Zelo com o conteúdo da notícia

OPINIÃO - Homéro Ferreira

Data 18/04/2019
Horário 04:23

Muitas vezes mesclado ao entretenimento, o conteúdo jornalístico acaba relegando o zelo ao segundo plano. Falamos da mídia em geral, especialmente de produtos abrigados na internet, cujos autores ignoram que o ritmo da elaboração de notícia não tem a mesma velocidade das novas tecnologias. Porém, no afã de noticiar imediatamente, qualquer acontecimento, fazem uma corrida maluca e deixam de lado as etapas essenciais da confecção de notícia: pauta, apuração, entrevistas (notícia tem mão dupla), checagem e edição.

Enquanto veículo exclusivo de áudio, o rádio é o campeão do imediatismo e de fácil mobilidade: basta o telefone celular para que o repórter chegue ao local dos fatos falando, direto do palco do acontecimento, aqui e agora, no calor da hora... Sendo assim, as etapas se fundem e isso requer preparo diferenciado, acrescido de sensibilidade e visão periférica como condições capazes de ampliar a capacidade de reflexão para trabalhar causa e efeito, dando sentido lógico aos fatos.

Ainda há que se considerar que no rádio o tempo é mais flexível. Mas, ainda assim é preciso a consciência de que não se sai melhor quem noticia primeiro, mas quem constrói melhor a notícia. E notícia responde às perguntas básicas: o que, quem, quando, onde, como, por que, para que e acrescenta o e daí, como diz o jornalista Cássio Politi, especialista em marketing de conteúdo. A rigor, sem as repostas para todas estas perguntas não se tem a notícia que é um produto, mas não é um produto qualquer.

Não basta apenas um conjunto de informações, o que por si não é notícia, ainda que tenha certa forma. Aliás, conteúdo é sempre mais importante que a forma, como tem defendido há anos o doutor em comunicação pela Universidade de Navarra, Carlos Alberto Di Franco, que esteve em Presidente Prudente e falou para jornalistas de O Imparcial e de outros veículos, em encontro promovido pelo Colégio Braga Mello. A forma não deve e nem pode ser ignorada, mas prevalece o valor do conteúdo.

Notícia não deixa margem à dúvida. Não tem como tergiversar; com evasivas ou subterfúgios. Não tem como transgredir, no sentido de não respeitar aos outros e de violar a lei. Não tem como negligenciar. A produção de conteúdo jornalístico abomina a desatenção, o descuido e o desleixo; pois exige afinco, dedicação e atenção: palavras indicativas de zelo que é cuidar de algo (notícia e veículo) ou de alguém (pessoas) com cuidado ou preocupação.

Fazer bem feito requer trabalho, mas é simples. Foi o que aprendemos em priscas eras com o Flávio Adauto em visita à redação de O Imparcial, na Siqueira Campos. Detentor de três prêmios Esso de Jornalismo, por denúncias às mazelas do governo no regime militar, este jornalista sequer foi exilado. Motivo: além de matar a cobra e mostrar o pau; sem deixar margem para dúvidas matou e mostrou o pau e cobra morta. Exemplo de zelo absoluto, próprio dos profissionais e dos veículos que se mantêm no mercado ao longo dos anos, enquanto outros têm vidas efêmeras.

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