Serenidade, por favor

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 09/09/2018
Horário 04:00

As instituições e a sociedade civil não estão funcionando normalmente. A democracia brasileira corre riscos permanentes. A faca desferida contra o deputado e candidato à presidência da república feriu a democracia. Quem semeia vento, colhe tempestade. O discurso agressivo (ainda que metafórico) numa sociedade polarizada despertaria o horror. A figura da autoridade pública está desacreditada. Os poderes da República não se deram conta da profunda crise pela qual passa o país. Essas são apenas amostras das muitas frases cometidas esses dias após o incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro e o ataque sofrido por Jair Bolsonaro em ato de campanha na cidade de Juiz de Fora (MG).

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o filósofo Roberto Romano constata “as instituições de Estado e da sociedade civil não estão agindo normalmente. Com isso, temos a perda radical da autoridade pública. E democracia sem autoridade pública não funciona. Quando não há autoridade, a violência física e a violência verbal se imiscuem em todos os assuntos da sociedade e do poder público. E então temos resultados como esse (o ataque)”. Romano sugere que “se não tivermos uma ação rápida para resolver esses problemas, evidentemente vamos caminhar para um fim trágico”, e aponta, “quando o próprio Jair Bolsonaro, no Acre, usou uma frase no sentido de “metralhar seus adversários”, a Procuradoria-Geral da República não tomou providências. Esse é um ponto. Ela (Raquel Dodge) achou que era um assunto menor e isso mostra o quanto estamos longe de perceber a gravidade da crise social e política brasileira.”

De algum modo, o próprio candidato-vítima da violência percebeu (tarde?) o conflagrado clima que nos circunda. “O general Hamilton Mourão disse, em entrevista à GloboNews, que o objetivo da campanha é para que os militantes moderem o tom. O pedido, disse o candidato a vice, foi feito pelo próprio presidenciável do PSL. ‘Bolsonaro me ligou e disse que vamos moderar o tom, me pediu para não exacerbar essa questão que está ocorrendo. Nós vamos governar para todo o Brasil. Sem união a gente não chega a lugar nenhum, ter confronto nesse momento não vai ajudar a ninguém e é péssimo para o país’... ‘A gente não tem condições de controlar 100% a militância, mas estamos falando para o pessoal raciocinar e abaixar o tom nesse momento. Nosso foco é propagar as ideias de Bolsonaro e reduzir as tensões’.” (OAntagonista).

Serenidade parece virtude escassa na prateleira nacional. O fla-flu –que tantas vezes comentei aqui– está saindo das arquibancadas (no caso, das redes sociais) para as ruas. Um movimento truculento, incapaz de dialogar, intolerante e inabilitado ao debate vai descambar em mais violência e o futuro do país terminará decidido pelo imponderável e em circunstâncias irracionais/emocionais. Quem tem estômago, tempo e paciência poderá navegar pelos muitos sites noticiosos e ler comentários e postagens eivadas de ódio, sarcasmo e teorias conspiratórias. Sobejam essas teorias. Espero que o seu excesso gere desencanto por elas.

A pressa com que os detetives de internet se movem é assaz grande e deletéria. Para o jornalista Pedro Doria “a internet brasileira se entregou e tentou decifrar politicamente o homem que esfaqueou Bolsonaro. Aparentemente ligado à esquerda, uma passada de olhos por seu Facebook revela um discurso no qual as peças mal se encaixam de tão incoerentes. Seu crime talvez não seja político.” Meia esquerda dizendo que o atentado é ficção. Meia direita querendo enxergar uma grande conspiração. Enquanto isso, os fatos vão aparecendo devagarinho. Seria muito pedir um pouco de serenidade, por favor?

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

 

Publicidade

Veja também