Um profissional que eterniza por trás de suas lentes momentos mágicos do atletismo prudentino! Se o expectador fizer uma leitura de suas imagens com o coração, perceberá que ele consegue ilustrar através do foco de uma gota de suor, de um suspiro cansado após uma disparada na pista, ou do grito de força empenhando no lançamento de um dardo, por exemplo, histórias especiais de grandes atletas! Este é Sérgio Henrique Borges, 57 anos, jornalista e fotojornalista, formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo pela Facopp (Faculdade de Comunicação de Presidente Prudente) da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista).
O Imparcial - Não apenas Presidente Prudente, mas a região é um celeiro de talentos nas mais variadas modalidades esportivas. O que falta para que estes tenham a mesma notoriedade de um Daniel Alves (futebol), de uma Tandara (voleibol), de um Xuxa (natação), de um Hugo Hoyama (mesatenista), José Roberto (técnico), etc.?
É verdade, no oeste paulista, temos uma diversidade de talentos no meio esportivo, mas também são grandes as dificuldades enfrentadas. Acredito que a construção da visibilidade e destaque dos atletas é uma questão que envolve muitas variáveis, entre elas a existência de uma infraestrutura para poder treinar, participar de competições e manter-se bem posicionado dentro do circuito esportivo em qualquer modalidade. Estes são parâmetros mínimos que, sem dúvida, podem atrair o investimento de patrocinadores e clubes. Sem isso, é muito difícil falar em conquistas e reconhecimento como atleta.
O atletismo em Prudente merece uma pista melhor diante do desempenho apresentado pelos atletas que treinam na cidade? Sejam prudentinos natos ou não?
Sim, há muito tempo merece, mas existe toda uma situação de descaso, falta de investimento e desinteresse de iniciativas públicas e privadas para construírem um espaço de diálogo e união que viabilize esta conquista para o município, sem impactar o orçamento público e comprometer outros investimentos.
"Talento Olímpico Solidário". Você acha que universidades, faculdades, colégios particulares ou públicos deveriam analisar com mais carinho essa possibilidade?
Há anos tenho ouvido treinadores e atletas de alto rendimento falando da importância da formação de base, da necessidade de investir no descobrimento de novos talentos, de apoiar projetos sociais de atletismo, das vantagens do atletismo nas escolas, valorização dos esportes olímpicos e a falta de apoio da iniciativa pública e privada para formar crianças e adolescentes para serem campeões dentro e fora das pistas. Penso que tudo se resume em três questões: planejamento, investimentos sérios e acompanhamento pela comunidade. A falta de transparência e o uso indevido de recursos, aliados à promoção pessoal nos diversos níveis, desestimulam os investimentos e afastam possíveis patrocinadores de iniciativas que poderiam dar resultados olímpicos.
Qual a real situação da “única” pista em que os atletas do atletismo treinam para suas competições? O que poderia ser feito?
Esta é uma questão antiga que, em Presidente Prudente, já devia ter sido solucionada desde a conquista da medalha de prata pelo revezamento 4x100 m, em 2000, em Sydney [Austrália]. Mas quando falta vontade política de fazer, os projetos não passam dos discursos e nem saem do papel. Hoje, estamos com uma pista com o piso deteriorado, infiltração, bolhas enormes, entre outros problemas. Francamente, é preciso muito cuidado para treinar e se livrar de alguns pontos irregulares e possíveis acidentes. Felizmente, sabemos que existe uma mobilização de setores na Unesp [Universidade Estadual Paulista], junto ao governo federal, no sentido de aprovar o projeto de reforma da pista. Espero que, em breve, possam dar boas notícias para Presidente Prudente. Já, em nível de governo municipal, a coisa é mais complicada. Não tenho conhecimento de iniciativas de curto ou médio prazo que vislumbrem a possibilidade de termos uma pista de atletismo que espelhe a importância e destaque da cidade neste esporte. É triste, mas é a realidade. Quem sabe um dia haja uma convergência de interesses públicos e privados neste sentido.
