O toque entre as pessoas cada vez diminui mais. A sensibilidade em perceber, abraçar, agradar, olhar nos olhos, observar o semblante triste ou alegre, enfim, está desaparecendo. Sabemos muito bem e muito, tocar nosso celular. Enviar mensagens, fazer selfie, focar nas “curtidas”, ser curtido, trocar vídeos, compartilhar reflexões, viralizou. Compartilhamos bem vídeos de autoajuda, textos e frases. Tocar o coração das pessoas e chegar próximo, bem pertinho na intimidade, está entrando em extinção. O toque está escasso e o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) aumenta a cada dia.
“Lavo infinitas vezes minhas mãos por ter tocado no corrimão da escada, sei que muitas mãos tocaram ali e eu fui contaminado”. “Não consigo ser tocada, tenho nojo do esperma do meu marido, tenho que me lavar uma infinidade de vezes e acabo ferindo-me”. “Não consigo tempo para brincar ou tocar no meu filho, preciso higienizar minha casa e levo o dia todo e não dá tempo para brincar”. “Por favor, não posso dar-te minha mão ao te cumprimentar, não conseguirei parar de lava-la, tenho TOC”. “Todos, ao adentrar a minha casa, devem prender os cabelos, não sei viver com cabelos espalhados ao ar”. “O ar que respiro está contaminado, tudo está contaminado, dentro de mim também”. “Preciso, antes de sair de casa, deixar tudo no lugar, limpar tudo, sinto que tudo esta desorganizado, mas quando vou sair o dia já foi”.
Quanto mais toque (emocional) menos TOC. Toque, o que é isso? Tocar. Tocar a alma, desmoronar, chorar de emoção, deixar as lagrimas brotarem. Alguém esses dias me disse: “Não posso falar o que realmente gostaria, pois não posso chorar. Coloquei lentes nos olhos para curar cataratas e disseram que o choro podem estraga-las. Vamos conversar sobre sofá, preciso comprar um”.
Toque, toque um violão, piano, guitarra, rosto do filho, esposa, esposo, mãe ou pai. Toque uma música, uma taça de vinho, encha as unhas de terra, arrumando seu jardim, adubando. Encha a cabeça de ideias em como ficar bem, sem nada fazer. Fique bem sem compulsão-ação. Fique bem sem obsessão-ideias que ficam ruminando e comandando nossas ações. O TOC faz um serviço alternativo de impermeabilização de nosso universo psíquico. A civilização transforma-se gradativamente numa selva de pedra, evitando que a água da chuva adentre os lençóis freáticos ou aquíferos, impermeabilizando com cimento o mundo. O alagamento vem tornando-se inevitável.
Também estamos nos “cimentando” todos, para não deixar que a emoção entre ou saia. Claro que não podemos controlar se queremos ou não ter TOC. Nossa forma de funcionamento mental ou psíquico nos diferenciam uns dos outros. Cada caso é um caso. Não podemos generalizar. Eu não posso escolher ou não ter TOC, mas posso escolher controla-lo. Submetê-lo a si mesmo e não ficar submetido a ele. Busque ajuda de especialistas. Poderá inicialmente necessitar de uma ajuda multidisciplinar como psiquiatra, psicanalista, ou psicoterapeuta. É preciso tocar, tocar a si mesmo e tocar o outro. Diga não ao TOC.
