Um dia de diversão ou uma tarde fora de casa podem despertar certa fome, e automaticamente nos atentamos a qualquer vendedor que possa prover algo simples, rápido e gostoso. Dinheiro vai, produto vem, e no máximo um obrigado forma a relação de poucos minutos entre ambulante e cliente. Por trás dos carrinhos e potes, existem trabalhadores, pessoas que vivem da arte de produzir sabores para quem passa o dia correndo pelas calçadas e praças da cidade. Em Presidente Prudente são por volta de 120 desses “artistas culinários” cadastrados na Sedepp (Secretária Municipal de Desenvolvimento Econômico), e mais 30 aguardando o fim do processo de regulamentação.
O titular da pasta, Carlos Alberto da Silva Corrêa, Casagrande, descreve o processo de cadastramento como simples, necessitando somente levar documentos pessoais e comprovante de residência até a secretaria. Apesar de estarem em todos os locais, os ambulantes cadastrados não escolhem onde permanecer, isso é escolha do poder público.
Salgados
Com carinho, Carmozina de Souza Benedito, 66 anos, se levanta do ponto de ônibus e enquanto pega um salgado para um cliente comenta: “Fico do outro lado normalmente, mas hoje está mais fresco, então, vim para cá!”. Enquanto olha a caixa térmica de suas coxinhas, ela conta que está no mesmo ponto há mais de um ano. “Sou aposentada, e a aposentadoria é muito pouca, então, temos que trabalhar”.
Antes de vender salgados, Carmozina já trabalhava com comida fazendo receitas no litoral norte de São Paulo. “Isso me ajuda a pagar as contas, eu estava com dívidas, então, tive que ir atrás de alguma coisa. Eu não aguento fazer faxina, por isso venho para cá, é o que eu gosto de fazer”. Ela ficou fora de Prudente, sua cidade natal, por 21 anos, e voltou para cá para cuidar da mãe, já acamada, até seu falecimento no ano passado. Os salgados feitos em sua casa, permitiram que a filha desse tudo de melhor à matriarca. “Aqui eu vendo na base de 10 a 12 salgados por dia. Eu vendo coxinhas, esfirras”, conta.
Pipoca
Sentado na sombra de seu carrinho, Gervasio Rosa dos Santos, 56 anos, passa mais um dia dos 28 anos que está na Praça Monsenhor Sarrion, da Catedral de São Sebastião, vendendo pipocas, amendoins e balas. “Esse carrinho era do avô da minha mulher, e como ele já era de idade, ia parar de trabalhar”. Gervasio já foi trabalhador rural e arriscou um emprego fixo de segurança com carteira assinada ao decidir assumir o carrinho, pagando certa porcentagem ao dono original.
Seus colegas, ao saberem da chance dele ter um negócio próprio, diziam: “Olha Gervasio, se você perder essa oportunidade, é capaz de você nunca mais achar igual”. “Daquela época para cá nunca mais fui empregado. Isso daqui me trouxe tudo que eu tenho hoje”, reconhece. “A maior dificuldade que nós temos é o sol e a chuva. Eu tinha uma barraquinha ali”, diz apontando para o outro lado da praça, “bem cobertinha que eu tinha mandado fazer, mas tive de sair a pedido da Promotoria”, diz ele sobre a medida tomada pelo MPE (Ministério Público do Estado) para a retirada de ambulantes, com o intuito de não descaracterizar a praça.
Apesar das dificuldades, Gervasio é grato pelo trabalho que lhe provém. “Eu posso definir meu trabalho assim: é uma coisa que eu gosto de fazer, porque eu gosto de trabalhar com o público, e que ainda me dá sustento”.
Churros
De manhã, montando seu local de trabalho, Luciana Aparecida Assis da Silva começa sua rotina diária. Há 14 anos na Praça Nove de Julho, a vendedora de churros vive somente com a renda de seu carrinho. “Está meio difícil, mas eu consigo sobreviver. As pessoas compram menos por causa da crise, né?”, comenta sobre suas vendas. “Não é porque o churros é ruim, eu já estou há muito tempo aqui, e antigamente eu vendia um pouco mais”, completa com um leve sorriso. “Os melhores anos para mim, aqui, foram 2010 e 2012, mas aí começou essa troca de governos e me complicou. Você luta, luta, mas não tem retorno”.
A partir da necessidade de criar seus filhos, Luciana começou a fazer churros no Complexo Turístico Cidade da Criança, e após quatro anos no parque, se mudou para a praça, onde trabalha até hoje. “Com sacrifício eu comprei o carrinho. Daí eu comecei a fazer em casa para treinar, e quando eu aprendi fui atrás para trabalhar certinho”. Hoje, a ambulante é separada, e não tem ajuda na venda ou produção dos churros, mas mesmo com as dificuldades se orgulha do seu trabalho. “Foi graças a esses anos todos aqui na praça que eu pude dar estudo aos meus filhos. Eu não comprava nada para mim, minha vida sempre foi de luta, aqui é chuva, sol e temporal, mas as crianças sempre estudaram. Consegui comprar um carro, aumentar minha casa e tudo foi com o dinheiro do churros, todos esses anos. Eu nunca comprei nada parcelado, sempre foi no dinheiro, porque se eu não tiver o dinheiro do churros eu não como, ou não compro nada, mas também não faço dívida”.