Reflexo de políticas desalinhadas recai sobre famílias sem-teto

EDITORIAL -

Data 21/10/2018
Horário 04:22

Há exatamente um ano, a reportagem deste periódico visitou as terras do Triângulo da Reversão, em Santo Anastácio, onde atualmente 10 famílias vivem às margens da ferrovia. O local já adquiriu características de um vilarejo, com casas erguidas de forma desordenada e até mesmo um poço artesiano de uso coletivo. Na época, as famílias invasoras não só lamentavam as condições precárias de moradia, como também a falta de iniciativa da Prefeitura em demonstrar interesse na cessão do imóvel, que é alvo de um processo judicial movido pela União. Isso porque, caso a administração municipal não tome todas as providências necessárias para a devida regularização, a SPU (Secretaria do Patrimônio da União) pretende recuperar o trecho.

Na edição de hoje, o assunto volta à baila, mas sem novidades. Conforme descrito na reportagem, embora a Prefeitura negue estar inerte em relação ao problema, o processo segue de forma morosa e o Ministério do Planejamento anuncia uma fiscalização nas próximas semanas para dar uma nova destinação à área. O conflito entre ambas as esferas demonstra, nesse contexto, uma falha de comunicação grave, uma vez que o objeto da discussão não é apenas a cessão da terra, como também a segurança das pessoas que ali residem. Não estamos falando apenas de uma porção de terra invadida de forma irregular, mas de mães e pais de família, crianças em idade escolar, pessoas que encontraram naquele lugar uma forma de ter um teto perante a ausência de políticas públicas que lhes amparem.

Há inúmeros fatores que justificam este cenário, como os de ordem social, econômica e política. Estas famílias chegam ao local por que não encontram oportunidades de emprego e, com isso, se veem impossibilitadas de pagar um aluguel. A alternativa, portanto, é construir uma casa irregular em um terreno que não é de sua propriedade e que lhe pode ser tirado a qualquer momento. Na sequência, há o desleixo da própria administradora dos trilhos com a faixa de domínio, tendo em vista que a ferrovia encontra-se desativada e sem manutenção. É preciso destacar ainda a falta de diálogo entre União e município, que poderiam trabalhar alinhados, pois um parece desconhecer as medidas que a outra vem tomando e vice-versa.

Os reféns deste imbróglio são seres-humanos, que se sentem ameaçados com uma eventual ordem de despejo e a possibilidade de ficarem desabrigados. De fato, são tempos difíceis para os sonhadores.

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