Sobre viver hoje

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 06/01/2019
Horário 06:00

“Tempo é Dinheiro” diz o famoso refrão “Time is Money”. A sociedade nos fez produzir e aproveitar o tempo. Depois do “Tempus Fugit” temos o “Carpe Diem”, ambos da língua latina. A vida é passageira. A experiência que fazemos do tempo nem sempre é a melhor, amistosa e exitosa. Ele passa para mim, para os outros, para todos... Ajustarmo-nos a ele talvez seja o melhor caminho para sairmos dessa cansativa maratona existencial na qual estamos. Alguns que ainda correm para produzir dinheiro, quase sempre o gastam tentando comprar a saúde perdida na busca.

Condicionados, treinados, estimulados... reproduzimos irrefletidamente comportamentos que nalgum momento criticávamos. A roda da vida gira e traga. Há gente que produz (e muito). Mas não é, não vive, não se reconhece. Vive no daqui a pouco. Na expectativa. Não sabe celebrar, comemorar a vitória, pisar o pé na terra e conectar-se com a energia vital. Claro que também não sabe olhar para dentro nem para o alto, não cultiva o desejo do céu – a plenitude feliz da existência – e vive aterrado no chão. O ser humano desumaniza-se ao mesmo tempo que humaniza animais e desenvolve inteligência artificial. Já foi dito que o homem chegou à lua, mas ainda não chegou ao profundo de si.

Há tanta gente se queixando da falta de tempo. Quando tem algum, não sabe o que fazer com ele e, então, se enche de mais coisas. E corre, corre, corre... Ninguém em nenhuma área de atuação está isento de entrar no olho desse furacão. Mesmo líderes religiosos podem viver de fazer coisas/eventos como que a tapear a dificuldade do silêncio contemplativo, daquele que o faz voltar-se para si e não se projetar além. Há orações religiosas tão cheias de palavras que parecem camuflar o vazio. Não há escuta nem diálogo.

Quanto a mim, a incapacidade de não-acumular desperta-me o desejo minimalista de ser [falo do desejo, não da prática]. Sei que conseguirei – que nenhum terapeuta me leia –, embora não seja fácil sequer começar. Roupas, livros, calçados, apetrechos de asseio pessoal e móveis. Fui treinado a viver cercado de coisas. Tento com relativo êxito viver não aprisionado ao que tenho. Em boa medida estou no comando, com recaídas e derrotas. Ok. Talvez por preguiça “genética” não aspiro ao corpo “sarado”, nem a viver enfurnado na academia de ginástica. Por saúde, entretanto, preciso cuidar-me. Só.

Ao ler filósofos, historiadores, sociólogos, poetas e teólogos, sinto-me pequeno demais. Há lampejos de vida em lugares que já não acredito mais. Embora, anuncie o evangelho, propague a boa nova de Jesus e viva de fé e esperança, o mundo tenta sufocar o trigo do amor e da vida. Cada pessoa, mesmo aquela desprovida dos bancos escolares e das letras professorais, me traz vida ou com o seu sofrimento compartilhado, ou com a sua queixa circunstanciada, ou com a busca de sentido para o que é e vive. De vez em quando, trombo com ideias que em vidas alheias a vida nega.

Às vezes, pensamos ter tempo para todas as coisas pretendidas. Fazemos planos, cálculos... sem contar com o imponderável e as surpresas existenciais (que sempre se manifestam!). Imaginamos, já-já, experimentaremos a alegria pretendida, o melhor momento da vida, o direito ao ócio e ao usufruto das conquistas do suor diário. Mas, não. O que imaginávamos fosse acontecer já aconteceu. Passou. Nem percebemos, pois estávamos ocupados a preparar o futuro. Agora, passou, passado. De todo modo, nos expomos. Cada passo dado todos assistem. Ufa! Estamos no centro. Likes alheios nos garantem: existimos! Seja bom o seu dia (o seu ano) e abençoada a sua vida. Pax!!!

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