é um tempo longo, não é um tempo tão rápido. Mas às vezes é até mais difícil a gente só ter que laçar o boi e parar o cronômetro do que laçar um boi de 3’ ou de 4’ [risos]. Mas graças a Deus deu tudo certo.
Como se sente com esse resultado?O que é isso no mundo do rodeio, Testinha?
Fico muito feliz, né. Faz vários anos que eu já venho perto, fui campeão cowboy completo em 2016, ou como se fala all-around cowboy, que é uma fivela muito difícil de ganhar, por ser mais renomada. Mas a mais importante pra mim, do que eu faço, que é o laço em dupla do pé [team ropingrealer], em quatro anos fiquei reservado, um ano fiquei em terceiro... Estava batendo na trave várias vezes. E pra gente, ganhar é muito importante pra carreira. Pra eles aqui [EUA] ganhar um mundial é tipo a consagração. Não falta mais nada. Mas a gente continua fazendo as mesmas coisas todos os anos, treinando, trabalhando. E eu fico muito contente também por estar representando os meus amigos e o meu país. Isso é o que me deixa mais feliz de verdade, ver a alegria da minha família, dos meus amigos todos em volta.
Este é seu primeiro título de campeão na NFR?
Como eu disse este é meu segundo título mundial, só que desta vez laçando o pé pela PRCA [Professional Rodeo Cowboys Association].
Como é a preparação para uma prova dessa modalidade?
A gente trabalha o ano inteiro! A gente corre numa média de 70 a 75 rodeios por ano, oficiais e não oficiais. Começamos os treinamentos mais ou menos em janeiro até acabar a temporada em setembro. E começamos de novo os treinos, porque em Vegas a arena é bem menor, o gado é diferente, ai gente tenta comprar os bois parecidos, no mesmo padrão dos que estarão competindo pra treinar. E somente os Top 15 melhores do mundo podem correr. Na décima noite tem os rounds, paga-sepor round, cada noite Top 6, entra dinheiro todas as noites e no final dos dez dias tem a média também. A somatória dos dez bois que você laçou. Sempre tive muito apoio.
Pode me narrar brevemente sobre sua carreira? Quando foi que se apaixonou por esse mundo?
Ah, sou filho do lendário Testa, minha mãe, Elisiane Nogueira, também foi a primeira mulher a laçar, e competidora no Brasil. Eles se conheceram numa competição. Então, fui criado nesse meio, mas não só por isso. A minha paixão sempre foi cavalo. E eu amo o que faço. E sou muito grato por isso todos os dias. Nunca fui forçado a fazer nada, sempre tive muito apoio da minha família, da minha mãe... Mas eles sempre diziam que eu tinha o livro arbítrio para resolver o que iria fazer. Eu gostava muito da época de jogar bola também, mas eu amava laçar e fui atrás da minha paixão. Procurei melhorar, fiz todo curso que poderia fazer. Por parte do meu pai todos são cowboys, excelentes treinadores de cavalo aí no Brasil.
Quando foi pela primeira vez aos EUA?
Vim pra cá mais novo, inclusive com o Matheus Calmona, moramos juntos. Depois voltei ao Brasil e comecei a treinar cavalos por aí e graças a Deus atingi praticamente tudo que eu sonhava no Brasil. Mas, sempre tive o sonho de vir para os Estados Unidos, desde criança e querer correr e fazer carreira um dia. Escutava muitas histórias, sabe? De alguns amigos brasileiros que vieram pra cá. E fui trabalhando em torno disso. Em 2013 acabei vindo pra cá, conheci um amigo americano que foi ao Brasil numa prova da ABQM, ele me chamou pra ficar na casa dele e Deus foi direcionando tudo. Ele era amigo do Jake Barnes, que já estava aposentado e me deu uma oportunidade.
Você tem formação superior?
Falando mais um pouco sobre minha paixão, na verdade eu terminei o colégio e estava indeciso sobre o que fazer, porque eu queria virar profissional do laço mesmo, mas todo mundo falava que tinha que estudar. Então mesmo não sendo apaixonado pelo colégio prestei o vestibular pra Medicina Veterinária, fiz seis meses e depois parei. Ai comecei a treinar cavalos aí no Brasil e resolvi vir pra cá. Graças a Deus este é meu oitavo ano consecutivo nesse campeonato e eu só tenho a agradecer a Deus. Hoje moro aqui no Texas, tenho meu rancho, meus animais e estou muito feliz por isso. Fui o primeiro brasileiro a fazer história no laço. O primeiro brasileiro a ser campeão mundial Cowboy Completo e agora o primeiro brasileiro a ser campeão de laço de pé. Isso me alegra muito. Outro brasileiro que teve sucesso agora foi o Marcos Costa, que também é um grande destaque, foi campeão de laço em bezerro.
Quem é a família do Testinha na América?
Ah, sou casado com Jaqueline Gasparim, que conheci no Brasil, a gente namorou, ela veio pra cá estudar inglês, uma época, nos casamos, tivemos nossa primeira filha, a Isabella Gasparim Nogueira, e acabamos de ter mais um neném, o Jake Lucinei Gasparim Nogueira,um presente de Deus. Se meus filhos vierem montar a cavalo, laçar, vai ser porque moramos aqui e eles veem o papai, os amigos, a família todo mundo que só vive em torno disso. Vivemos em muitas viagens, rodeio e provas. Não vou forçar, assim como a minha família não fez comigo também. Se eles quiserem eu vou estar aqui pra ensinar com o maior amor e dar todo apoio. E se não, cada um tem um chamado na vida, né? Cada um tem um talento e a gente tem que fazer o que gosta.
Como foi esse período de pandemia em sua vida, Testinha?
A pandemia afetou o mundo inteiro, né? Mas graças a Deus, aonde eu moro aqui no Texas, nesse Estado, é muito forte a cultura de cowboys, até as pessoas que moram na cidade, a maioria está saindo, comprando um pedaço de terra. Cresceu muito tudo por aqui. A economia para o que a gente faz está boa. Tiveram muitas restrições no começo sim, muitos rodeios foram cancelados, mas competimos muito aqui no Texas e no norte dos Estados Unidos. Graças a Deus está tudo bem tranquilo. Muita gente se vacinou, outros não quiseram. Mas graças a Deus está indo tudo bem e já voltando tudo ao normal.
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Ele foi o primeiro brasileiro campeão mundial na modalidade pela PRCA