Região atinge marca histórica em acidentes de trabalho

Casos nas cidades atendidas pelo Cerest, em 10 anos, aumentaram 300% e incluem exposição a material biológico e doenças mentais

REGIÃO - GABRIEL BUOSI

Data 24/04/2018
Horário 08:44
Jose Reis - Equipamento de Proteção Individual visa bem-estar do funcionário e segurança no trabalho
Jose Reis - Equipamento de Proteção Individual visa bem-estar do funcionário e segurança no trabalho

Os 45 municípios atendidos pelo Cerest (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador), de Presidente Prudente, registraram 76 acidentes de trabalho já no ano de 2018. A série histórica que analisa os adoecimentos na região, no entanto, em dez anos, apresenta um aumento em mais de 300% nos casos, que passaram de 210 em 2007 para 948 em 2017 – ano em que a região registrou a marca histórica de acidentes. Para a supervisora do Cerest, Meire Judai Barreto, os 76 casos deste ano podem ser considerados baixos, mas ela lembra que dentre os motivos está o “esquecimento” dos trabalhadores para com a saúde no fim e início do ano, já que o Brasil só funcionaria, de fato, após o carnaval.

Na série histórica (veja a tabela), 2017 é o ano que apresenta o maior número de acidentes de trabalho, seguido por 2011, com 878 casos e 2010, com 702. Conforme o Cerest, os números são equivalentes ao total de adoecimentos, que incluem acidentes graves, com exposição a material biológico, câncer relacionado ao trabalho, doenças mentais ou perda auditiva induzida por ruído. Ao comparar o período de dez anos, o aumento entre 2007 e 2017 é de 351,42%.

“Atribuo o aumento nos dados ao trabalho que fazemos aqui no Cerest. Iniciamos em 2006 e, por isso, os números em 2007 não eram tão expressivos. Não penso que aumentaram os adoecimentos, mas sim as notificações, pois os casos não apareciam”, afirma Meire. A supervisora lembra ainda que grande parte dos casos não chega ao Centro, visto que são muitos os “mascarados”.

Sobre os dados mais recentes, de 2018, a supervisora alerta ao fato de que no fim e início do ano, muitos trabalhadores, por férias ou falta de vontade mesmo, deixam de se preocupar com a saúde e não procuram o órgão responsável por realizar a notificação de doenças. “É um dado positivo e baixo, mas daqui para frente tendem a aumentar”. Os dados apresentados até aqui foram computados até o dia 20 de abril. Vale lembrar que o Cerest, conforme Meire, objetiva apoiar o funcionário, uma vez que proporciona, por exemplo, acompanhamento de doenças e diagnósticos, exames anuais, acompanhamentos a unidades de saúde e atendimentos com psicólogas e fisioterapeutas. 

 

Segurança no trabalho

A Staner Audioamerica, de Regente Feijó, é uma das empresas que, além do cumprimento da lei, afirma se preocupar com a saúde dos cerca de 130 trabalhadores do local. Conforme o técnico em segurança do trabalho do estabelecimento, Paulo Manfredine, cada setor possui um tipo de EPI (Equipamento de Proteção Individual), sendo que todos eles têm em comum apenas o protetor auricular. “Cada setor terá o seu equipamento indicado. Na pintura, por exemplo, os funcionários precisam estar munidos de máscaras, luvas e protetores auriculares, bem como na marcenaria, que conta também com uma máscara especial contra poeiras”, informa.

Paulo informa que o EPI em comum para todos os setores se dá pela quantidade de máquinas existentes na empresa e que funcionam de uma só vez. Para o técnico, a importância do uso, além da obrigação, se dá pela necessidade de se pensar em saúde no ambiente no trabalho, sendo que na empresa, treinamentos e ações especiais já foram realizados para o entendimento da necessidade do uso dos equipamentos. “Vejo que hoje os trabalhadores não precisam mais ser cobrados, eles entendem a necessidade de se protegerem de doenças ocupacionais”. Caso não utilize o EPI, o colaborador é chamado para uma advertência verbal. Se reincidente, ele pode receber uma advertência por escrito, bem como levar uma advertência e perder um dia de trabalho.

Já a Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), que conta com cerca de 2 mil funcionários diretos, pensando justamente na saúde daqueles que estiverem em suas propriedades, criou um ramal no telefone interno para emergências, que serve como um diferencial para o atendimento e garante um serviço rápido em casos de urgência. “Se ocorrer algo com alunos, funcionários ou visitantes, uma equipe responsável pela medicina do trabalho será acionada e prestará o atendimento, que ocorre nos dois campis da universidade”, informa o engenheiro de segurança do trabalho, Paulo Henrique Teixeira.

Paulo lembra que, assim como a Unoeste, todas as empresas devem se preocupar com o bem-estar do funcionário, para que todas as atividades possam ser realizadas sem nenhum prejuízo. O engenheiro lembra, com isso, que ao falar de segurança nas empresas é preciso que se analise os fatores de risco, que são: químicos; físicos - barulhos,  choques; biológicos, contato com sangue ou bactéria; e ergonômicos - cuidados com postura, por exemplo. “Na universidade temos setores que trabalham com todos os fatores de risco, por isso a necessidade de EPIs ou EPCs [Equipamentos de Proteção Coletiva]”. Dentre os setores, estão o da marcenaria, obras e laboratórios de análises e pesquisas.

 

SAIBA MAIS

Abril Verde é o nome que se dá ao mês voltado às conscientizações sobre os acidentes em locais de trabalho. O MPT (Ministério Público do Trabalho), por exemplo, lançou no início do mês uma campanha com a intenção de alertar sobre a importância da prevenção dos acidentes. Conforme o MPT, os gastos estimados com benefícios acidentários no país já ultrapassam R$ 1 bilhão no primeiro trimestre deste ano, entre os quais estão notificadas 585 vítimas fatais. O Ministério do Trabalho, com o mesmo objetivo, também lançou uma campanha de conscientização. Segundo a pasta, em 2017 foram concedidos 196.754 benefícios a trabalhadores que precisaram ser afastados das atividades profissionais por mais de 15 dias devido a algum problema de saúde ocasionado pelo trabalho.

Acidentes registrados pelo Cerest     
Ano     Acidentes de trabalho
2007    210
2008    292
2009    364
2010    702
2011    878
2012    697
2013    557
2014    628
2015    636
2016    649
2017    948
2018    76
Fonte: Cerest    

 

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