Um jornalismo que não “queime” as notícias

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 14/05/2018
Horário 07:58

Compartilho o comentário do jornalista brasileiro Silvonei José, atuante no serviço de comunicação do Vaticano, sobre a Mensagem para o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais (13 de maio), na qual o Papa Francisco vinculou o fenômeno das notícias falsas com a “cobiça” e “sede de poder” do ser humano. Anualmente, o Papa envia o seu pensamento sobre determinado tema aos comunicadores católicos e não católicos de todo o mundo, na tentativa de ajudar na reflexão de assuntos atuais referentes à comunicação. Neste ano, as “fake news”.

As notícias falsas são quase um costume cotidiano e que muitas vezes se tornam virais, ou seja, se difundem de modo veloz e dificilmente são contidas. “Não por causa da lógica de compartilhamento que caracteriza as mídias sociais, mas sim por causa da sua cobiça insaciável que facilmente suscita no ser humano”, escreve Francisco. O Papa acrescenta ainda que as “mesmas motivações econômicas e oportunistas da desinformação têm suas raízes na sede de poder, de ter e de desfrutar”. Então o grande comunicador Francisco destaca a necessidade de “educar para a verdade”, ou seja, discernir, avaliar e ponderar os desejos e as inclinações que se movem dentro de nós.

Assim o Papa valoriza as iniciativas educativas que permitem aprender a ler, a analisar e valorizar o contexto comunicativo e ensinam a não ser divulgadores inconscientes da desinformação, mas sim ativos em seu desvendamento. O Pontífice também elogia aqueles que, em nível institucional e jurídico estão procurando especificar normas que se opõem a este fenômeno, em especial as empresas tecnológicas e de meios de comunicação com a definição de novos critérios para a verificação de identidades pessoais que se escondem atrás de milhões de perfis digitais.

No texto, Francisco adverte que “nenhuma desinformação é inofensiva” e que mesmo uma aparente distorção da verdade pode ter efeitos perigosos. “O drama da desinformação é desacreditar o outro, apresentando-o como um inimigo, até chegar à demonização que favorece conflitos”. E nesta linha, Francisco considera que as notícias falsas revelam a presença de atitudes intolerantes e hipersensíveis, ao mesmo tempo, com o único resultado de prolongar “o perigo de arrogância e ódio”. Por isso, escreve: “nenhum de nós pode se isentar da responsabilidade de enfrentar essas falsidades”.

Aos jornalistas, a quem atribui “um compromisso especial” para evitar a propagação da desinformação, recorda-lhes que “no centro da notícia não estão a velocidade em dá-la e o impacto sobre as audiências, mas sim as pessoas”. Informar é formar, é “se envolver na vida das pessoas”, afirma o Papa, aludindo em seguida à verificação das fontes e a custódia da comunicação como “processos de desenvolvimento do bem que geram confiança e abrem caminhos de comunhão e de paz”.

O Santo Padre pede na sua mensagem um “jornalismo da paz”, sem entender com essa expressão, um jornalismo “bonzinho” que nega a existência de problemas graves e assume tons melífluos, mas, pelo contrário, a um “sem fingimentos, hostil às falsidades, a slogans sensacionais e a declarações bombásticas”. Francisco defende um “jornalismo que não queime as notícias”, mas que se esforce em procurar as causas reais dos conflitos, para favorecer a compreensão de suas raízes e sua superação; um jornalismo comprometido em indicar soluções alternativas à escalada do clamor e da violência verbal.

Fundamental é a necessidade de desenvolver “vacinas” contra a mentira que gera e amplifica o ódio e o medo, e envenena os relacionamentos. É necessário, em vez disso, dedicar-se a um jornalismo “verdadeiro”, de paz, “feito por pessoas para pessoas”.

Publicidade

Veja também