Vítimas demoram a reconhecer relacionamento abusivo

Elas tardam para perceber indícios da situação e podem ter autoestima e relações sociais afetadas, alerta psicóloga

PRUDENTE - PÂMELA BUGATTI

Data 09/01/2019
Horário 07:49

A força do relacionamento abusivo está no silêncio, na culpa, na vergonha, no medo e na opressão. Tal prática é caracterizada por uma relação de poder, em que uma pessoa exerce controle sobre a outra. A psicóloga Luciana de Paula Alves, 31 anos, fala que, muitas vezes, a vítima não percebe que está em uma relação abusiva, e só acaba se dando conta depois de muito tempo, sentindo culpa pela situação que acaba por afetar sua autoestima e relacionamentos afetivos, causando o distanciamento da família, isolamento social e até depressão, entre outros transtornos.

A perda da liberdade em fazer escolhas, em detrimento da vontade do parceiro, o medo de fazer algo que vá desapontá-lo, sempre pensar no que o outro quer que faça, são indícios de um relacionamento abusivo, que ainda se caracteriza pela perda gradativa de identidade da parte oprimida.

Segundo a especialista, é mais comum que os homens sejam abusadores, em decorrência da sociedade “machista” que vivemos. Mas existem mulheres que desempenham este papel também. Para ela, é importante que a vítima reconheça que vive em um relacionamento abusivo, para buscar ajuda e sair desta relação. “Ela não deve ter medo e vergonha de falar o que está sentindo, é necessário que procure ajuda, que não romantize o ciúme excessivo e o controle. Não espere que vá conseguir mudar a outra pessoa. E, sobretudo, aos primeiros sinais de relacionamento abusivo, não hesitar em dar um basta na relação”, alerta.

 

Decisão

Vitória (nome fictício), 25 anos, que permaneceu em um relacionamento com estas características por quatro anos, fala que só conseguiu identificar o problema depois que conseguiu separar do parceiro. Para ela, relacionamento abusivo é algo que não faz bem, que está errado, que machuca. “Depois que tudo passou, eu fui entender este tipo de relação”. “No começo achamos que é bonitinho, que é amor ou sentimento. Mas, quando, finalmente, saí deste relacionamento, comecei a perceber que os sinais vêm desde o começo, porque é característica da pessoa ser abusiva. Não sei porque a gente não se dá conta”, declara Vitória.

A psicóloga explica que esse tipo de relação é “perigosa” desde o momento em que se estabelece. “Pensamos nos riscos quando parte para a violência física, mas a violência psicológica é tão devastadora quanto à física”, ressalta.

“Para eu conseguir terminar, eu tive que pedir ajuda para minha família. Eu liguei para minha mãe escondido e falei ‘vem me buscar, porque não dá mais’. Eu tive que sair da bolha, ouvir outras pessoas que estavam próximas a mim, que não eram da minha família, porque eu já tinha me afastado de todos”. Ela conta que ao sair desta fase, se desligou do mundo, se isolou, e ficou muito tempo sem sair de casa. “Eu já estava depressiva durante o relacionamento, porém, fiquei mais ainda quando me isolei”.

Para a vítima, a recuperação foi bem difícil. “Por conta do relacionamento, eu estava sem trabalhar e estudar. No estado em que eu estava não ia conseguir arrumar trabalho e nem estudar. Eu tentei apagar a minha existência”. O apoio da família, especificamente da mãe, foi o que ajudou Vitória a se reconstruir. “É muito difícil! Muito mesmo me anulando. Eu sempre acho que superei, que está tudo bem, mas no meu dia a dia eu consigo enxergar resquícios. E pensar numa possível reaproximação me deixou com crises de choro, ansiedade e medo. O que eu sinto é medo”, desabafa.

 

INDICÍOS DE RELACIONAMENTO ABUSIVO

- O parceiro impõe-lhe isolamento da família e amigos;

- Dá “ordens” sobre o que vestir e de que modo;

- Monitora e controla de alguma forma redes sociais;

- Controla o dinheiro do parceiro;

- Faz ameaças relacionadas à família ou animais de estimação.

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