Vida pós-crise, como será?

OPINIÃO - Gaudêncio Torquato

Data 08/04/2020
Horário 04:07

Há muitas questões no ar e qualquer previsão sobre o amanhã será uma precipitação. Mas a cadeia de eventos que se sucedem nesses dias de medo e até pânico permite, desde já, que se façam inferências razoáveis. O impacto será forte na esfera de salários e emprego.

As mudanças abrangerão os mais diversos campos. Sem estender os limites da reflexão, fiquemos apenas no compartimento da política. Começando pela galeria de nossos quadros, a visão que se apresenta é que a sociedade como um todo estará à procura de um líder. Dispomos até de bons técnicos de gestão, mas nenhum com capacidade para comandar, organizar, coordenar, unir o povo em torno de uma ideia de nação próspera e integrada a uma nova ordem mundial.

O Legislativo e o Judiciário, no vácuo aberto pelo Executivo, têm se esforçado para dar respostas às demandas mais prementes, vale reconhecer. Mas essa é a hora em que se cobra do Executivo diretrizes, ação, firmeza. Este poder sairá menor da crise, pois a manutenção de um rolo de tensões com outros poderes arrefecerá a força desse nosso presidencialismo de cunho imperial. E se o Estado não aparece nos lugares e momentos que mais exigem sua presença, estiola-se a teia de credibilidade e esperança que deve salvaguardar os governantes.

O fato é que o presidente Jair, mesmo com mudança em seus pronunciamentos, continua a se manter distante do Congresso e do Judiciário, e este, por intermédio de seu presidente Toffoli, tem expressado a visão que privilegia a ciência e não o "achismo" no combate ao coronavírus. O que poderá acontecer se a corda, intensamente esticada, arrebentar?

E se o presidente, ante uma paisagem de eventual devastação social – ataques, assaltos, quebradeira – avocar o direito de governar por decreto?  Já é possível, a esta altura, enxergar o presidente buscando hipertrofiar o alcance do Executivo diante de outros poderes com um jogo de guerra na intenção de atrair a simpatia das audiências e emplacar uma agenda que lhe permita governar por decretos nos moldes governos ditatoriais.

Mas o Congresso se mostra precavido. Rodrigo Maia é matreiro. Sabe administrar o número excessivo de MPs que batem na Câmara. Alcolumbre e Anastasia, no Senado, também se mostram atentos.

Seja qual for o desfecho da crise pandêmica, nossa democracia dará alguns passos adiante. Teremos uma sociedade mais exigente e crítica, a cobrar transparência, melhores serviços públicos, a partir da saúde, disposição para despachar representantes que não cumpram promessas de campanha e a entrar com mais vontade no tabuleiro da política.

 

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