Sobre os 60 anos da FCT/Unesp

OPINIÃO - Jayro Melo

Data 02/06/2019
Horário 05:50

A FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista), a rigor, completa 43 anos. Os 60 anos a que se referem as comemorações neste ano, têm no início a criação da FFCLPP (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente). A Unesp nasceu da iniciativa de um grupo de gestores das faculdades estaduais existentes no Estado de São Paulo no âmbito da Guerra Fria e, ipso facto, da ditadura civil-militar no Brasil.

A FFCLPP, que tinha sido criada em 1959 no contexto de pressões populares locais, quase é extinta por luminares da gestão pública sediados na capital do estado. Departamentos e cursos foram extintos, professores demitidos ou remanejados para outros campi, publicações de docentes interrompidas. Graças à resistência de cidadãos locais (professores, estudantes, funcionários e alguns políticos favoráveis a investimentos públicos no ensino superior), a unidade, embora fraturada, manteve seus serviços nas áreas de conhecimento que restaram. Hoje, superadas as mazelas e os prejuízos de origem, a FCT/Unesp está consolidada e projeta-se em nível internacional.

O grande mérito da FCT/Unesp é ser o locus de pesquisas em várias frentes. O ensino decorre de investigações científicas de docentes doutores em regime de dedicação integral. Estudantes são iniciados no metier científico e estimulados a prosseguir os estudos em programas de pós-graduação. Muitos deles são, hoje, docentes em universidades públicas e privadas pelo país afora.

Não obstante os percalços na história da FCT/Unesp, eu não poderia deixar de dizer o quanto foi significativa a vivência nessa instituição no processo de minha formação intelectual e profissional.

Comecei minha carreira em 1972 como “auxiliar de ensino” no “Departamento de Ciências Sociais”, hoje inexistente. Havia terminado o curso de História na FFCL de Assis, também campus da Unesp na atualidade.

Durante os anos iniciais, fui incentivado pelo professor Dióres Santos Abreu, então chefe do departamento, a assistir aulas de francês na “Aliança Francesa” e concorrer a uma vaga na pós-graduação em “História Social” da FFLCH/USP. Foi assim que me tornei mestre, com a dissertação “A obra de João Capistrano de Abreu: um estudo”; doutor, com a tese “O nacional em Caio Prado Júnior” e Livre-Docente pela Unesp com a tese “História e práxis: do imediato ao concreto”.

De outro lado, a dinâmica da interação com os estudantes no processo de ensino convidava-me a prosseguir com entusiasmo o aprofundamento nos estudos, sobretudo no campo da reflexão teórica relativa ao metier do historiador e dos cientistas sociais em geral. Aposentado, continuo a ler, refletir e escrever sobre a condição humana e o fluir da história. Por essa razão, sinto-me plenamente vivo. Devo, pois, o que sou, em grande parte, à instituição que me acolheu, aos alunos que me animaram a prosseguir na docência, aos colegas e funcionários que me apoiaram, enfim, à FCT/Unesp.

Comemorar o aniversário de uma instituição universitária como essa é dizer que ela é dinâmica, que se transforma constantemente para atender a demandas da sociedade que a produz e sustenta. E tal sociedade é amplificada em sua busca incessante do universal, da compreensão do humano em sua trajetória de constante superação dos limites do homo sapiens. Isto posto, é lamentável a conduta de governantes do Estado brasileiro que, nos últimos tempos, têm desmantelado a economia, fazendo encolher os recursos destinados à pesquisa e ao ensino público no país. Tem-se ignorado sistematicamente a importância da ciência, da tecnologia e da difusão de conhecimento, como se nada disso fosse necessário para uma nação que se pretende emergente no quadro geopolítico internacional.

Publicidade

Veja também