Testemunhas da esperança

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 24/06/2018
Horário 04:30

“Nós esperávamos que ele fosse restaurar Israel, mas...” (Lc 24,21). Tento imaginar o quanto havia de decepção na fala daqueles dois peregrinos que voltavam para Emaús, seu povoado, há alguns poucos quilômetros de Jerusalém - palco da sua frustração, pois ali na importante cidade viram Jesus ser injustamente condenado e morto. Igualmente tento imaginar o quanto estes e tantos outros tinham apostado todas as suas fichas no Messias vindo da Galileia, o Filho de Deus, que aos poucos revelou-se a Si, a Deus e o grande projeto de amor do Pai para a humanidade. As suas expectativas eram agora decepção. Eles perderam toda a esperança.

Foi em caminho - aquele da volta, acabrunhados, entristecidos, interiormente confusos e destruídos - que fizeram novamente a experiência da vida que sempre vence. De repente um peregrino, aparentemente distraído, pois sinalizava não saber o que se tinha passado em Jerusalém naqueles dias, aproximou-se e entabulou uma conversa que logo ficaremos sabendo não era apenas agradável, mas “poderosa”. “Não ardia o nosso coração enquanto ele nos falava pelo caminho e nos ensinava as escrituras?” (Lc 24,32). Tanto olhavam para trás, já não se davam conta da vida atual. O peregrino - na verdade, o Ressuscitado! - se dá a conhecer quando à mesa na casa dos dois parte o pão.

Os olhos deles se abriram, como quando se desperta num dia ensolarado. Enxergaram com os olhos e com o coração a presença do ressuscitado. Era verdade! Tudo o que Ele dissera se cumpriu! Embora não tivéssemos condições emocionais e de fé para reconhecer o que as mulheres e alguns outros disseram. Ressuscitou. Apareceu. Reacendeu a nossa esperança. Despertou-nos do abismo da morte no qual também nós tínhamos descido com Ele. O coração foi iluminado pela Luz que veio fustigar toda treva, especialmente a do mundo que marchava em direção oposta e fora da comunhão com Deus. Os nossos olhos se abriram. Não podíamos mais ficar derrotados, distantes dos outros. Decidimos retomar o caminho para Jerusalém.

Charles Péguy descreve a segunda virtude teologal – esperança - como uma menininha que vai andando, sem ser notada, entre suas duas irmãs maiores, a fé e a caridade. Mas na realidade, é essa garotinha que arrasta tudo consigo. A esperança, diferente da fé e caridade, tem seus olhos voltados para aquilo que ainda não é, mas será. A esperança cristã oferece no “aqui e agora” o verdadeiro sentido para o caminho. A liberdade, a razão, o progresso, tudo isso pode alterar bem pouco a miséria deste mundo. Mas nós podemos realizar muito se, através da ressurreição de Jesus, a esperança na salvação permanecer viva em nós. (Padre Martin Barta)

Bento 16 apresenta na sua carta encíclica “Spe Salvi” (Salvos na Esperança) três lugares significativos de aprendizagem da esperança: a oração, a boa ação do homem, a compaixão e a capacidade de suportar o sofrimento. Assim, somos chamados a ser testemunhas da esperança. Pela nossa oração, pelas nossas boas ações e pela nossa compaixão, queremos ser uma fonte de esperança pascal para todos os que são atingidos pela necessidade e pela dor. “Não é raro, no mundo moderno, nos sentirmos derrotados. Mas a aventura da esperança nos leva além. Um dia eu encontrei escrito sob um calendário estas palavras: “O mundo é de quem o ama e sabe melhor dar prova disso”. Quanto são verdadeiras estas palavras! No coração de cada pessoa existe uma infinita sede de amor e nós, com o amor que Deus infundiu nos nossos corações, podemos saciá-la” (Cardeal Van Thuân). Seja bom o seu dia e abençoada (e cheia de esperança) a sua vida. Pax!!!

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