Tolerância à dor

O grande segredo para viver melhor é ter o domínio e o equilíbrio sobre a tolerância à dor. Refiro-me a dor da alma ou psíquica. Angustiados, nó na garganta, jogamos tudo para debaixo do tapete. Sem um pensamento reflexivo ou um aparelho para pensar os pensamentos vamos tornando-nos acumuladores de conteúdos indigestos do aparelho mental. Não queremos acreditar que há um universo interno congestionado de conteúdos não pensados, não digeridos, ou não metabolizados. Queremos, diante de frustrações ou intolerância, urgência em soluções concretas, mecânicas ou instantâneas. Não lidamos muito bem diante de conflitos relativos às perdas, separações, mudanças, enfim, cesuras.

Somos humanos e dependentes, muito cedo vamos sendo submetidos a todas essas questões inerentes ao viver. Desde o nascimento vamos convivendo com pessoas pelas quais identificamos e, assim renovamos tanto com aspectos que vamos tomando de fora e colocando para dentro (introjetivas), como aspectos de dentro que dirigimos para fora (projetivas). E nessa trajetória apreende-se - ao longo do tempo do arsenal das impressões sensoriais e percepções-como “ser” para poder existir. E assim, aprender como modular ou tolerar a dor em seus diferentes vértices.

Há dor real, corporal e dor psíquica, ou mental. Corpo e mente estão interligados e não podemos separar. Quando a mente não esta bem quem envia “recados” é o corpo. Acumuladores de angústia, dor psíquica, traumas, ou qualquer situação ainda não nomeada, psicossomatiza-se. Dói aqui, acolá, e ninguém acha ou encontra resposta. Muitas vezes vamos recorrer ao alivio imediato. Precisamos nos querer bem, aprender a investir no autoconhecimento. Aprender a interagir conosco mesmo e, se puder, com um interlocutor. Procurar ajuda especializada, psicoterapeutas ou psicanalistas, que saiba pensar junto sobre esses aspectos do universo inconsciente é fundamental. Aprender o real significado e sentido dos sintomas.

O imediatismo do alivio a dor psíquica ou a intolerância, tem levado os jovens a buscar drogas. A urgência de soluções no contato com frustrações, muitas vezes leva ao encontro de pseudo-alívio. Adia-se. Camufla. Soluções mágicas é somente ilusão de que o problema foi solucionado. Ele somente é adiado. Logo a dor instala-se novamente. Devemos mergulhar no problema e vive-lo, aprender com a experiência de dor, resistir, fortalecidos nos preparamos para o novo. A experiência emocional é o grande segredo para o desenvolvimento. Não mais permitimos vazios existenciais. Queremos urgentemente preencher a lacuna do mal estar.

Compulsão por compras, alcoolismo, drogadição, excessos de medicamentos, lesões corporais (cutting), obsessão por corpo perfeito, compulsão alimentar, etc., são formas de alivio imediato, adiando assim a capacidade para a simbolização. Os transtornos mentais e suas diferentes configurações passeiam diante de nossos olhos em função da intolerância a frustração, vazios ou mal estar inerentes à vida. Não há vida sem conflitos. Só quem está vivo tem conflitos. Conflitos levam ao verdadeiro sentido da vida. Paradoxal, mas fato. Celebre a vida.

Publicidade

Veja também