Entre risadas e recordações, a noite de quarta-feira foi inesquecível para os amantes de futebol. Um encontro organizado pelo Sesc Thermas reuniu torcedores, o ex-jogador Serginho Chulapa e Wladimir Miranda, autor do livro “O Artilheiro Indomável – as incríveis histórias de Serginho Chulapa”. Na área de conveniência da entidade, camisas de futebol do Santos e do São Paulo tomaram conta, assim como as histórias marcantes, de dentro e de fora dos gramados, que foram lembradas.
Chulapa iniciou o bate-papo contando que não podia se arrepender das coisas que fez. “Você não pode se arrepender do que fez, não é verdade? Aquilo tudo fez parte da minha história e de certa maneira me fez ser lembrado hoje”, explica. Mas em um momento, Chulapa afirma que poderia ter se contido um pouco mais e cita o famoso caso envolvendo o bandeirinha, no ano de 1978, que acabou afastando o ex-jogador por dois anos dos gramados. “Estava voando, estava numa fase espetacular, e fui errado sim, apesar de ter feito coisas boas durante minha carreira, mas fiz isso de errado. Poderia ter me segurado, já que isso faria com que eu ficasse longe, ou ter acabado com ele logo”, conta. Relacionando ao futebol dos dias de hoje, o ex-jogador afirma que teria que mudar muito para ser aceito nos gramados. “Hoje eu seria punido por tudo. Naquela época tinha uma câmera só, hoje tem 30, então não poderia fazer nada para me defender ou falar que não fui eu”, afirma.
Em relação ao livro que conta toda sua história nos gramados, o ex-atleta explica que não conta só suas passagens nos times brasileiros e suas marcas, mas tudo o que envolvia o atleta naqueles anos. “Minhas ex-mulheres falaram, meus inimigos falaram, todo mundo falou, é para o pessoal me conhecer mesmo”, relata.
Ao ser questionado sobre a Copa de 1982, eterna frustação dos torcedores da época, já que havia a presença de estrelas em todas as posições da equipe, o ex-jogador não escondeu ao falar que apenas o futebol individual funcionada, em detrimento do coletivo. “Uma seleção extraordinária, mas naquela época a imprensa do Rio não falava com a de São Paulo. Os jogadores de São Paulo não falavam com os do Sul, então os grupos existiam dentro da própria seleção. A falta de união de fora e dentro estragou tudo”, comenta. Outro caso chamou a atenção e mostrou que o dinheiro não move o futebol apenas nos dias de hoje. Lá atrás isso já acontecia. “Os caras tinham patrocínio de uma marcada de carro. Após os gols, eles tinham poucos segundos para chegar a linha do meio de campo e reiniciar o jogo. A gente ia comemorar por causa do gol, eles só faltavam bater na gente porque tinham que sair correndo. Como queriam ganhar assim? Aí não tem jeito! E a Itália foi um castigo, porque pensaram que ia ser moleza”, relembra.
Atual futebol
Ao ser questionado sobre o atual momento do futebol brasileiro, o ex-jogador e atual auxiliar técnico do Santos diz que faltam treinadores, e isso reflete dentro de campo, com a ausência de centroavantes. “Foi o Telê Santana quem me descobriu como atacante. Eu jogava como ponta e ele simplesmente me viu um atacante e apostou. Faltam olheiros, não é apenas perguntar ao jogador qual a posição dele, mas sim descobrir o que ele tem de melhor para oferecer”, analisa.
Ainda focando nos jogadores atuais, ele não esconde sua insatisfação com os jogadores da seleção brasileira, se comparado aos anos em que ele atuou. “O único que teria espaço é o Neymar, de resto, nenhum jogaria com a gente. Os caras eram de outro nível”, cita.
São Paulo e Santos
O amor pelo Santos veio do berço, já o carinho pelo São Paulo aconteceu após sua história ter início no clube do Morumbi. “Eu cabulava aula pra assistir o Santos. O São Paulo eu aprendi a gostar já que foram eles que me abriram as portas e me fizeram marcar história. Sou muito grato e apaixonado pelos dois”, afirma. Antes de entrar no clube do Morumbi, Chulapa explica que nunca havia dito sobre seu gosto pelo Santos e que quase foi para o Flamengo ao invés de ir para o time da Vila. “Nunca havia falado sobre a minha paixão, mas alguns sabiam que o Santos mexia muito comigo. Eu estava com a mala pronta para ir para o Flamengo quando me ligaram do Santos. Eu não tive duvidas e em questão de minutos, aos invés de ir pro Rio, desci a baixada”, conta.
Polêmicas
Os casos tumultuados marcaram sua trajetória, não apenas dentro de campo. Ao longo da conversa, Chulapa foi lembrando dos acontecimentos que faziam os presentes no local darem altas risadas. Em muitos casos ele não estava sozinho, mesmo que não fosse com jogadores conhecidos. “Eu jogava no São Paulo ainda, estava numa fase muito ruim, os torcedores queriam minha saída. No final de um desses jogos, que eu errei dois pênaltis, os torcedores fecharam a saída do Morumbi. Os outros jogadores não saíram do vestiário, mas nunca tive medo de sair e apanhar. Chamei dois amigos, falei para eles irem armados até o final do caminho, caso acontecesse alguma coisa, a gente usava elas, caso não, íamos embora. Resultado: eu já estava em casa faziam três horas e os outros jogadores que estavam com medo nem tinham saído do estádio ainda”, relembra.
Nos bastidores do futebol, o atacante cita quando o Santos perdeu de 7 a 1 para o Corinthians, e seu vizinho de apartamento era corintiano. “Achei que ele não teria coragem de ir me zoar, mas ele foi. Apertou a campainha e começou a contar alto. ‘Um, dois, três’, mas não deixei chegar ao quarto. Quando foi falar, abri a porta e dei um soco no olho dele e fechei a porta de volta”, finaliza aos risos.