Tratamento contra corrupção é invasivo, porém necessário

EDITORIAL -

Data 23/06/2018
Horário 04:24

“Uma perspectiva equivocada que as pessoas têm é de que a Lava Jato vai mudar o Brasil ou que ela é suficiente para mudar o Brasil, mas isso é um erro. A operação faz o diagnóstico, coloca algumas pessoas na cadeia, mas ela não muda as regras que geram a impunidade sistêmica, nem as regras do ambiente político e empresarial que incentiva a corrupção. Se queremos mudança, precisamos evoluir para o tratamento. Caso contrário, o que a Lava Jato pode significar é simplesmente uma mudança de rostos corruptos no poder e a perda da sua janela de oportunidades para mudanças mais profundas”.

Essa foi a última resposta do procurador da República, Deltan Martinazzo Dellagnol - que esteve na manhã de quinta-feira, no Centro Cultural Matarazzo, em Presidente Prudente -, à entrevista exclusiva concedida a O Imparcial. Nela, um dos principais personagens da força-tarefa da operação Lava Jato, a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro já deflagrada no Brasil, reforça uma verdade absoluta: a Lava Jato não vai mudar o Brasil!

E de fato não! Como o próprio procurador afirmou, o máximo que a operação pode e tem feito é dar o diagnóstico da corrupção no país. Onde e quem ela alcança e contamina. E, assim, prender alguns dos responsáveis por corromper os sistemas públicos e privados do país, ativa ou passivamente. A operação, como um exame minucioso, expõe a doença em seu cerne, mas não tem o poder da cura. Como disse Deltan Dellagnol, “precisamos evoluir para o tratamento”.

E o tratamento é invasivo, dolorido, requer esforço, abnegação e comprometimento de toda sociedade, desde os eleitores até os eleitos, passando neste caminho pelo ambiente empresarial. E esse caminho começa hoje, ao abrir os olhos, a partir da decisão de não fazer nada para tirar vantagem sobre os outros, despojando-se do fétido “jeitinho brasileiro”. Feito isso, cabe à sociedade uma participação mais efetiva no combate à corrupção e o desvio do dinheiro público. E isso se aplica nas urnas, por meio do voto consciente e responsável, com a escolha de políticos com o passado ilibado e comprometidos com o país, não de interesses corporativos ou próprios. E isso é tão necessário e importante que vale o reforço, vale insistir na mesma tecla. O futuro do país depende disso e não podemos nos manter omissos.

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