Tiques, cacoetes e síndrome de tourette

Muitas vezes observamos pessoas fazendo gestos, movimentos ou barulhos que nos parecem estranhos e sem propósito. Ocorrem de forma súbita e repetitiva, tem duração curta, na maioria das vezes duram apenas alguns segundos, podendo variar em intensidade e força, podem ocorrer em salvas ou com período curto entre eles. Movimentos com essas características são chamados de tiques. Eles podem ser motores ou vocais. Os motores variam desde movimentos simples e abruptos, como piscar os olhos, virar a cabeça ou rodar os ombros, até comportamentos mais complexos, que parecem ter um propósito, como expressões faciais ou gestos com as mãos ou cabeça. Em alguns casos, esses movimentos podem ser obscenos (copropraxia) ou auto-agressivos (no qual a pessoa pode se beliscar ou se bater).

Tiques vocais e ou fônicos podem variar desde um simples pigarrear até sons mais complexos, como frases e palavras. Outro tique vocal complexo podem ser mudanças bruscas no ritmo ou volume da fala. Em casos mais graves, os tiques podem ser palavras ou expressões obscenas (coprolalia). Repetir a mesma palavra várias vezes é chamado de palilalia, e repetir palavras que outras pessoas disseram chama-se ecolalia.

Quando os tiques ocorrem com uma determinada frequência, incomodam ou trazem sofrimento e tem um impacto social e emocional na vida do paciente muito grande, resultando muitas vezes em um isolamento, solidão e autoestima muito baixa, podendo, consequentemente afetar a vida da pessoa, como um todo. Quando há muito sofrimento, dizemos então que é um transtorno de tiques. E o transtorno de tiques mais característico é a Síndrome de Tourette, também conhecida como Síndrome de Gilles de La Tourette. O transtorno de tiques pode não vir sozinho, dois transtornos “podem” particularmente, não necessariamente, serem comuns que são: TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).

Para receber o diagnóstico desta síndrome é necessária a presença de tiques vocais e motores durante a evolução da doença, que deve durar pelo menos um ano e ter um impacto importante na vida da pessoa. Geralmente esse transtorno começa na infância, com algumas salvas de tiques motores simples nos olhos, na face ou na cabeça, frequentemente progredindo para ombros, tronco e extremidades. Mas seu curso não é previsível. Na maioria das vezes, inicia-se entre os dois e os quinze anos. Atualmente estão aumentando e em muito nas crianças, devido a ansiedade grande de expectativas dos pais sobre as mesmas. Muita idealização e o desejo de realizar nos filhos os seus próprios desejos frustrados durante a sua própria infância. A boa notícia é que mais da metade tende a melhorar muito no final da adolescência e início da idade adulta. Nem todo tique é síndrome de Tourette, nem todo movimento repetitivo é um tique. Alguns tiques são comuns e transitórios, acredita-se que 20% das crianças podem ter tiques em algum momento de sua vida. A maioria dos casos ocorre na infância entre os três e os 10 anos. Esses tiques ocorrem em olhos, face, pescoço e braços. Tem duração pelo menos de quatro semanas e não mais que 12 meses.

A doença tem base genética, mas o início dos sintomas pode ocorrer após eventos que causem estresse físico ou emocional. Como por exemplo, separações ou discussões com os pais, exames escolares e situações públicas, etc. Os tiques podem apresentar-se de diferentes formas e associados a vários outros problemas, um deles é a de se obter um diagnóstico correto, há dificuldades para se efetivar em primeiro momento essa síndrome, a criança muitas vezes percorre uma infinidade de profissionais até obter um parecer eficaz, passam muitas vezes por infinidade de profissionais como, por exemplo: ortopedista, otorrinolaringologista, dentista etc.

O tratamento poderá ser realizado por uma equipe formada por psiquiatra, psicólogo, neurologista, entre outros. O que não deve e não pode acontecer é um possível isolamento ou ostracismo, pois assim sendo, pode piorar muito o aspecto emocional resultando em uma grande ansiedade podendo aumentar a ocorrência dos tiques. O ideal é que se tenha um espaço para poder extravasar as angústias, o descontentamento e também uma oportunidade de falar, olhar para a forma como se manifestam estes tiques. Os pais não devem punir os filhos, obrigá-los a parar como se pudessem controlar. Tudo é involuntário, independe da vontade deles.

Há famílias incomodadas com os tiques dos filhos com a síndrome, não pelos filhos em si e sim pelo que a sociedade vai dizer e acabam os maltratando. Pais que cobram desempenho perfeito, pais extremamente autoritários, rígidos, frios, exigentes e sem afeto podem gerar filhos com transtornos diversos como transtornos de tiques. Principalmente se não houver espaço para as expressões ou manifestações emocionais e também diálogos e amor.

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