Sobre o ofício de escrever

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 05/05/2019
Horário 05:30

No rádio, a interatividade é intensa e veloz; o feedback é imediato. Embora sem ver expressões (caras&bocas), a imaginação e a intimidade dão-se em alta medida. Fiz essa experiência por longa data. Pela internet, com textos em blogs ou sites, há interatividade, mas há muito de anonimato e destempero entre as partes. Nem sempre é possível de fato constatar a saudável reação dos leitores. No jornal impresso, também é ‘estranho’. Quando escrevo, não faço ideia de quem terá em suas mãos esta crônica. Claro que de vez em quando alguém me diz (pessoalmente ou por e-mail) que lê regularmente, comenta, agradece, questiona, sugere.

Uma leitora recortava do jornal o meu texto e guardava tudo. Outra, levava para a sala de aula a fim de debater os conteúdos (quando não especificamente religiosos). De todo modo, ouvi e li escritores renomados dizerem ter criado personagens fictícios e escreviam para aquela pessoa imaginária, tentando se fazer entender, estabelecer um vínculo, emular argumentos... outros, entretanto, apenas deixam fluir as palavras e os sentimentos. É tão diferente de quando estamos frente a frente proseando sobre assuntos quaisquer. Também de quando palestro ou presido com a comunidade uma celebração litúrgica; vejo as reações enquanto escutam; veem minhas reações enquanto falo.

Há dias que me deixo questionar por leitura momentânea ou assunto quotidiano. Outras vezes me frustro ao pautar imaginativamente assuntos dos quais fiquei devendo numa conversa ou mesmo num comentário de rede social. O leque expande, as nuanças do assunto se manifestam... fico efetivamente mobilizado, mas o tempo foge, não consigo pesquisar ou amadurecer a ideia... a oportunidade passa. E são tantos os temas, como: sentido, morte, vida, suicídio, sofrimento, cuidado, amor, rejeição, fé, Deus, doutrina, ideologias, verdade, política, preconceitos, violência, educação, perdas, ambição, cultura, tecnologia, proselitismo, medo, casamento, filhos, paternidade/maternidade, vida adulta, terceira idade, virtudes, relacionamentos, vacinas, pesquisas, filosofia, teologia, inteligência artificial, bioética, igreja etc.

Também testo estilos na escrita. Ora mais coloquial, ora mais duro e quase erudito. Deixo-me influenciar (como acredito aconteça com toda e qualquer pessoa) por quem gosto e leio. Nas minhas leituras, converso com o autor ou silencio diante da argumentação que me toca mais a fundo. Nem sempre oferto olores, suavidade, doçura. Há dias de amargura, realismo (pessimista), mais do mesmo. Por exemplo, na posse do atual ministro da educação, o presidente pediu-lhe que ajudasse a formar uma geração de estudantes que não se interessasse por política (sim, isso mesmo que você leu!). Na formatura de diplomatas, sua excelência disse que quando cessa a saliva, resta a pólvora (sim, isso mesmo que você leu!).

Algumas poucas experiências vividas me permitem oscilar como discorri. Sinto que a minha opção fundamental é pela vida, sua defesa e promoção. Não me satisfazer com as turbas nem encantar plateias, mas ajudar no despertar das consciências. Oferecer perguntas, questionar, não parar nas respostas. Caminhar, não raro, na contramão das audiências. Ainda mais hoje em dia, não me deixar levar pela quantidade de curtidas ou de seguidores. Não adestrar a claque para que incense o que eu acredito seja a verdade, mas caminhar mesmo a duras penas à procura... Obrigado pela leitura desta página, hoje, confidencial. Não tivesse você a ler, nada valeria escrever.

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

 

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