Há quanto tempo você acompanha o atletismo? Por que escolheu esta modalidade para mostrar sua beleza através do seu olhar, de suas lentes?
Faço um trabalho jornalístico retratando o atletismo há cerca de 20 anos. Antes de concluir a faculdade, eu já mantinha contato com o pessoal do atletismo. Eu sempre brinco que não fui eu quem escolhi, foi o esporte que, aos poucos, foi me mostrando sua beleza, me conquistando pelas técnicas aplicadas nas diversas provas disputadas e a plasticidade dos movimentos que favorecem um registro fotográfico diferenciado, resultado de disciplina, muito treino e superação pessoal dos atletas que se entregam totalmente de corpo e alma de olho no pódio e demais conquistas.
“No oeste paulista, temos uma diversidade de talentos no meio esportivo, mas também são grandes as dificuldades enfrentadas”
Você já deve ter vivenciado grandes e vitoriosos momentos, assim como tristes ou comoventes. Qual a sua lembrança mais feliz neste tempo de trabalho?
Sim, na assessoria de comunicação e fotojornalismo vivenciamos muitas experiências, inclusive nos bastidores. Alguns momentos são únicos: de conquistas, perdas, alegrias e tristeza, muitos deles, captados em fotografias e outros apenas registrados na mente. Poder viajar, mesmo a trabalho, conhecer outras pessoas e culturas faz parte de nossa profissão. Portanto, de lembranças felizes eu destaco as experiências culturais e contatos pessoais, resultados de meu trabalho em competições como o Troféu Brasil Caixa de Atletismo, os Grand Prixs de Atletismo, em especial as atividades realizadas a serviço da CBAt [Confederação Brasileira de Atletismo] juntamente com o jornalista especialista em atletismo Benê Turco. Época de ouro, de muito trabalho e conhecimentos em São Paulo e outros Estados do Brasil, além do trabalho nas equipes de atletismo em que atuei, em companhia do técnico olímpico Jayme Netto Junior, o qual sou grato pelos ensinamentos sobre o atletismo e a viabilidade do trabalho com os atletas.
E a mais triste?
Das histórias tristes, é fato que elas não são essencialmente tristes só por uma questão específica, mas pela natureza de sua ligação com um contexto maior. Por isso, destaco como momento triste, o caso de doping que abalou a comunidade do atletismo em 2009, com a participação de pessoas de minha convivência diária, mas que já faz parte de um passado, as devidas penalidades foram cumpridas e um grande aprendizado para todos.
Qualquer um pode pegar uma câmera ou um celular e tirar fotos de tudo. Agora, conseguir captar a dor, o medo, a superação, a alegria, a coragem, a emoção... isso é dom. O que a fotografia é para Sérgio Borges?
A fotografia é uma arte e como tal é uma atividade que vai além do simples apertar de um botão. A imagem completa, irretocável, se forma primeiro na mente, no ver o algo mais, que é diferente de enxergar, isso tudo antes da pressão no botão. Penso na narrativa fotográfica como uma extensão do 'meu eu'. Levar em conta este ponto faz a arte ser mais eficiente como mediadora do momento presente. O seu olhar é a lente mais potente e a sua escolha de onde e como focar falará muito do tipo de registro que você quer mostrar para a sociedade. Seja profissional ou amador é você e não a câmera que está mostrando as pessoas e os fatos. É a sua estética e o seu contato com o mundo que está oferecendo o registro documental e que poderá ser algo novo ou já envelhecido por seus preconceitos.
Presidente Prudente comemorou recentemente 102 anos. Qual o seu especial pedido pela cidade?
Para Presidente Prudente, cidade que me acolhe desde 1967, meu pedido talvez seja o de muitos prudentinos de nascimento ou não: ‘que tenhamos crescimento, mas com planejamento. Que as ações públicas e privadas, visando o desenvolvimento, tenham um olhar mais comprometido com a comunidade, possibilitem a geração de trabalho e renda, aliadas à preservação da história, sustentabilidade e qualidade de vida.