Sobre a vida espiritual

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 16/07/2018
Horário 09:16

Dia desses (2 de junho) tratei da obrigação de consciência que leva uma pessoa a agir moralmente em favor de outrem. Exemplificava o “Homem-Aranha francês”, o migrante do Mali que em terras francesas escalou um pequeno prédio (quatro andares) para socorrer uma criança dependurada. “Fiz o que tinha que fazer”, disse Mamoudou Gassama após ter sido recebido pelo presidente francês Emmanuel Macron.

A semana passou com o resgate do time de adolescentes e do seu treinador presos numa caverna na Tailândia. Percebi pelas redes sociais e conversas pessoais o quanto as pessoas estavam mobilizadas e torcendo pelo resgate de todos. Excetuando um mergulhador em trabalhos preliminares, os treze foram salvos. Nós, humanos, nos sentimos tocados por essas histórias. Fosse-me permitido compartilhar as do confessionário, garanto, haveria uma contínua e extensa pauta para sentir a humanidade correndo em nossas veias e desafiando a nossa capacidade de compreender os mistérios da existência.

Gostaria de dizer, hoje, algumas ideias-palavras sobre a vida espiritual. Quando somos feridos e nos sentimos injustiçados a dor é ampliada. Sentimo-nos destruídos, traídos, abandonados... Quem ousou viver uma vida espiritual –isto é, uma vida pautada pelo Evangelho de Jesus Cristo, anunciado pela Santa Igreja– deveria dar-se conta das suas próprias feridas, sobretudo, reconhecendo nelas quais os seus frutos: amor, desamor, revolta, mágoa ou bênção. Tudo o que recebemos na vida devemos transformar em grandes bênçãos –ao que, de pronto, nem sempre estamos capacitados.

Contemplando Jesus Cristo crucificado, chagado, compreenderemos que a sua resposta à violência foi amor; ao desamor, respondeu com amor; à morte, com vida. E nós, como temos correspondido às nossas feridas e aos que as provocaram? Não seremos mais vítimas dos outros à medida que conseguirmos nos desprender de nós mesmos ao ponto de amar e rezar por quem nos feriu. Usando sobretudo o unguento do amor que cura toda chaga. Crer, confiar e viver em esperança são verbos que ajudam o amor. É da partilha daqueles que já iniciaram o processo e pela vida (humana e espiritual) amadureceram que outros podemos trilhar com menos insegurança (ou com mais segurança) o caminho. Um caminho, diga-se, de alegria, virtude, bondade, fraternidade, construção, encontro, partilha, vida... e seus contrários.

Citado amiúde, o Papa Francisco denuncia ao mundo a globalização da indiferença. Gente que chora com a queda da bolsa de valores e com o aumento da moeda estrangeira, mas não se sensibiliza com os moradores em situação de rua pelas metrópoles do mundo –aqui no Pontal do Paranapanema os temos em quantidade suficiente para não serem ignorados–. Todo modo, se nos dispomos a trilhar um caminho verdadeiramente espiritual, devemos nos aventurar pelas sendas da justiça e da verdade, não renunciando ao trabalho nem nos furtando de assumir com coragem o cuidado total pela vida total.

Uma das grandes incoerências do mundo atualmente foi flagrada na Copa do Mundo da Rússia. Países europeus, explicitamente contrários aos migrantes, tinham em suas seleções futebolísticas muitos migrantes (ou filhos de). Nosso país também é formado em grande parte por gente vinda de outras plagas. A miscigenação da nossa gente revela (ou denuncia) a abertura (sem considerarmos, neste momento, os interesses de lá e de cá) das fronteiras para outras nações. Soa ou não soa estranho, os povos formados por gente de variados lugares fecharem suas fronteiras? Pessoas ou números? Semelhantes ou problemas? Nós que tanto nos emocionamos com histórias de superação e de sofrimento vencido, como enxergamos os pobres e excluídos do grande banquete da vida? Feita de verniz ou de sinceridade a nossa vida espiritual?

 

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

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