Shows musicais, palhaços fazendo a alegria da plateia, levando ao riso pessoas de todas as idades de zero a 100, malabaristas que encantam equilibrando coisas, trapezistas que desbravam o medo lá nas alturas arrancando suspiros. Ah, a arte circense! É tudo tão mágico e bonito! No dia 27 de março foi comemorado o Dia do Circo e dessas maravilhas que nele existem. E Presidente Prudente está com um dos mais respeitados circos da América Latina: o Mirage Circus, do ator que sempre exaltou seu amor por esta arte que vem lá da Antiguidade, Marcos Frota. A reportagem foi até lá ver de perto um pouquinho desse lugar que tem o poder de transformar sonhos em realidade e conhecer duas pessoas que fazem isso acontecer.
Ela que brilha nas alturas, nasceu em um circo quando fez parada na cidade de Bauru. Seu nome é Adrielle Alves, 27 anos, trapezista, dançarina, quinta geração de uma família circense. “Essa é minha vida! Não tive conhecimento, experiência alguma na cidade. Aqui estou com meu marido Jonatan Robatini [é ele quem me segura no trapézio], e com meu pai, Divino Alves, que também é trapezista. Minha mãe vive em outro circo, dela e da minha avó. Esse é o nosso mundo lindo!”, exclama a trapezista que recebeu a reportagem confortavelmente em cadeiras de vime, ao lado de fora de seu trailler.
É interessante a maneira que ela expõe: “lá na cidade”. Enquanto a reportagem a ouvia, a sensação era de que o circo é um mundo à parte! Como aquele filme “As Crônicas de Nárnia”, um mundo fantástico! É inenarrável.
Adrielle conta que aos 6 anos seu pai já a colocava sempre para brincar no trapézio. A jogava lá de cima na rede. Mas, para começar a trabalhar mesmo, foi um pouquinho difícil porque ele não deixava por achá-la muito nova. Aquele zelo e cuidado de pai falavam mais alto.
Mas, ela sempre dava um jeito de entrar escondida dentro do circo. Subia no tecido, brincava sozinha, até que um dia o senhor Divino entrou e a viu em ação. “Eu devia estar com uns 8 anos. Então, ele olhou e comentou que achava que já estava na hora. Que não tinha jeito querer impedir aquilo que realmente eu queria. E foi aí que comecei a trabalhar mesmo. Primeiro no tecido, ajudava no picadeiro, entrava nos bailados e com 11 anos comecei fazer o trapézio, que é o que eu amo fazer. Depois vieram outras coisas”, recorda a jovem.
Experiência ímpar
Adrielle conta que aos 15 anos se casou com Jonatan, permanecendo ao lado do pai até os 20. E aí surgiu a oportunidade e ela foi com o esposo para os Estados Unidos onde ficaram por seis anos, no Ringling Circus. Lá, ela viveu uma das grandes e eletrizantes experiências, o globo da morte. “Dá bastante medo, caí muito [risos]. Mas, assim, como tudo tem seus altos e baixos. E assim como tudo na vida pede dedicação e tem que se querer de verdade porque se não for assim, não tem santo que ajude. Deu tudo certo! E eu gosto muito de aprender, de fazer coisas novas, então, para mim, foi maravilhoso”, destaca Adrielle.
“Eu devia estar com uns 8 anos. Então ele [pai] olhou e comentou que achava que já estava na hora. Que não tinha jeito querer impedir aquilo que realmente eu queria”
Adrielle Alves,
artista circense
Sobre estar nas alturas e emocionar o público que assiste de baixo, das cadeiras, a execução perfeita de saltos e piruetas no trapézio, a artista diz que para eles, acredite, a emoção é ainda maior.
“É muito mais emocionante para a gente que faz, que está lá em cima sentindo toda uma adrenalina. Olhar para baixo e ver a satisfação do público, como estão maravilhados é algo inexplicável. De verdade, não dá para mensurar mesmo a sensação única que sentimos!”, acentua.
Ainda mais empenho
Questionada sobre as dificuldades que devem ter em estar o tempo todo se mudando de um lugar para outro, especialmente as crianças que precisam estudar, Adriellle explica que apesar disso não existe tanta diferença. É tudo igual. Na verdade, segundo ela e Erick Rafael Dantas Pinto, 23 anos, responsável pelo marketing e comunicação do Mirage, existe uma cobrança ainda maior dos pais, dos adultos em geral do circo, para que os pequenos se dediquem aos estudos.
“Normalmente o aprendizado da criança do circo se torna ainda mais exigente. Porque ela está neste mês aqui aprendendo um assunto, no próximo já estará em outra cidade e provavelmente o assunto será outro. Então ao final de tudo, o que notamos é que a criança do circo acaba assimilando tudo mais rápido, ela aprende e evolui com mais facilidade devido exatamente a essas mudanças de uma cidade a outra, coleguinhas de variadas idades. As crianças do nosso circo, por exemplo, são muito maduras. Muito inteligentes”, destaca Erick.
Ele complementa mencionando ainda que além de acordarem cedo e irem para a escola, chegam precisam fazer as tarefas, os pais geralmente, desde pequeninas as “ensinam” e as instigam a aprenderem alguma atividade doméstica, a tirarem um cochilo, depois assistirem aos ensaios e espetáculos. “Então tem toda uma logística que prima pela educação”, enfatiza Erick.
Adrielle expõe que é importante falar sobre isso porque quase todo mundo acha que a educação da criança do circo é comprometida. “Acredite, não é mesmo. O circo é realmente como uma floresta mágica destas que se vê em filmes. Como o Erick mencionou é isso o que a gente quer passar para o público, vivemos em um lugar em que queremos realizar os sonhos de quem vem nos prestigiar. Onde você pode sonhar com os olhos abertos”, garante a trapezista.
Pode ser diferente
A artista circense pede que seja ressaltado que, infelizmente, a falta de interesse das pessoas da cidade preocupa um pouco sobre a tradição do circo. Ainda que o circo tenha sido e sempre será o circo, hoje em dia falta aquele negócio do incentivo cultural, principalmente daqueles que falam que gostavam do circo. Atualmente, existe ainda a questão da televisão, da internet que ajuda a distração das crianças. “Então se perde a vida. Porque o circo é uma vida e a criança perde isso. Para mim é como se elas não tivessem infância. Então peço aos pais que tragam seus filhos e mostre a eles o quanto o circo é bom. Conversando com um taxista dia desses, ele me falou exatamente sobre isso, do quanto antigamente o circo era tão importante na vida das pessoas. Era o atrativo que os jovens tinham. Era onde nasciam paqueras, namoros... Era muito bom! Gente, o circo ainda é muito gostoso”, reforça Adrielle.
VOCÊ SABIA?
No dia 27 de março é comemorado o Dia do Circo. Sabe por quê? Porque foi nesta data que o palhaço Piolin, Aberlado Pinto, nasceu no ano de 1897. Por isso a homenagem! O dia 10 de dezembro é outra data importante para o circo: é o Dia do Palhaço, figura tão amada do mundo circense. E tem ainda o dia 31 de janeiro, Dia do Mágico, outro profissional muito importante e admirado nos picadeiros dos maiores aos menores circos.