Seca fomenta produção de cana para forragem na região

Modalidade utilizada para alimentação do gado promete ser maior na safra de 2017/2018; 100 mil hectares a mais são previstos

REGIÃO - THIAGO MORELLO

Data 07/07/2018
Horário 04:01
Arquivo - Estimativa do IEA é que 121.934 hectares de cana sejam para forragem na safra 2017/2018
Arquivo - Estimativa do IEA é que 121.934 hectares de cana sejam para forragem na safra 2017/2018

Para quem lida com a agricultura, quando chove muito ou pouco pode ser prejudicial às plantações. O tempo seco de 2018 que assolou alguns pontos do país já começa a produzir efeitos negativos ao ramo. Na região de Presidente Prudente, por exemplo, a falta de precipitações tem tudo para fomentar o uso da cana-de-açúcar para a forragem, que é para a alimentação animal. Pelo menos essa é previsão do IEA (Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo). Na segunda estimativa do órgão, divulgada na última semana, a intenção da safra agrícola 2017/2018 é produzir 109.997 hectares a mais do produto, se comparado com a primeira estimativa, liberada no início do ano. Foi de 11.937 para 121.934 hectares. Para quem entende do assunto, a preocupação, em resumo, está atrelada à alimentação animal com qualidade.

O engenheiro agrônomo e diretor técnico do EDR (Escritório de Desenvolvimento Rural) de Prudente, Marco Aurélio Fernandes, é quem confirma essa atribuição do uso da cana para forragem, por conta da seca. “Com baixa quantidade de precipitação esse ano, o incentivo para a utilização da produção dessa forma, é grande. O agricultor já pensa no futuro do seu gado. Faltou agora, então tem que plantar, porque ele já está se preparando para o próximo inverno”, explica. Aliás, a capital da Alta Sorocabana, como pode ser visto na tabela, foi a principal região analisada que mais possui o crescimento do uso da cana para forragem, pensando em uma estimativa para outra.

Apesar do destaque, outras culturas também estimam uma produção mais baixa, nessa segunda previsão, como o próprio milho. Tal cultura, segundo Marco Aurélio, é plantada em fevereiro, e a colheita ocorre agora, entre meados de junho e julho. Ainda de acordo com ele, o que antes estimava uma boa safra, hoje, a realidade é negativa. “O déficit hídrico fomentou isso”, pontua.

Francisco José Ferreira que o diga. Pecuarista, ele confirma essa situação da seca e os prejuízos enfrentados. Com fazendas em Sandovalina e Estrela do Norte, não deixa de dizer que a situação está difícil. “No começo da lavoura, o milho brilhava em campo, estava uma beleza. Aí veio o tempo seco e a queda chegou entre 30% e 50%. A safrinha do milho, que era para ser grande, agora vai ser apenas regular”, expõe. Ele ainda brinca que, mesmo sem chuva, “teve um banho de água fria”.

No que tange a utilização da cana como forragem, ele ainda não considera a utilização, mas ressalta que se a seca continuar, o futuro poderá ser algo parecido. Sem um pasto de boa qualidade, “não fertilizado” pela chuva, a manutenção do gado para corte, isto é, a alimentação dele, fica complicada, lamenta Francisco. “O agricultor tem sido um grande sofredor”, afirma.

Cabe lembrar que, como noticiado por este diário, se analisado separadamente, a cana-de-açúcar destinada à forragem faz com que a região seja a primeira do Estado, no quesito área de corte, e a segunda melhor em produção, perdendo apenas para a região de São José do Rio Preto (SP).

O que também não pode deixar de ser dito é que, num todo, a estimativa de produção agrícola na região, incluindo os três EDRs (Dracena, Prudente e Venceslau) aumentou, mesmo que não exorbitantemente, de 657.989 hectares para 661.487 ha. Nessa análise, todas as culturas estão inclusas.

Contramão

Em Presidente Venceslau, a previsão do uso da cana para forragem diminuiu, de uma estimativa para outra, indo na contramão. Porém, o engenheiro agrônomo do EDR de lá, Tácito Garcia Scorza, explica que a percepção para a cultura da cana-de-açúcar, na verdade, “é que diminuiu a área plantada em municípios mais distantes” da Usina UCP (Usina Conquista do Pontal), em Mirante do Paranapanema.

Mas, por outro lado, ele destaca o aumento do cultivo da mandioca para indústria, principalmente em “Mirante do Paranapanema, Euclides da Cunha Paulista e Rosana”.

SAIBA MAIS

A título de curiosidade, a seca ou a falta de precipitação também pode ser comprovada em número. Conforme o Climatempo, com base em dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), na região de Presidente Prudente a quantidade de chuva chegou a 570,4 milímetros no primeiro semestre. Nesse mesmo período, mas no ano passado, foram 726,6 milímetros.

Previsões e estimativas das safras agrícolas por EDR 2017/2018 (em hectares)

   

Produtos

Dracena

Presidente Prudente

Presidente Venceslau

2ª Estimativa 2017/2018

1ª Estimativa 2017/2018

Algodão

4

422

400

826

806

Amendoim da seca

100

73

250

423

103

Amendoim das águas

5.003

14.281

645

19.929

18.824

Arroz de sequeiro e várzea

0

2

0

2

2.502

Arroz irrigado

0

0

0

0

0

Banana

288

62

94

444

516

Café

2.656

700

43

3.399

3.525

Cana para indústria

150.392

263.179

6.510

420.081

522.122

Cana para forragem

2.280

117.787

1.867

121.934

11.937

Feijão da seca

489

108

336

933

843

Mandioca para indústria

102

3.281

2.962

6.345

5.611

Mandioca para a mesa

158

309

665

1.132

1.024

Milho

3.087

7.829

3.950

14.866

22.399

Milho irrigado

1

805

100

906

101

Soja

732

58.460

7.292

66.484

64.144

Soja irrigada

0

2.205

1.287

3.492

3.187

Tomate envarado (mesa)

36

50

6

92

104

Tomate rasteiro (indústria)

102

92

5

199

241

Total

165.430

469.645

26.412

661.487

657.989

Fonte: IEA

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