Uma cidade sem partido

OPINIÃO - Nelson Roberto Bugalho

Data 07/08/2019
Horário 05:03

A cidade é essencialmente o lugar onde se organiza a vida coletiva e se concentra incrível heterogeneidade e diversidade social, cultural, econômica e política. Um amontoado de gente buscando uma vida melhor ou simplesmente levando aquela que o destino reserva para os menos afortunados. De um jeito ou de outro, é na cidade que a maioria da população nasce, vive e morre, e, por isso, nossas vidas estão fortemente atreladas a elas. Se de um lado essa estrutura – a cidade – assume, cada vez mais, importância na vida moderna, de outro os governantes devem pensar e agir responsavelmente para que o crescimento das cidades se dê de maneira sustentável e planejada, e que esses objetivos sejam construídos de forma participativa.

O objetivo maior é que as comunidades locais desfrutem de uma economia consistente, capaz de transformar positivamente suas vidas, garantindo-lhes oportunidades num futuro próximo. Uma cidade que disponha de uma infraestrutura inteligente certamente será uma cidade muito melhor para seus moradores. E é o que vem sendo estimulado em Presidente Prudente, especialmente desde a criação da Fundação Inova Prudente, que tem como missão facilitar o empreendedorismo inovativo e tecnológico.

Não há como pensar a cidade dissociada de valores que são considerados em todo mundo moderno e socialmente desenvolvido. O problema é que nem sempre os valores priorizados no nível nacional atendem as necessidades dos governos subnacionais (Estados) e locais (cidades), e esse descompasso é facilmente verificado num país com dimensão territorial e diversidade cultural como o Brasil. Apesar da generalidade de alguns problemas e soluções, cada cidade tem suas particularidades e necessitam de uma governança local mais arrojada, capacitada para desenvolver projetos transformadores, que efetivamente mudem a vida de seus cidadãos. Para isso, os setores público e privado têm que estar alinhados com aquilo que realmente importa. Contudo, muitas vezes - e não são poucas - interesses políticos desprezíveis não permitem esses avanços. Para se conquistar uma posição vale tudo, especialmente enganar. Aliás, como escreveu William Shakespeare, o diabo pode até citar as Escrituras quando isso lhe convém.

Mas, voltando ao tema centra, a elaboração de programas e projetos que buscam garantir as necessidades fundamentais da cidade deve ser a prioridade. Uma infraestrutura urbana inteligente, compreendendo questões relacionadas ao desenvolvimento econômico, à mobilidade urbana, habitação, segurança pública, saúde, educação, meio ambiente e maior eficiência, economicidade e transparência do setor público são pontos mínimos.

Cabe aos governos municipais - e entenda-se aqui também o Poder Legislativo, orientados pelos princípios que regem a administração pública e também pelo princípio do desenvolvimento sustentável, trabalharem mediante o estabelecimento de alianças estratégicas para conseguir efetivar a implantação de políticas públicas que efetivamente tenham condições de transformar a vida das pessoas. O atendimento de demandas pontuais, casuísticas, desconectadas de um projeto maior, transformador, é costume da política que se pratica neste país. A aprovação de determinadas propostas - ou sua rejeição - aqui e acolá fazem comunidades inteiras reféns de políticos compromissados apenas com a manutenção de seus mandatos, sobretudo nas cidades e regiões mais pobres. Talvez algumas dessas iniciativas possa até resolver momentaneamente um problema, mas definitivamente não mudarão a vida das pessoas.

A tendência mundial de as cidades atraírem as pessoas para dentro de seus domínios não será jamais revertida, nem tampouco há possibilidade de o inverso ocorrer, e isso se verifica especialmente nas maiores cidades, que dispõem de mais infraestrutura e postos de trabalho. Por isso a governança em seus vários níveis deve se ocupar de estabelecer diretrizes mais claras para as cidades, direcionando recursos para a execução de ações que realmente sejam importantes para as comunidades locais. Se os recursos são escassos, o gasto deve ser criterioso. Embora Prudente ostente ótimos índices em vários setores e seja o 25o. IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) do Brasil, ainda há muito a ser feito para convertê-la num espaço mais agradável e promissor, comparável aos bons exemplos que existem pelo mundo.   

Enquanto essa “virada” na forma de pensar não ocorre, aqui e acolá, nossas cidades continuarão “oprimidas”, vítimas de um pensamento e um agir mesquinhos e atrasados, em que mais importam os interesses pessoais, nem sempre coincidentes com o interesse público. Vale aqui o pensamento do historiador francês Alexis de Tocqueville, “mais que as ideias, são os interesses que separaram as pessoas”. E dividem a cidade, acrescento eu. O que precisamos em nível local - porque não escapamos dessa regra! - é uma cidade "sem partido”, ou seja, os interesses da cidade têm que estar acima de qualquer disputa partidária ou discussão ideológica. O que realmente deve interessar e motivar os gestores públicos, os vereadores e todos aqueles que detém de alguma forma os rumos da cidade é apenas - e exclusivamente - o interesse da cidade e de seu povo.

Publicidade

Veja também