Para quem lida com a agricultura, quando chove muito ou pouco pode ser prejudicial às plantações. O tempo seco de 2018 que assolou alguns pontos do país já começa a produzir efeitos negativos ao ramo. Na região de Presidente Prudente, por exemplo, a falta de precipitações tem tudo para fomentar o uso da cana-de-açúcar para a forragem, que é para a alimentação animal. Pelo menos essa é previsão do IEA (Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo). Na segunda estimativa do órgão, divulgada na última semana, a intenção da safra agrícola 2017/2018 é produzir 109.997 hectares a mais do produto, se comparado com a primeira estimativa, liberada no início do ano. Foi de 11.937 para 121.934 hectares. Para quem entende do assunto, a preocupação, em resumo, está atrelada à alimentação animal com qualidade.
O engenheiro agrônomo e diretor técnico do EDR (Escritório de Desenvolvimento Rural) de Prudente, Marco Aurélio Fernandes, é quem confirma essa atribuição do uso da cana para forragem, por conta da seca. “Com baixa quantidade de precipitação esse ano, o incentivo para a utilização da produção dessa forma, é grande. O agricultor já pensa no futuro do seu gado. Faltou agora, então tem que plantar, porque ele já está se preparando para o próximo inverno”, explica. Aliás, a capital da Alta Sorocabana, como pode ser visto na tabela, foi a principal região analisada que mais possui o crescimento do uso da cana para forragem, pensando em uma estimativa para outra.
Apesar do destaque, outras culturas também estimam uma produção mais baixa, nessa segunda previsão, como o próprio milho. Tal cultura, segundo Marco Aurélio, é plantada em fevereiro, e a colheita ocorre agora, entre meados de junho e julho. Ainda de acordo com ele, o que antes estimava uma boa safra, hoje, a realidade é negativa. “O déficit hídrico fomentou isso”, pontua.
Francisco José Ferreira que o diga. Pecuarista, ele confirma essa situação da seca e os prejuízos enfrentados. Com fazendas em Sandovalina e Estrela do Norte, não deixa de dizer que a situação está difícil. “No começo da lavoura, o milho brilhava em campo, estava uma beleza. Aí veio o tempo seco e a queda chegou entre 30% e 50%. A safrinha do milho, que era para ser grande, agora vai ser apenas regular”, expõe. Ele ainda brinca que, mesmo sem chuva, “teve um banho de água fria”.
No que tange a utilização da cana como forragem, ele ainda não considera a utilização, mas ressalta que se a seca continuar, o futuro poderá ser algo parecido. Sem um pasto de boa qualidade, “não fertilizado” pela chuva, a manutenção do gado para corte, isto é, a alimentação dele, fica complicada, lamenta Francisco. “O agricultor tem sido um grande sofredor”, afirma.
Cabe lembrar que, como noticiado por este diário, se analisado separadamente, a cana-de-açúcar destinada à forragem faz com que a região seja a primeira do Estado, no quesito área de corte, e a segunda melhor em produção, perdendo apenas para a região de São José do Rio Preto (SP).
O que também não pode deixar de ser dito é que, num todo, a estimativa de produção agrícola na região, incluindo os três EDRs (Dracena, Prudente e Venceslau) aumentou, mesmo que não exorbitantemente, de 657.989 hectares para 661.487 ha. Nessa análise, todas as culturas estão inclusas.
Contramão
Em Presidente Venceslau, a previsão do uso da cana para forragem diminuiu, de uma estimativa para outra, indo na contramão. Porém, o engenheiro agrônomo do EDR de lá, Tácito Garcia Scorza, explica que a percepção para a cultura da cana-de-açúcar, na verdade, “é que diminuiu a área plantada em municípios mais distantes” da Usina UCP (Usina Conquista do Pontal), em Mirante do Paranapanema.
Mas, por outro lado, ele destaca o aumento do cultivo da mandioca para indústria, principalmente em “Mirante do Paranapanema, Euclides da Cunha Paulista e Rosana”.
SAIBA MAIS
A título de curiosidade, a seca ou a falta de precipitação também pode ser comprovada em número. Conforme o Climatempo, com base em dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), na região de Presidente Prudente a quantidade de chuva chegou a 570,4 milímetros no primeiro semestre. Nesse mesmo período, mas no ano passado, foram 726,6 milímetros.
Previsões e estimativas das safras agrícolas por EDR 2017/2018 (em hectares) |
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Produtos |
Dracena |
Presidente Prudente |
Presidente Venceslau |
2ª Estimativa 2017/2018 |
1ª Estimativa 2017/2018 |
Algodão |
4 |
422 |
400 |
826 |
806 |
Amendoim da seca |
100 |
73 |
250 |
423 |
103 |
Amendoim das águas |
5.003 |
14.281 |
645 |
19.929 |
18.824 |
Arroz de sequeiro e várzea |
0 |
2 |
0 |
2 |
2.502 |
Arroz irrigado |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
Banana |
288 |
62 |
94 |
444 |
516 |
Café |
2.656 |
700 |
43 |
3.399 |
3.525 |
Cana para indústria |
150.392 |
263.179 |
6.510 |
420.081 |
522.122 |
Cana para forragem |
2.280 |
117.787 |
1.867 |
121.934 |
11.937 |
Feijão da seca |
489 |
108 |
336 |
933 |
843 |
Mandioca para indústria |
102 |
3.281 |
2.962 |
6.345 |
5.611 |
Mandioca para a mesa |
158 |
309 |
665 |
1.132 |
1.024 |
Milho |
3.087 |
7.829 |
3.950 |
14.866 |
22.399 |
Milho irrigado |
1 |
805 |
100 |
906 |
101 |
Soja |
732 |
58.460 |
7.292 |
66.484 |
64.144 |
Soja irrigada |
0 |
2.205 |
1.287 |
3.492 |
3.187 |
Tomate envarado (mesa) |
36 |
50 |
6 |
92 |
104 |
Tomate rasteiro (indústria) |
102 |
92 |
5 |
199 |
241 |
Total |
165.430 |
469.645 |
26.412 |
661.487 |
657.989 |
Fonte: IEA